Você que me lê, me ajuda a nascer.

segunda-feira, abril 28, 2008

Falso Amor Sincero, por Nelson Sargento.

Falso Amor Sincero Composição: Nelson Sargento O nosso amor é tão bonito Ela finge que me ama E eu finjo que acredito O nosso falso amor é tão sincero Isso me faz bem feliz Ela faz tudo que eu quero Eu faço tudo o que ela diz Aqueles que se amam de verdade Invejam a nossa felicidade Eu vi, ele cantou ontem pra mim. Aha.

domingo, abril 27, 2008

Por que que é que só eu sou assim ou das imprecisões e insensiblidades.

Não quero falar. Mas não consigo chorar. Da última vez que reclamei da vida, me disseram que eu era melindrosa demais, boba demais. Que eu faço? Só por que eu quero atenção quando dou atenção, só por que eu quero que se preocupem comigo quando eu me preocupo, só por que eu quero ser especial se faço das pessoas especiais, quero demais? Meus ais. Mas me deixem em paz. Talvez por isso eu goste tanto de ir ao cinema. Sozinha. Lá, dentro, só sou eu e a tela, prego a minha cara nela e imagino sonhos, choro todos os choros que fora da sala eu aguento por dentro, me divirto e torço por pessoas que nunca vi. Realidades tantas que a gente inventa, e essa só mais uma pra me fazer (in)feliz. Não, não estou de mal do mundo. Nem triste. Só que eu não sou licuri pra morrer na pedra, eu também quero amor e cafuné, como todo mundo qué. Talvez o que eu quero é só um pouco de amor de manhã cedo, pra continuar a lida inteira do dia, depois um pouco de amor na hora de dormir, pra ter sonhos bons, com o resto eu me virava, talvez seja qualquer amor, qualquer amor é recompensa, por isso me apego as crianças, flores e árvores, pedra seca, estrada sem fim. Vontade oca de chorar agora, mas as lágrimas não vêm, talvez seja a fome, talvez seja a saudade. Saudade de ser criança e esquecer das coisas fácil, como quando mainha me trazia um pirulito, minha irmã me tomava, eu brigava e puxava o cabelo, apanhava e depois ria pra cara dela, ainda segurando um chumaço do cabelo. Mas não é possível medir amor, né? Então nunca se sabe, tu ama com um amor que até fica roxo, e a pessoa também, mas ela não diz, por isso que quando aprendi que tem o gostar e a poesia do gostar me esforcei pra conhecer as pessoas como elas são e mostrar no talo o que eu sinto aqui agora, por que amanhã as coisas acabam e o amor se arranha então é melhor aproveitar enquanto tem música na praça, pra dançar, pra declarar amores, pra viver tudos. Sempre digo, com todas as minhas palavras e forças, me deixem em paz. Mas não é isso, é só um pedido de socorro, eu só queria dizer, se importem comigo, mas eu não sei dizer isso, por causa das distâncias, do vácuo, das vontades desperdiçadas, das ausências. Mas, talvez, vai saber, acho que não vou deixar você se aproximar. One more time.

quinta-feira, abril 24, 2008

Tantas palavras.

Na biblioteca da escola, uns livros e revistas velhas pra doação. Bato o olho numa revista chamada Raiz, achei interessante, nunca tinha ouvido falar, por isso talvez não queria saber. Levei, peguei. De cara li Jorge Mautner, Eduardo Coutinho (suspiros), segui folheando. A proposta da revista é falar da cultura brasileira. Resultado: em quase 100 páginas de revista, nenhum branco. Aha, isso me fez lembrar que quando a Revista Raça surgiu, muita gente veio a público dizer que era uma revista racista. Na Raça só tem preto É, mas na Caras só tem branco, aha, ninguém viiiu? Racismo a brasileira, a brasileiraaaaa/ vixe mainha Críticas a revista Raça à parte, críticas essas que nós negras e negros podemos perfeitamente fazer, a revista tá aí, mesmo escondida lá no fundo da banca de jornal, tu pede a do mês e a moça pega banquinho pra pegar lá na prateleira de trás, ô vida. Pois bem, fucei e encontrei o site da revista, tá aí www.revistaraiz.com.br Imaginei que a revista não existia mais, primeira edição em outubro de 2005 e ainda tão atual, tão gostosa de ler. De uma pequena frase tu extrai o espírito da revista. Comentando do funk carioca, dizem Vem do Morro do Vidigal, de onde se tem uma vista maravilhosa do Rio Oras bolas, onde é que tu já viu falar que dos morros se têm visão bunita de Rio de Janeiro? Já ganhou meu coração, mas aí fui lendo mais e me apaixonando, Bravo perde feio, fica no chinelo. Coisa boa e gostosa de ler, sem presunção ou imitação, sem texto igualzinho, chapado, enjoado, enojado. Falam de tudo um pouco, e mesmo sem tanta grana como revista da Editora Abril, faz um panorama da cultura brasileira dos quatro cantos do país (na mesma revista, estados como Bahia, Sergipe e Maranhão são bem lembrados). Pronto. Já vendi o peixe. Acessem, comprem, até por que não é tão cara, leiam, degustem. _____________________________________________________________________________________ E sabe o que mais? Eu queria ter um trabalho só pra mudar as célebres frases do mundo. Como essa do Câmara Cascudo, que diz O melhor do Brasil é o brasileiro E eu e a brasileira, caçamba Eu me divirto quando lembro que uma aluna minha se recusava a usar o crachá de monitora do recreio por que a diretora tinha escrito monitor. Foi lá e rebeldemente pôs um a. Devia ter tirado uma foto. Devia também ter registrado quando um outro aluno leu escravizado ao invés de escravo, como estava escrito, quando viu a representação de um numa revistinha. _________________________________________________________________________________________ Eu não canso de amar o Coutinho. O Eduardo, 77 anos e seis maços de cigarro por dia. Disse vou continuar filmando enqunato não tiver nada pra dizer ou detesto essa coisa de pesquisa E isso pra filmar O Fim e o Princípio, pra mim um dos seus melhores documentários. Pra terminar, lembro do Chico Moisés, moço do seu filme que se indagava Será que sei tudo que sei?

quarta-feira, abril 23, 2008

Sobre crianças e nossa desinteligência.

Falaram assim do meu lado, nem era comigo, Ah, mas a exposição é pra crianças a partir de 10 anos, crianças mais novas não entendem Ouvi, me intrometi Criança entende tudo. Somos nós que não temos capacidade de explicar tudo para elas. Sabemos coisas que não servem para nada, já que não as repassamos. Que sentido tem o conhecimento, então No que replicaram Mas não tem coisas que são complexas demais? E eu na tréplica Complexa demais pra quem? Essa exposição aí, sobre o genoma, tu entende e sabe tudo que tá falando lá? Então, se nem tu entende direito, como é que vai saber explicar? A criança precisa que tu use com ela uma linguagem que parta do mundo dela, como a gente também precisa. Alguém com seis anos só te pede isso pra entender o mundo. Não mexam com a minha boca. _____________________________________________________________________________________ Engraçado, quanto mais as pessoas me pedem pra tirar essa foto esbugalhada daqui, mais eu gosto dela. Acho até que vou fazer um cartão de visita com ela. Tou bem com cara de menina-abestalhada. Coisa que eu sou mesmo. Vou repetir: só quem é bonita pode fazer careta. _____________________________________________________________________________________ E lá na natação, chegam as senhorinhas depois do meu horário pra fazer hidroginástica. Uma delas, que eu ainda não descobri quem é, põe logo a sua toalha bem perto da ducha, antes mesmo de voltar da aula. Pra ninguém pegar o lugar e ela não ficar sem jeito ali tomando banho pelada na frente das pessoas. Mas só uma pessoa metódica ficaria pensando nisso. Coisa de velho? Nem tanto. Eu acho que também faria isso, se ela não tivesse a idéia primeiro.

Devolvam-me.



Perdi essa carta por aí, talvez por aqui. Era pra uma pessoa pra lá de especial. Devolvam-me. Era tão paris escrever num guardanapo que no dia, um domingo frio de março, tirei uma fotinha.

terça-feira, abril 22, 2008

Oxóssi.

OXÓSSI É NOME DE PRAÇA EM CAMPINAS (Primeira Praça em Homenagem a um Orixá) Foi aprovado nesta segunda-feira 14/04/2008 pela CÃMARA MUNICIPAL DE CAMPINAS - CMC, projeto de autoria do vereador DARIO SAADI que denomina "OXÓSSI - Orixá da Riqueza e da Fartura" uma praça público do município de Campinas. A referida solicitação (Protocolado Geral 018699 - 2/2 de 14/11/2007) foi feita por MAURÍLIO FERREIRA DA SILVA, filho de Oxóssi e militante do MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO-MNU, contou também com o apoio da ASSOCIAÇÃO BENEFICENTE CULTURAL E RELIGIOSA" ROÇA DE CANDOMBLÉ ALAKÊTU ODÉ OMIM OXUM (babalorixá Hamilton Gonzaga Alves (Pai Hamilton D’ Odé Kiluandê ) que juntamente com seus (as)(as) filhas (os) de santo estiveram presentes por ocasião da aprovação do projeto de Lei. Estamos aguardando que o prefito Municipal HÉLIO DE OLIVEIRA SANTOS sancione o Projeto de Lei e logo depois juntamente com a Prefeitura, mandato do vereador Dario Saadi e religiosos de matriz africana, simpatizantes e lideranças do movimento negro e popular estaremos promovendo a inauguração da aludida praça. Em breve maiores detalhes sobre a praça, mas trata-se de uma area de 27000 (vinte sete mil metros quadrdos, situada as margens do rio CAPIVARI, bem próxima ao Hospital Ouro Verde Atenciosamente MAURÍLIO SILVA Membro do MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO-MNU (GT ZUMBI) Fone: (19) 9128-9370 3736-1300 (Cãmara Municipal de Campinas) Okê Arô!

domingo, abril 20, 2008

Oxi.

Conversando, descobri que oxi, na verdade, é expressão yorubana de espanto, admiração, insatisfação ou contentamento. Como descobri? Oxi, um amigo que fala yoruba, sempre que queria exprimir essas coisas aí dizia oxi, e eu pensava cá comigo, coisa mais estranha, como ele fala oxi se nunca viveu em Salvador? Ele me disse que lá em Lagos, onde ele morava, é oxi que as pessoas usam quando querem exprimir uns sentimentos desses. Fiquei boba, por que o que mais comprovava que essa expressão realmente sobreviveu por tantos anos é que ele continuava aqui, arranhando no portuga e falando oxi, ali e acolá. Aí eu disse, estupefata: oxioxioxioxioxi que é quando eu fico besta bestinha. Eu pra Lica, menina preta bonita de quatro anos esperta tu é chêrosa E Lica pra mim é tu que é fedida Como eu sempre digo, a vida é um ponto de vista. Ou vários pontos.

sexta-feira, abril 18, 2008



Morreu Aimé Cesaire.
Uma pena.
94 anos de pura palavra e combate, saber de trincheira.
E o safado do Sarkozy, xenófobo declarado, vem a público falar que o cara mandava bem, que era a "voz dos oprimidos".
O Aimé nem apertar a mão dele quis em vida, imaginem só, e agora o cara fica aí capitalizando em cima da morte dele. A Folha nem deu meia folha, deu um quadrado de uns 5 centímetros falando do Aimé. Mas também, nunca falou quando ele tava vivo, não tem que falar agora não.

palavra-macumba

a palavra é mãe dos santos
a palavra é pai dos santos
com a palavra serpente é possível atravessar um rio
povoado de jacarés
me acontece eu desenhar uma palavra no chão
com uma palavra fresca pode-se atravessar o deserto de um dia
existem palavras remo para afastar tubarão
existem palavras iguana
existem palavras sutis essas são palavras bicho-pau
existem palavras de sombra com despertadores em cólera faiscante
existem palavras Xangô
me acontece de nadar malandro nas costas de uma palavra golfinho

le mot est père des saints
le mot est mère des saints
avec le mot couresse on peut traverser un fleuve
peuplé de caïmans
il m’arrive de dessiner un mot sur le sol
avec un mot frais on peut traverser le désert
d’une journée
il y a des mots bâtons-de-nage pour écarter les squales
il y a des mots iguanes
il y a des mots subtils ce sont des mots phasmes
il y a des mots d’ombre avec des réveils en colère d’étincelles
il y a des mots Shango
il m’arrive de nager de ruse sur le dos d’un mot dauphin
10.04.2008 Não posso mais. Entrego os pontos Eu Pessoal, deixem um espaço no caderno para responderem as questões, não fiquem com pena do caderno, é pra usar No que me levanta uma garotinha, solenemente Não é do caderno que eu tenho pena, professora. São de todas essas árvores que se cortam para fazer papel por aí Que tu faz depois de uma dessa? Pede pra sair? Vergonhaaaa, sim, eu erro. Melhor que saber que erro, é reconhecer, voltar atrás. Pedir desculpas e continuar vivendo feliz. _____________________________________________________________________________________ E ali, olhando pra ela, na fila da pipoca, eu tive certeza, sim, eu a amo. Tive vontade de parar a conversa, parar tudo, pra dizer isso, mas não ia caber ali, como não cabe aqui, todo o sentimento do mundo, amor, amor, amor. Recebi um abraço bem cedo, me dizendo parabéns pelo que você escreve, muito lindo, tu tem que ser escritora, parabéns Diz se não é pra ficar feliz o dia todo e nem sentir preguiça. Sou feliz então. _____________________________________________________________________________________ E agora eu descobri um que me responde mensagens, que me pergunta como foi o meu dia, e eu quero que seja ele, mas pena mora longe, mas sim eu já sei o que é isso, e não ligo pro que dizem, só quero sorrir quando lembro dele, que me faz sentir o sangue correndo e que vem do coração. Vou deixar o barco correr, não tenho medo, tenho certezas dos tudos das vidas e daquilo que ainda nem sei saio na chuva pra enfrentar o dia de alma limpa eu não tenho muito que esperar, só que ele me ligue, só a sua voz numa segunda-feira cinza, só isso. E ele acredita em mim, e eu nele, é isso que faz toda a diferença na vida, encontrar alguém pra quem enfim você pode ser boba, só pra ele te achar bonitinha, tu já fez isso? Então, responde sim pro amor e vem dançar na chuva, é garoa mas aqui vale tudo, o coração aceita qualquer sorriso sincero e molhado de garoa cheia de esperanças. _____________________________________________________________________________________ A melhor coisa pra alguém que ensina todos os dias é aprender coisas novas, coisas que te fazem ter vergonha de não ter aprendido ainda. Você sente na pele o que sente todas aquelas pessoinhas com quem tu lida o tempo inteiro, e entende a vergonha dela, a coragem dela, a vontade dela, a preguiça dela. Não fui fazer natação pra isso, mas me ajudou a entender mais ainda que quanto mais a gente ensina, mas aprende o que ensinou. E que na verdade, o que fica, de tudo isso, é aquilo que você pode compartilhar, relacionar, na vida, na escola, no amor e no jogo. ____________________________________________________________________________________ 12.04.2008 Homem, meu homem Também não quero brincar Mas não sei se estou falando sério Talvez meu jeito de ser Ainda não me dei a conhecer O tempo que ainda não perdemos juntos, onde está? Concordo Ansiedade faz mal pra mim, pra tu Brincar de amor, o que é? Não gosto de jogos e adivinhas Prefiro beijar você Sem essa, sem essa. Sem essa. Em meio a cenas desconexas Eu me escondi, fugi do óbvio Nosso futuro eu não preciso saber Por que ele é nosso O tempo é senhor dessas histórias Por isso eu acalmo, espero, respiro fundo, Se temos um destino, e ele é nosso Não preciso me preocupar Você, homem, quanto tempo precisa pra ser meu homem? Você, homem, quanto tempo precisa pra ser meu homem? _____________________________________________________________________________________ Onde morava esse homem, ou que fazia e onde estava quando e morava e fazia por aí? Quando ele queria amor e sorrisos e um café na cama, onde procurava? Não nos meus lugares, não em mim. Por onde então passeava, que lugares visitava, em que bar afogava suas mágoas quando eu em casa me afogava em solidões? Encontrar com ele assim, voltando pra casa, numa tarde comum de quinta feira sem sol em sãopaulo, periferia, esquinas. Acena com a cabeça, me olha. Sou comum, ele também, mas não menos especiais, não menos originais. Por que o mundo é aqui dentro da gente, ele me diria, se eu o encontrasse assim de sopetão. Esse homem, se habitante fosse do mundo comum, do meu mundo comum, iria pra minha casa, e ali faríamos amor sem muitas palavras, guardados sob os olhos atentos de dubois e neilopes nas estantes, nossa cor em profusão de sentidos, nossas pele uma pele. Esse homem, que eu não encontro nos meus lugares, encontra a vida de outras pessoas, faz amor com elas, quando me encontra não me vê. Passa por mim, invisível que sou ao sexo, ao amor, pois que é outro lugar, onde os desejos se escondem nos abraços formais e mãos que se apertam levemente suadas, onde os sentidos obedientes não me atendem. Eu, que sou feita de desejo, me dissolvo então, e no meu lugar um eu-outro, nesse outro lugar não-meu. _____________________________________________________________________________________ Joel Rufino é rei, né? Leiam Paixão é um sentimento do qual brotam alegria e tristeza, simultaneamente. Parece ser imprescindível ao ensino de qualquer coisa. E para quem quer começar a escrever, o cara dá uma aula, em poucas palavras: A literatura de qualidade é a que dá a sensação de o verdadeiro ser falso e vice-versa. Ela precisa causar um estranhamento que vem de repente num trecho qualquer, num verso despretensioso, e trazer no seu conjunto a colocação de um problema humano a ser resolvido. A literatura é uma das muitas religiões sem Deus. Agora leia Emerson, um dos caras que Bob, o Dylan, gostava pacas: É fácil viver no mundo conforme a opinião das pessoas. Mas o grande homem (mas a grande muié) é aquele/a que mantém a independência da solidão. E vejam só, amatore, palavra da qual deriva a palavra amador, vem do italiano e assim se denominavam os músicos que faziam música por talento, prazer, por amor. Isso no século 16, 17. Agora pense, hoje em dia quando dizemos que alguém ou algo é amador queremos dizer que o negócio é inferior, sem estudo rebuscado, nível um, coisa sem valor então. Assim, para nós, o sentido foi retirado de onde mais as coisas todas haviam sentido: no talento, no prazer e no amor! Mundo cruel essezinho. só a ciência nos purificará e arrancará do nosso coração a ligação sensível que temos com a vida e com a arte Que pena de nós. Penso, mas que é a ciência então, senão parte das artes dos sujeitos e sujeitas deste mundo? A Ciência, babe, não se engane, é uma grande mentira. Assim como deus e as promessas eleitorais. __________________________________________________________________________________________ 16.04.2008 Assim, de cara, por quem sou apaixonada? Alberto da Costa e Silva, Mia Couto, Eduardo Coutinho, Meggy, Sérgio Machado, Thandie Newton, Joel Rufino, Nei Lopes, Ilê Aiyê, minhas crianças todas, mainha, Grace, Léo, Erico Brás, Lázaro Ramos, Leandro Firmino da Hora, Dayane, Milton Santos, Mafalda, Hugo, Liberdade, Picasso, Caio, Matisse, Da Vinci, Pedro Juan, Drummond, Spike Lee, Buda, Lauryn Hill, ufa, Não necessariamente nessa mesma ordem. Só os de cara, tem os de coração. _____________________________________________________________________________________ Eu falei Nhanderu em guarani é deus, assim como deus é Alah em árabe No que completa meu aluno E Oxalá, em yoruba Eu, toda feliz, né? Mais feliz ainda foi quando levantei a discussão sobre as terras indígenas roubadas pelos portugueses e uma das crianças argumentou Mas por que a gente não constrói um lugar para eles viverem? Tentei falar algo, mas aí levanta a mão uma outra e diz Ah, eu não acho certo essa idéia da Luana, não, por que se eles ficarem chateados com a gente vão fazer uma mágica e a gente vai ficar com a cabeça deste tamanico E outra, mais impaciente Não é isso, pessoal, não tem nada a ver. A gente não tem que construir nada para eles, a gente chegou aqui depois e eles que tem que viver presos? Acho que a gente tem que aprender a viver com eles, viver todo mundo junto, a gente aprende com eles e eles com a gente, entendeu? Nessa hora, eu já tinha sentado na minha cadeirinha, pra assistir o debate. Não preciso mais dar aula. Crianças de oito e nove anos discutindo questões tão importantes pro mundo, diz se não é a melhor recompensa? Fico com os olhos marejados de lágrimas, construção do conhecimento ali, e bem no meu nariz! Caderno? Pra registrar, pra anotar nossas conclusões, não pra viver com a cara em cima, sem nem olhar pra cara da pessoa que senta do seu lado, afinal, tem as árvores, coisa que eu falei lá em cima, não esqueçam. _____________________________________________________________________________________ Eu disse, eu disse. José Serra estuda diminuir o número de cadeiras nos ônibus. Pra quê? Pra caber mais gente, minha gente! E tem gente apoiando dizendo que na China é assim, que os trens lá não têm lugar de sentar, só um negocinho de segurar na hora do sacolejo. Mas todo mundo esquece de lembrar que na China os trens são de ultima geração e as viagens não duram quase seis horas por dia, ida e volta. Tu vem aqui no meu bairro, eu que vou trabalhar de manhã cedo e tomo um lotação (adoro usar essa palavra, só por causa daquela história, A Dama do Lotação, sou quase-eu, no horário que tomo o lotação sou rainha, quase-só-eu de muié) no contra-fluxo (todo mundo que mora em São Paulo aprende essa palavra uma semana depois que está aqui) e tem trânsito, pessoas ganham qualquer merreca e compram um carro velho, entope a cidade de carro, acabou-se o mundo. _____________________________________________________________________________________ E eu queria dizer uma coisa, mas não queria ser tão socrática. Só posso dizer que quanto mais eu aprendo, menos eu sei. Essa é a única verdade do mundo. Esqueçam o resto e concentrem-se na vida toda que vocês têm pra viver. _____________________________________________________________________________________ Se tu me dissesse Mas eu tenho outros corpos, e eles estão por aí E eu te respondesse Se tu tem outros corpos, isso me obriga a ser eu mesma sempre. Por que senão, como vou saber se você é você mesmo, quando te encontrar de novo por aí? Preciso ser eu sempre, pra te reconhecer Tu iria me achar uma menina interessante? Um ser de possibilidades?

quarta-feira, abril 16, 2008

Emoção.

Emocionada. Me diz o que tu faria, se uma criança de oito anos te dissesse Sabe, professora, eu tenho vergonha de dizer, mas quando eu era menor eu tinha vergonha da minha pele, do meu cabelo, tinha nojo do meu pai, negro. Eu tenho vergonha de lembrar disso, mas agora eu não tenho mais vergonha dessas coisas, eu descobri que eu sou bonita, e sou feliz de ser negra. Se te dissesse desse jeito sim, com essas palavras, sem tirar nem pôr. Emoção, olho encheu de lágrima, mas deixa eu parar, que criança demora a entender que tu pode chorar de alegria também. Volto pra sala.

segunda-feira, abril 14, 2008

Confusão.

Estou deliciosamente confusa. E desesperadamente ansiosa, adorando isso, respirando fundo e pensando vinteequatro horas em alguém que até bem pouco tempo atrás eu tinha desistido. E mais não falo, por que sou ansiosa, mas sou discreta.

quinta-feira, abril 03, 2008

Nada não.

02.04.2008

Quem tiver de sapato num sobra

Já dizia o bandido da Luz Vermelha.

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Lasar Segall, eu gosto dele. E com uma tela dele, consegui pela primeira vez chorar, diante de uma obra de arte. Alguém ainda faz isso nos dias de hoje? Alguém te faz chorar, além do seu amor não-correspondido?

Encontro, 1984. Nome da tela. Uma mulher branca, um homem negro, se encontram numa das muitas ruas de uma cidade, pode ser São Paulo. Ela de perfil, altiva e esnobe, ele de frente, olhos baixos. Não quero dizer mais nada.

Perfil de Zulmira, outro quadro de Segall que gosto. Lembra a Zulmira, a federal do Tião Medonho, aquele mesmo, que assaltou o trem pagador, maior roubo da história da América do Sul e que “puliça” nenhuma imaginava ter dedo de brasileiro, ainda mais preto e favelado. Diferente de Tarsila, Segall pinta uma preta bonita, sensual, sem exotismo: é só mais uma mulher, entre tantas, mas bonita, bonita.

Morro Vermelho, mais um quadro. Vejam por si mesmas e mesmos esse aí, pra dar gosto de ver os outros:



Luz péssima dessa reprodução, mas valeu a intenção. Ou não?


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Roger Bastide, em seu livro O Candomblé da Bahia (2001), diz

Sobre a manutenção da poligamia africana no Brasil, reinterpretada em termos ocidentais, ver sobretudo Octávio Da Costa Eduardo, op cit, pois trata-se do exemplo mais nitidamente africano: o marido dá a cada uma das mulheres uma roça que ela cultiva e da qual vende a colheita em seu próprio beneficio. Na Bahia, geralmente, cada mulher vive num bairro diferente, do mesmo modo que na África cada uma tem sua própria casa, em torno da do marido, indo este visitá-las de tempos em tempo

Não tenho nada a ver com isso, pergunte a Bastide. Pena que o ômi morreu em 74. O livro todo é bom, leiam, é um deleite. Por que quanto mais eu leio sobre a África, mas eu descubro a mim mesma, quanto mais eu entendo de candomblé eu lembro da minha infância e entendo os jogos, frases, sorrisos, eu entendo da Bahia, de minha família, amigos e amigas, cidade e coração: quanto mais eu vivo, mas vida ainda eu tenho e quero pra viver, pra viver de novo, dessa vez mais aprendida.

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Escrever pra curar feridas
E abrir caminhos
Despachar tristezas
E aliviar corações cansados

Eu tenho corações
Que trabalham diferente
E passam o tempo no contratempo
Ludibriando minha razão

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Essa cidade me atravessa


Eu já escrevi isso?

E tem outra:


Tava sonhando acordada
Mamãe (Oyá) sentou do meu lado
E me falou
Que aquela dor que doía
Ia encontrar calmaria
Nos braços de outro amor
Paixão me fez marinheiro
Fez do meu cais, meu saveiro
E me navegou
Saí cantando vitória
Tristeza virou história
De pescador


Canto e recanto. Demora pra acontecer, mesmo quando a gente acredita na música? Quando eu digo não é não. Mas quando eu digo sim é sim. Sou ruim, sou oito ou oitenta, ou oito e oitenta, mais sou eu (não errei, é mais sou eu mesmo), sou eu mesminha, sem cópia nem chave-mestra, não sei ser outra, por que nunca fui outra, e ser eu dá trabalho, sendo outra quando no meu corpo sou eu deve dar mais trabalho ainda, então me deixa ficar quieta e esperar passar.
Liguei pra tu, queria só dizer

Tira ele daqui de dentro, não quero mais gostar dele

Mas você não atendeu. Meu mandigueiro particular não me atendeu.

Saudade de Itapoan, me deixa
Me deixa
Aaaa
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Eu tiro onda mermo. Boto banca, quebro tudo. Se tu fosse eu, faria a mesma coisa.