Eu descobri que a cidade onde eu moro há 49,9% de pessoas que se declaram pretas. P-R-E-T-A-S. O número de autodeclaradas negras é de 94%. Considerando que sempre é para mais, eu chutaria uns 96% ou 97%. Eu ando nas ruas e vejo.
No horário da academia, eu não tenho nenhuma colega que não seja negra. Quando eu sento na cafeteria, há sempre pessoas negras servindo e sendo servidas. Quando eu ano na rua, ver uma pessoa branca é realmente muito difícil. Há pessoas pardas - que até podem se considerar brancas na cidade, já que somos tão negros/as - sim, mas pessoas brancas, eu realmente não as vejo.
Sim, verdade, eu tenho uma vizinha branca. Tenho dois vizinhos, uma branca. Uma daquelas que estão entre o 5% de pessoas que se declaram brancas. Passamos muito tempo sem nos ver (nossas casas são longe uma da outra) e, muitas vezes, a gente só buzina uma para outra. E está tudo bem, pelo menos para mim.
Meu vizinho negro chega do trabalho e canta músicas de amor (eu sei porque a casa dele é em frente à minha e não tem como não ouvir - e sim, eu quero ouvir). Eu daqui às vezes completo uma música e às vezes a gente conversa sobre a vida e os bichos e a morte e o medo. E também está tudo bem, pelo menos para mim.
Ser negra aqui é quase tão comum quanto respirar. Isso ajuda muito a você entender o quanto você é pessoa.
Das nove cidades mais negras do Brasil, oito estão na Bahia e São Francisco do Conde é uma delas. Vocês ainda me perguntam porque eu amo morar aqui e porque eu não penso em sair dessa cidade?
Eu não vou a lugar nenhum. Para mim, a felicidade mora bem aqui, entre o quintal e a Baía de Todos os Orixás.
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