Você que me lê, me ajuda a nascer.

sexta-feira, janeiro 17, 2025

terça-feira, janeiro 14, 2025

segunda-feira, janeiro 13, 2025

Uma menina que mostra a língua.

Passando ali na rua de carro uma menina negra de cabelo trançado andando de bicicleta me deu língua. Ela não viu, mas depois que passei por ela com minha cara de surpresa, eu só consegui sorrir. Quem dá língua nos dias de hoje? Ninguém mais. 

As crianças precisam ter "bons modos", se comportar. Já imaginaram onde as crianças guardam a raiva que sentem, a inveja ou a tristeza? Uma língua mostrada no meio da rua pode ajudar a melhorar o dia. Depois fiquei pensando: apesar de achá-la muito corajosa, ela foi muito prudente também. Deu língua para alguém que não faz parte de seu ciclo de relações próximas, ou seja, isso porque para que eu parasse o carro e fosse até à casa dela reclamar com a mãe de uma língua dada, só se eu estivesse muito, mas muito chateada mesmo (e sem nada para fazer). E, ainda assim, a reclamação seria bem menor do que se ela tivesse dado língua para a tia ou a avó. Melhor impossível.  

Coragem e prudência, não sei em que ordem. 

Mas o que ficou em mim daquela imagem foi a coragem de uma menina negra me dar língua - meio sorrindo com o desenho da boca - no meio da rua, brincando com os(as) colegas - mais meninos que meninas, eu vi - de várias idades que eu só pude sorrir. E sorrindo estou só de lembrar da cena.

Depois desse dia, procuro por ela, para devolver-lhe a língua mostrada, mas ainda não a vi. Queria dar a certeza para ela que, se ela continuar com essa sabedoria toda, ela pode se tornar uma adulta corajosa igual a mim, que devolvo língua mostrada para criança sem pudor algum. 

Quem dera eu tenha coragem de mostrar a língua de novo para qualquer coisa, um dia, assim como ela.

domingo, janeiro 12, 2025

Três meses.

Você quer namorar comigo?

A gente se perguntava assim, lembrando o personagem Zé Pequeno do filme Cidade de Deus perguntando à moça que ele gostava se ela queria dançar com ele. Usando a mesma entonação, a gente sempre se perguntava assim, antes do pedido oficial, feito por ele, lá em São Paulo, três meses atrás. 

Eu ri, ri e desacreditei, mas disse sim, porque achei que não seria nada demais dizer sim. A gente diz sim para fazer dar certo, como o eu te amo que vem no começo para firmar o sentimento. Eu gosto.

Agora com três meses, eu falo que já passou o tempo da experiência, a gente pode assinar contrato.

Você quer casar comigo?

Você quer viver comigo?

Você quer brigar comigo?

Você quer ficar de bem comigo?

São todas variações feitas com a mesma entonação do personagem no filme que a gente tanto gosta. 

Eu digo sim para todas, porque o que eu quero mesmo é viver junto. E viver junto é fazer junto até o que não se quer ou não se pensa em fazer (ainda). 

Tiffany Haddish Presents: They Ready, T1.


 

A milionária, o mordomo e o namorado.


 

quinta-feira, janeiro 09, 2025

Carlinhos Maia por João Pimenta.


Como a gente não tem orgulho de ser baiana? Poxa, difícil. Que rapaz maravilhoso, gente. Fico emocionada com tanta inteligência. Obrigada, João. Obrigada mesmo.


 

Só você e eu/Amado, Vanessa da Mata e João Gomes.


Delícia demais. Uma coisa puxa outra, né? Eu assistindo Roda Viva com ela e a ouvi falar de João Gomes. Fui caçar a música. É como ver o Roda Viva de Fernanda Torres e ouvir falar sobre o livro e a minissérie que ela escreveu/roteirizou. 

Uma coisa puxa a outra e a gente se alimenta.

 

Um homem por inteiro.


 

quarta-feira, janeiro 08, 2025

Olhos de água e sal.

É só quando você olha de novo e de novo para os olhos que tinham água de mar para ver que eles também tem sal e o que você viu também pode ser tristeza.

Sim, a vida é isso mesmo, tudo junto e ao mesmo tempo. Você é quem escolhe de pega carona nessa cauda de cometa ou fica à toa na vida sem ir quando o amor chama.

É você, só você quem pode escolher nessa fração de segundo que a tristeza e a felicidade espreitam o nascer do dia para saber com quem você vai dormir.  

Nem tudo é negociável.


 

segunda-feira, janeiro 06, 2025

O beijo na parede, Jeferson Tenório.


Leiam o livro de Jeferson. Eu amo livros que falam das infâncias de crianças e esse livro conta a história, em primeira pessoa, de um menino negro de 11 anos chamado João. A lucidez de João pode fazer a gente pensar que é a voz do autor ali presente o tempo todo, mas de fato João poderia pensar tudo aquilo mesmo, e para que a gente soubesse disso, bastava aprendermos a escutar as crianças.
 
Parece extraordinário para quem não convive com crianças, mas Tenório apresenta um menino negro de 11 anos perfeitamente possível para quem consegue ouvir as crianças. Há belíssimas passagens no livro inteiro, mas a ideia do título, o tal beijo na parede, é um soco no estômago (dado com a força de um menino de 11 anos). 

Com a imagem que a expressão evoca, o autor consegue sintetizar tantas dores e violências que meus olhos ficam marejados só de escrever aqui. Talvez porque eu também tenha beijado paredes, em sentido literal e figurado.  

Jeferson Tenório






 

Dopamina: a molécula do desejo, de Daniel Z. Lieberman e Michael E. Long.


Terminei o livro animada com a ideia de ter aprendido mais sobre mim e sobre áreas de estudo que eu não domino. Tenho dificuldades em acreditar piamente em qualquer coisa que queira me dizer que resultados são deterministas e definem coisas. Estou mais para combinação de resultados para compreender fenômenos. Aprender sobre dopamina é mais um desses temas que nos ajuda a entender o complexo quebra-cabeça que são as pessoas.

Não define o desenho do quebra-cabeça, mas colabora com algumas peças. Isso é muito massa. Durante a leitura do livro, fiquei me perguntando como sou e como ajo frente à situações que "exigem" mais ou menos dopamina. Foi gostoso perceber também que o caminho que tento seguir, o de menos tela e aplicativos e mais presença pode ajudar a encontrar a harmonia nos dias atuais, em que buscamos prazer imediato e muitas vezes irrefreado. 

Atividades manuais dão prazer enorme e agora eu entendo mais ainda porque. Por isso gosto tanto de escrever cartas (preciso voltar a fazer isso). A sensação que sempre tive e a presença exigida talvez sejam responsáveis por ser como sou hoje. Isso é incrível. Quando falo em escrever cartas hoje, é coisa de uma por mês, mas já tive tempos na vida - período da graduação - em  que eu escrevia cartas todos os dias.

Todos os dias. 


Daniel Z. Lieberman e Michael E. Long



 

Sem escalas.


 

quarta-feira, janeiro 01, 2025

segunda-feira, dezembro 30, 2024

Belo: perto demais da luz.

Eu prefiro séries documentais brasileiras do que aquelas coisas que a Netflix joga nas nossas costas sobre uma pessoa que mora no Oregon e faz origami invertido com o pé desde que nasceu. Estou vendo tudo que posso e essa foi uma das que gostei. 

Até baixei o primeiro cd do Soweto para molhar as plantas hoje.

Amei saber que a mãe de Belo era macumbeira, até gosto mais dele. 



Beyoncé Bowl.

Vejam Beyoncé e Blue Ivy.




Ronny Chieng: Love to hate it.


 

O caso Robinho.


 

domingo, dezembro 29, 2024

sábado, dezembro 28, 2024

Proparoxítona.


 

Felicidade.

Tou sentindo uma felicidade louca nas coisas mais ordinárias do mundo como comer um aipim frito feito por um amiga.

Tanta felicidade que eu fico pensando se a gente pode sentir isso todo dia, se tá errado sorrir assim quando há tanta fome no mundo, eu fico pensando, mas não tenho resposta. 

Não tenho resposta, mas sigo sentindo felicidade com coisas miúdas, miudinhas. Elas fazem uma diferença grande bem grande no meu dia.

Crer no incrível

Ver o invisível

Receber o impossível 

Ouvi isso num programa de TV'. 

quinta-feira, dezembro 26, 2024

Ainda bem, Thiaguinho.

Apareceu na playlist e eu pensei nele sem parar. Todas (quase todas, vai) as palavras parecem que ele fala ou eu falo para ele. Ainda bem. Só quando é recíproco é assim. 

Adoro quando ele diz que o amor que ele sente "cheira a paz". Cheiro de paz é o que eu sinto quando deito no colo dele. 



O imenso azul entre nós, Ayesha Harruna Attah.




Comecei a ler o livro e me deparei com a pergunta de "como é que Ayesha sabe tanto de Salvador assim?". Fui fuçar e descobri o que imaginava: ela escreveu esse livro quando esteve residente no Sacatar, em Itaparica. Só podia ser!

Sabia, sabia. Que bom que essas residências existem para aproximar a gente. 

Gostei do livro, mas gostei tanto do fim que achei que ela poderia continuar mais umas cem páginas depois do encontro das irmãs, especialmente porque elas, gêmeas, foram separadas e se encontraram quando já não estavam mais achando que ser uma só era pensar parecido. Essa ideia ficou reverberando em mim de um jeito especial, ainda mais quando elas conversam assim:

- Você deve acreditar em algo.
- Nós. Acredito em nós. Encontramos uma a outra, usando nossos sonhos. Cristianismo. Islã. Otienu... Isso tudo existe pra nos manter na linha e nos dar algo além de nós mesmos e nos manter sob controle. Nós, pessoas, podemos e devemos olhar para dentro de nós mesmos. Mas talvez fique com Otienu. Nossa crença. Eu posso respeitar isso. (p. 219)

[...]

Husseina observou os músculos do rosto da irmã estremecerem. Era verdade que tinha que ser paciente com Hassana, mesmo que a irmã nunca se tornasse uma pessoa de fé. Então se deu conta. Hassana acreditava em algo.
- Obrigada por acreditar nos nossos sonhos. 
- Eu que agradeço - Hassana disse. - Por me salvar. (p. 251)

Me senti falando pela boca de Hassana e fui feliz. De fato, ler é uma das melhores coisas do mundo. 


Ayesha Harruna Attah


 

Macabéa, Flor de Mulungu, de Conceição Evaristo.



Adoro livros que me levam para outros livros. Com esse aqui foi isso, eu nunca li Clarice Lispector. Antes de começar a trabalhar, eu li coisas que me chegavam às mãos. Nunca pude escolher o que ler. Eu lia os livros de português na escola, aqueles textos que vinham para serem estudados a cada unidade do livro, eu lia o que tinha, tudo que chegava. Monteiro Lobato, Jorge Amado, eu li tudo que tive acesso e eu não tive acesso à Clarice.

Mas agora A hora da estrela vai me conhecer. Macabéa aqui é um pedaço da gente, é bonito de ler e a interpretação no final do livro falou dentro de mim, como eu pensava que seria. Uma das coisas mais bonitas da minha vida hoje é ser quem eu sou. Que orgulho disso. 

Eu gosto tanto de Conceição Evaristo que no dia que eu a vi pessoalmente não consegui dizer nada. Nada. Fiquei parada ali, olhando para ela, as pessoas pedindo para tirar fotos e eu parada. Estática. É que ela para mim é raio de sol, força do vento, é natureza, é parte de mim e do mundo inteiro que eu escolhi viver, não consegui dizer nada disso. Eu já falei isso aqui, né?

Quero encontrar com ela de novo e dizer todas as palavras que eu não disse.

Conceição Evaristo

 

Assim como a gente.


 

quarta-feira, dezembro 25, 2024

Dia de Praia, Juliana Correia.


Mais legal que ler o livro é conhecer a autora e quem o inspirou. Só falta dar um abraço na ilustradora, que mandou bem demais. 


Recomendo! Não admito que fiquem me dizendo que leem Menina bonita do laço de fita e Cabelo de Lelê para as crianças até hoje quando temos Julianas por aí. Não admito, tenho dito. 


Juliana Correia

Ronny Chieng: Asians Comedians Destroy America.


 

Bagagem de Risco.


 

Chegadas e partidas.


Das coisas que eu choro copiosamente. Vejo a cara da gente na TV' e tudo que a gente consegue com o que temos que me acabo de chorar sem parar.

Por mim.

 

sexta-feira, dezembro 20, 2024

Nova Cena.


 

Porto.

Estou aprendendo a não querer controlar a vida das pessoas que amo. O que eu mais quero ser é porto e não escora ou muleta. Eu quero ser a pessoa de quem as pessoas que amo vai lembrar quando precisarem de alguém e não alguém que elas acham que vai resolver tudo por elas porque quer, precisa ou deve. Eu quero ser a pessoa para quem elas pedem ajuda sem medo nem vergonha. Se elas não conseguem, aí já não é muito comigo, mas eu vou continuar ali, esperando, esperança. 

Vou estender a mão, mas não vou andar mais do que devo para encontrar a mão da outra pessoa. Eu não consigo mais, eu não posso fazer isso comigo, eu preciso de ajuda para ser porto. Eu preciso de ajuda e preciso disso para continuar a ser feliz também, não posso exaurir toda a minha vontade de viver para encontrar alguém.

Porto.

Estou aprendendo e quero ser e vou ser. Porque eu quero e depende muito de mim.

terça-feira, dezembro 10, 2024

Agridoce.

Me disseram agridoce e eu gostei.

Eu acho que eu sou mesmo. Sou meio agri, meio doce. Sou toda agri, toda doce. Sou doceagri. Mas sou assim mesmo, debochada e querida, em medidas que não saberei dizer, só você, que me lê. 

Quando aprendi que eu vou ser agridoce para algumas pessoas, porque para elas sou professora ou filha, eu descansei em paz. Para outras, vou ser fofa e legal porque sou amiga, é isso mesmo. Eu sou muitas coisas para muitas gentes e é por isso que eu gosto tanto de gentes e de conviver, porque vejo coisas de mim que não veria sozinha.

Se as pessoas soubessem o quanto eu amo uma salada de folhas com manga, uva ou abacaxi, iriam saber o elogio grande que me fizeram quando me chamaram assim. 


segunda-feira, dezembro 09, 2024

Sol.


 

A liberdade em três atos.









 

Mayara Ferrão.


Mayara Ferrão, O beijo 20, da série Álbum dos desesquecimentos, 2024, imagem gerada por Inteligência Artificial, impressão jato de tinta sobre papel algodão



(essa não achei nome, mas é de Mayara, está num site com coisas dela)


Quem não achar isso bonito, não bate bem da cabeça

 

segunda-feira, dezembro 02, 2024

domingo, dezembro 01, 2024

Parceria firme aqui, é nós dois.

No dia que sonho com Mano Bronw, eu penso que 

às vezes eu acho que toda preta como eu, só quer um terreno no mato, só seu

Mas agora eu acho que toda preta como eu quer um terreno no mato e um preto que queira criar galinha, só nossas.

Ele me lembra de parar de trabalhar e olhar para ele. Eu respiro fundo e digo que é isso que eu estava precisando.

Vou casar para trabalhar menos

Não amor, você vai trabalhar menos porque vai casar

Ele tem razão (e eu adoro isso).


Todo o silêncio.


 

Maníaco do Parque.


 

sexta-feira, novembro 29, 2024

Educação Integral Antirracista para o Ensino Fundamental: Uma contribuição da sociedade civil.


Tem palavra que a gente lê, tem que a gente escreve e tem palavra que a gente organiza, das ideias de um monte de gente massa.

Todas as experiências com palavra são incríveis. 



Estela sem Deus, Jeferson Tenório.



Um dia sem luz (ou foram três?) e eu terminei esse livro, meu companheiro inteiro o tempo todo todo o tempo em Varadero.

Jeferson Tenório segue sendo ótimo, fazendo livros para pegar você pela mão e te ensinar que ler é massa, que ler não precisa ser chato, que ler faz bem demais e leia.

O livro é tudo que dizem por aí de bom, não acredite em nada que diga o contrário e agora leia.



 

Buy Now! The Shopping Conspiration.


 

quarta-feira, novembro 27, 2024

quarta-feira, novembro 20, 2024

Um dia e meio e a felicidade.

Faltam dois dias, amor

Se você olhar bem, falta um dia e meio

Tá bem, tá bem, tou vendo seu cabelo cortado daqui

Beijo, vou trabalhar, te amo e tchau

domingo, novembro 10, 2024

sábado, novembro 09, 2024

Reconhecimento.

Descobri que mais feliz do que receber um convite, agora eu fico feliz por declinar de convites porque tenho outros convites ainda mais incríveis. Eu nem sabia que eu ia receber convites incríveis na vida, imagina dizer não só porque eu tenho outro mais incrível?

Com os cordiais cumprimentos, é com imenso respeito e gratidão que convidamos a senhora para uma homenagem especial em reconhecimento à sua contribuição nos Cadernos Negros e ao seu papel central na literatura negra brasileira

Posso não, tenho uma festa minha para ir. Fala a verdade, quem é que sonha com isso? Por todos os sonhos não sonhados, eu sou grata. E esse post pode parecer que eu tou tirando onda e eu estou, mas não só isso. Estou só registrando o que acontece na minha vida, para depois bem velhinha ler sentada numa cadeira de balanço. Eu não vou lembrar de tudo, porque minha vida está sendo tão ótima que nem sei.