Você que me lê, me ajuda a nascer.

quarta-feira, maio 08, 2013

Passagens.

Há algumas coisas e pessoas que nunca mais veremos. Eu gosto disso. Gosto de pensar que algumas coisas nunca mais voltarão e, ainda assim, estarão sempre aqui. A gente não pode ter tudo e nem querer dominar o tempo. Isso não é nosso, é ciência da vida, matéria das coisas.
Olhei para a estante e vi a boneca que ganhei de uma jovem senhora que dividiu comigo o quarto no centro de São Paulo, numa semana em que eu e ela estávamos na expectativa para saber quem ganharia um prêmio, o prêmio que havia nos levado até ali. Eles deram um curso de formação para os finalistas e iriam dizer, no último dia do curso, quem havia sido as ganhadoras.
Eu ganhei, ela não. Mas disse-me que saía dali mais feliz e premiada do que quando havia chegado. Ela era diretora de uma escola estadual no interior de São Paulo.
Deu-me uma boneca de pano, feita por ela. Pediu-me desculpas, pois o presente não havia sido feito para mim. Era para uma outra moça, com quem havia falado algumas vezes por telefone mas que, pessoalmente, não teve tanta relação. Perguntou-me se eu ficaria ofendida. Eu disse não.
Depois, no dia da premiação, eu sentia muito frio. Eu não tinha nada que combinasse com meu vestido e ela então cedeu-me seu poncho preto, também feito por ela. Ao final da noite, disse que seria uma grande honra  para ela dizer que havia aquecido a vencedora do prêmio em um de seus dias mais bonitos. Pediu-me, assim, para também ficar com ele.

Coisas simples, como o que a gente gosta da vida. A boneca não era para mim, lembro-me sempre disso, mas sua vontade de dar-me alguma coisa, de fazer-se presente, de dizer que aqueles nossos três dias foram muito valiosos para ela fez-se maior que as formalidades. Isso tem mais de quatro anos. Olho para a boneca de pano lilás sob a estante e todas essas emoções voltam. Não sei se a verei de novo. Nem sei mesmo se lembro dela, se a encontrar na rua. Acho que não. Mas as lembranças são tão vivas e me fazem tão melhor que eu não sei se eu preciso de um encontro para entender o quanto ela foi, no meu caminho, uma dessas pessoas que me fazem ter a certeza de que a vida vale a pena.

Um comentário:

Eric Paiva disse...

Lindo isso guria...