Passei uma hora e meia no aeroporto de Congonhas, observando as crianças que trabalham como engraxates ali. O primeiro menino que reparei, negro, pediu um lanche. O casal olhou, olhou, respirou fundo. O moço levantou, foi até o caixa, pagou um lanche, alguma coisa para comer. Ele pediu algo para beber, o moço foi embora. Ficou pedindo para outro rapaz, este fingiu não ouvir. Ele saiu comendo o lanche, creio que não pudesse ficar por ali por muito tempo sem não estar engraxando.
Observei depois, um menino branco fazendo o mesmo serviço. Ele conseguiu engraxar os sapatos (eu acho), e o rapaz, que esperava uma mulher, apresentou o garoto à ela, que o abraçou. O rapaz afagou sua cabeça. Ficaram alguns minutos conversando os três, animadamente. Ele tirou uma nota de vinte reais, alguns conselhos e saíram juntos, andando para o lado de fora do aeroporto. Neste papo, consegui pescar o homem dizendo a mulher: "Ele acertou minha idade, sabia?".
Para ser uma pesquisa, eu precisaria de mais tempo e de observar mais crianças. Mas, refletindo sobre o que aconteceu com estas duas, pergunto-me: Há diferença entre ser uma criança negra e uma criança branca engraxate? A criança branca pobre já percebeu isso, com dez ou onze anos, o capital racial que há em sua cor?
Pode-se dizer que o rapaz branco já conhecia o menino branco e com ele tinha relação, visto que conversavam animadamente. Mas essa permissão de "fazer amizade" entre eles não me pareceu uma coisa possível com o menino negro. Questões.
Fonte: Internet
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