Escrever, não escrever.
O livro é tudo que dizem e mais. O livro me prendeu e me teve em todos os momentos em que eu estive com ele. Eu simplesmente caía no abismo da leitura que o livro me proporcionava e só depois de um tempo, eu lembrava:
é um livro, é só um livro
Mas não, não é só um livro. Tem tudo que você espera e mais, tem coisas que te fazem duvidar sobre a autoria, sobre o que o autor quer de você ou do que ele escreve, tem várias vozes falando na sua cabeça depois do livro, tem você voltando a leitura para lembrar quem estava contando a história, porque o autor, que é o protagonista - um alter ego, um personagem que é escritor? - vai e vem nas histórias que ele nos oferece, mas não são dele, não são nossas, mas você pensa, eu posso acreditar nesse caminho que a história está indo?, você não sabe, mas já está envolvida, a história ja te pegou e mesmo sem saber direito em que versão acreditar, você quer continuar, porque Sarr escreve bem, porque Sarr te engana (ou não), eu realmente não sei.
O livro é sobre um livro. Não, é sobre um autor de um livro. Um livro que não é o livro que está sendo escrito e também não é o livro que foi escrito pelo protagonista. Não, o livro não é sobre um livro ou sobre um autor de um livro: o livro é sobre as relações que um livro suscita, ou aquilo que as aparências acham que o livro pode suscitar. O livro é sobre muitas coisas que rondam a literatura mundial, sem deixar de falar sobre colonização e racismo, mas sem se preocupar em ser perfeito ou dizer o que esperamos que Sarr diga.
O livro é sobre escrever, não escrever, mas é também sobre palavra, sobre dizer, sobre assumir consequências do que dizemos e fazemos, sobre escolhas, sobre a verdade da escrita e sobre a aparência dessa mesma verdade.
Mohamed Mbougar Sarr
Nenhum comentário:
Postar um comentário