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sábado, dezembro 21, 2019

Úrsula, de Maria Firmina dos Reis.

Livro de Maria Firmina dos Reis, comprei no ano passado na Festa do Livro e sabia que talvez não gostasse tanto, porque é romance, daquele carregado nas tintas, mas a gente lê por saber quem é a autora e pela importância que ela tem na nossa vida. Lá vamos nós, lá fui eu ler o tal do livro.



Li a edição feita pela editora da UFMG, com prefácio falando e posfácio contando um pouco sobre a autora, além de documentos comprobatórios de sua condição à época em que viveu. Não temos foto de Maria Firmina, mas seu documento de identificação não deixa dúvida para termos a certeza de que é filha de um homem negro. 

A história é sobre Úrsula, mulher branca que cuida de sua mãe e de repente recebe à casa, trazido por um escravizado de nome Túlio, um homem branco que ele encontra desfalecido no caminho para a cidade. A história aí se desenrola, com direito à vingança, traição, ódio, morte e um romance daqueles de fazer o inventor de Capitu chorar junto.

Apesar de dizerem que Maria Firmina deu vida à personagens escravizados/as e os/as humanizou, a história não é sobre eles, como muitas poderiam gostar que fossem. De certo modo, pode ter parecido mais ousado ainda Maria Firmina ter escrito um romance com pessoas brancas sem ter nenhuma preocupação em explicar se poderia fazer aquilo ou não, por ser mulher e negra. Assim, para além de evocar sua coragem em humanizar personagens negras, imagino que falar sobre pessoas brancas como feitas de carne e dadas às todas as paixões, aquelas consideradas nobres e também as torpes. 

É isso, Maria Firmina. Obrigada por existir. Fiquei pensando que há bem pouco tempo tenho me apresentado como escritora. Acho que a primeira vez foi em São Paulo, para uma moça, ela carioca, estava lá para fazer o vestibular para medicina numa estadual. Ela e sua mãe, duas pessoas negras que acabaram indo no lançamento dos Cadernos Negros depois de termos nos conhecido no aeroporto em Guarulhos. Sou professora e escritora, eu disse, ou o contrário. Não lembro. Ela arregalou os olhos e disse "olha, que legal". Achei ótimo esse olho arregalado que dizia "que bom, eu também posso". 

Pois é, podemos. Disse Maria Firmina dos Reis e digo eu, Míghian Danae 

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