O doutorado se aproxima. Vou fazer coisas que gosto de novo, ter aulas, fazer pesquisa. Mas dessa vez quero só estudar, viajar, fazer outras coisas que não trabalhar. Não sei se vou conseguir fácil, porque adoro o que eu faço. Sou um caso atípico de pessoa que trabalha porque ama (bom, é certo que eu gostaria muito de trabalhar menos e ganhar mais, mas continuaria na mesma profissão).
Lá vou eu.
Encontrei duas colegas de jornada e ficamos algumas horas relembrando nossas histórias de superação. Isso tudo porque a gente vai escrever um artigo juntas. Foi gostoso, porque de algum modo fazia parte do trabalho conhecer o que pensávamos sobre nós mesmas e a vida. E me senti melhor sabendo (de novo) que não estou sozinha nessa caminhada.
Eu sei que não estou. Mas eu me sinto sozinha, desamparada, muitas vezes. Eu ainda me espanto com o fato de não ter me acostumado com São Paulo estando aqui há quase dez anos. Dia desses eu falei "cuba de gelo" e um amigo riu, dizendo que nunca mais tinha ouvido essa expressão. Até eu ri, falei sem traduzir.
Não me acostumei e fico banza, vez ou outra. Alguma coisa acontece no meu coração e nem preciso cruzar a Ipiranga com a São João. Aí eu corro a cidade e volto pra casa. Chego no Grajaú e as coisas se acalmam, não entendo. Um amigo diz que eu não gosto de São Paulo, mas gosto do Grajaú. Ele tem razão.
Grajaú me lembra coisas de outras épocas, gosto da visão de casas e ruas largas, as pessoas na rua.
Gosto de conversar com as pessoas, de ganhar tempo andando devagar e reparando nas coisas. Eu fico melhor aqui, e cada vez melhor entrando cada vez mais dentro da zona sul. Não sei se tem a ver com fato de me reconhecer na cara e nos gestos das pessoas desse lado da ponte pra cá, eu sou elas e elas sou eu. Estou em casa, mesmo na rua. Não preciso correr.
O mais engraçado (ou louco) é que, quando a gente se sente sozinha, a gente vai se acostumando a ficar só, pra aprender a ficar só. E depois, vai passando para um outro estágio (que me assusta também), o de começar a gostar de viver só, não querer mais conviver com outras pessoas.
Paradoxal isso. Contraditório, mas eu também aprendi com a idade que a vida é mais incerteza e a tensão da contradição do que certeza e calmaria. Aliás, fico pensando às vezes que deve ser pra isso mesmo que a gente vive. Para pagar a língua, contradizer-se.
Tenho mil ideias na cabeça, mas uma ideia é fixa: voltar para casa. E não de qualquer jeito. Eu quero voltar, mas de um jeito, fazendo o que gosto, tendo as minhas liberdades, porque não quero arrepender-me de ir assim, de cara. Brigar com o mundo. Quero ficar em paz, ter sensação de dever cumprido comigo mesmo.
Mas isso implica às vezes em aprender tudo de novo.
Aprender, por exemplo, que namorar é bom não apenas porque você tem alguém para beijar e abraçar, mas para descobrir mais sobre você. Coisas ruins também. Dividir, conviver. Coisas que com o tempo de solidão a gente vai desaprendendo (porque tem que desaprender, para não ficar louca. A gente aprende a fazer coisas só para não sofrer de solidão. Depois, se aparece alguém, pena junto para aprender a conviver). Não sei dividir problemas, por exemplo. Não acho que ninguém mereça ouvir meus lamentos (na maioria da vezes, acho que nem posso me lamentar muito e vejo que sou uma mal-agradecida. Tudo isso porque, convivendo com alguém, tenho essa noção mais ampliada). Mas descobri que, quando alguém te ama, ela quer saber o que te deixa triste e quer ficar ali, mesmo pra fazer nada. Mas eu não sei lidar com isso.
É preciso paciência.
Lá vamos nós.
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