Eu decidi não escrever mais sobre filmes, apenas postar os trailers dos filmes que eu vejo. Decidi fazer isso porque não acho que tenha capacidade (e às vezes não tenho saco) para falar sobre o filme, é preciso estudar sobre ele para não ser leviana, então eu não queria ter essa responsabilidade. Mas Waves precisa de algumas palavras.
O filme é lindo, mas não é. E porque? Porque é cinema, é arte mas me dói as escolhas feitas pelo diretor. Tem escolhas que a gente vem brigando há muito tempo para não ver mais, o homem negro violento e o homem branco que consegue reelaborar o que tem de tóxico e oferecer algo melhor para o mundo. Parece tão óbvio que a gente acha que não precisa mais dessa história; ao mesmo tempo, o filme relembra que não é novo para nós sobre ascensão social e embranquecimento, porque já nos disse Neusa Santos (1983), quando falava das nossas vicissitudes em "Tornar-se negro", não há saída. O que fazer?
Fiquei macambúzia, com sentimentos controversos. Como quando ouço Caetano Veloso cantando "eu sou neguinha" e assinando o manifesto contra cotas. Músicas lindas como "quando eu me encontrava preso" e coisas que ele fala completamente sem noção não combinam. Escritores que escrevem bem, como Jorge Amado ou Jorge Luis Borges, mas com conteúdos duvidosos.
Waves acaba sendo um filme perigoso, porque coloca o tema da raça sem falar de raça abertamente. É perigoso porque produz imagens lindas, mas reatualiza os modelos raciais que engessam a gente em lugares sociais específicos, de novo. De novo, mas de outro jeito, o que também é perigoso.
Há muitas coisas que eu poderia dizer, para detalhar mais o que me deixou tão atravessada. A menina branca namorada que é latina. A mãe negra que morre de overdose. O diretor e a produção parecem não ter esquecido nenhuma ponta solta e criaram um filme, no sentido cinematográfico da palavra, com recursos inovadores de câmera e roteiro (eu não sei nada de cinema, gente), lindíssimo e também muito perigoso, como todo perigo real.
E a imagem da menina negra não sai da minha cabeça, sentada lá, sozinha. Aquilo fala muito com as meninas negras, mas me preocupo como as alcançam. Ele, um menino branco, que também estava sozinho, chega e fala oi. Aquela cena me quebra por dentro, completamente.
Deixa quieto o resto todo do filme.
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