Linguagem.

Por isso que a língua é essa coisa maluca. Um amigo me contou uma historinha que achei massa. Ele disse que chegou numa lanchonete e disse

Me dá um misto quente com pão de queijo

(antes de continuar a ler, tente entender o pedido, para ver se você entende como o atendente ou como o meu amigo pediu)

E aí contou que o atendente entendeu uma coisa totalmente diferente do que ele pediu, mas, como ficou bom, ele comeu assim mesmo. 

Faço essa pergunta para algumas pessoas e é engraçado como cada pessoa responde coisas diferentes. 

Agora, vou dar o contexto. Esse moço é mineiro de Poços de Caldas. Disse-me que lá é bem comum as pessoas pedirem misto quente (pão com queijo e presunto) feito no pão de queijo. Entenderam? Botar o queijo e o presunto dentro do pão de queijo.

O atendente, moço recém-chegado de uma cidade do interior da Bahia, não sabia dessa prática, e aí pegou um misto quente (pão com queijo e presunto) e botou um pão de queijo dentro. Sim, dentro.

Quando ele me contou, eu fiquei sem entender, justamente porque pensei que poderiam ser várias coisas. Outras pessoas responderam-me que pensaram como o meu amigo mineiro, outras que pensaram que seria um misto quente e um pão de queijo separados. Ai fico pensando em quanto o como a gente ouve muda o nosso modo de ver, ler as coisas. Pense, essas pessoas que pensaram em duas coisa separadas (misto quente E pão de queijo) costumam "separar" mais as coisas (na vida, de um modo geral) do que o atendente que juntou tudo?

Parece simples, mas a gente leva muito da gente quando ouvimos uma resposta, uma pergunta, a gente "traduz", "interpreta" sempre a partir daquilo que temos como referência, cultural, histórica, social.

Lembrei disso hoje. Um moço respondeu que, quando me visse de novo, falaria comigo. Li rápido e não lembrava como ele tinha escrito, se

pode ser eu que fale com você

ou

pode ser que eu fale com você

É que um que no lugar (certo ou errado) muda tudo. Muda tudo.

Mas, o que realmente importa é que a gente vai se ver de novo.