Rapaz, tem um material massa aqui.
Eu não conhecia essa editora, e vocês?
Gente, quando é que as pessoas vão perceber como é chato dizer:
É sobre isso
Onde que
Houve um tempo em que parei de falar
Então
Dava agonia ver as pessoas usando então e tipo para pausas. Dava, sim. Sou birrenta com as palavras? Sim. Ouvindo toda hora, jovens, cansa demais. Nada em excesso presta mesmo.
Mas a verdade é que... eu não gosto de gente que fala fala fala e não fala é nada. Não se mostra, não aparece, não apresenta nada além de frases feitas e palavras repetidas. É um esconderijo péssimo, mas as pessoas que moram neles acham que estão bem escondidas.
Se você faz uma coisa todo dia, você aprende?
Aprende.
Mas não pensa que foi fácil tirar essa foto, não. Mas tudo bem, eu consegui. Segurei a moto com uma mão só, parei, cliquei e subi a ladeira, depois de treinar fazer voltas e mais voltas num pátio grande do fim da rua.
Eu olho para mim hoje e não acredito que já estou assim. Quando Gal Costa chegou, eu nem sequer saía com ela sozinha até a frente de casa. No dia que tentei fazer isso, caí por cima dela e me machuquei. Mandei fotos contente dos machucados, como uma adolescente quando quebra o braço e pede que escrevam no gesso. Me senti jovem de novo, quem é que tem machucado no cotovelo com 42 anos? Só alguém que está se aventurando por aí. Passou uns dias, tentei de novo subir na Gal e dar partida. Fui indo. Fui empurrando a moto, como ainda empurro, mas agora já estou quase na fase de descer a garagem em cima da motoca.
Tive muitos professores. Um deles era maravilhoso, não me ajudava em nada. Só ficava de longe, olhando. Me observando e vendo o que eu conseguia fazer. Eu não sabia como tirar a moto do lugar, porque eu não sabia andar de bicicleta. Eu não sabia para que lado a moto tinha que ser virada se eu queria levá-la de um canto a outro. Ele não fazia nada, com muita paciência me esperava. E eu ia. Devagar e sempre. Até que um dia eu pedi que ele fosse com a moto dele me acompanhando e ele não foi. Eu percebi, mas continuei indo. E indo. Aí voltei e ele estava lá, batendo palmas para mim em frente de casa. Passei por ele, desci a ladeira que eu nunca tinha descido sozinha. Voltei. Desci de novo. E ele lá, me olhando.
Foi muito importante cada pessoa que me ensinou um pouco e ainda hoje eu aprendo (hoje mesmo um novinho me ajudou a voltar para casa).
Estou cansando das descoragens do povo, sim. Tenho direitos de cansar. E, mais ainda, de descansar. Às vezes, me sinto rodeada de gente sem iniciativa, com medo, indecisa, parada, sem se movimentar para as coisas que ama.
E isso vai dando uma vontade de navegar outros mares. De encontrar gente que tem ânimo para fazer o que é necessário e o que dá brilho no olho, que vai atrás, que se aventura, se arrisca. Gente que faz o coração dar pulos de admiração.
Eu preciso dessa coisa, do admirar, de saber que a pessoa faz algo que gosta e se não está fazendo, é só ainda, ela está indo para o lugar que quer ir, onde quer chegar, ela está se movimentando para descobrir, se não sabe. Eu gosto disso, eu não posso ser a única pessoa perto de mim que vive fazendo isso o tempo todo porque senão, onde eu vou recarregar minhas energias?
Eu faço isso todo o dia? Todos os dias? Não, mas eu sei que faço muito. Eu sei o que eu não faço e não é isso, não é ir não atrás do que eu amo.
Oxe!
Adoro o nome Míghian Danae, gente. Leiam aqui a matéria.
Engraçado como a gente engole um elefante e se engasga com uma mosca. Eu mesma me vejo fazendo isso. Às vezes penso coisas como
viajo o mundo mas não consigo pegar a escada e limpar a poeira que assenta no chuveiro mesmo todos os dias olhando para ela
E depois tem as coisas que eu aprendo totalmente novas - como dirigir - e que eu achava que era uma coisa (força) e é outra (suavidade). Eu fico completamente absorta em pensamentos que me fazem ter a certeza que ainda sei muito pouco sobre a vida.
Vocês já escreveram cartas para vocês mesmas? Eu ando fazendo isso toda a semana, cartas para uma Míghian do futuro. Ontem mesmo recebi uma que mandei um mês atrás. Um mês atrás e eu estava com saudade e me sentindo sozinha o bastante para repetir uma música por muito tempo.
Uma música que nunca nem ouvi com ninguém por quem me apaixonei. Como a gente precisa de pouco quando quer reclamar da vida.
Eu olho para mim e me vejo tão corajosa. Real. Tanta coisa que acontece comigo e eu penso: rapaz, lá vou eu aguentar isso de novo? De novo? E de novo?
E ainda assim, não desisto. Fico pensando em situações pelas quais já passei e ainda passo por ser mulher, por ser negra, por ser baixinha, por ter 42 anos e fico pensando em como é que eu aguento. Como é que eu aguento? Nem eu sei, na verdade. Não mesmo.
Ou sei, um pouco. Porque eu falo o que eu penso quando eu sinto que posso. Porque eu me analiso e analiso as coisas que vou conseguir sendo quem eu sou. Porque o preço para continuar sendo eu mesma é caro mas eu trabalho para pagar.
Aí eu acordo de novo, medito de novo, respiro de novo e continuo. E sigo. E vou. Nem sempre pelo mesmo caminho, às vezes usando atalhos. Eu vou. Porque não?
Porque sim.
Perdi o tesão por ele, porque ele tem tanto medo de se entregar que eu cansei. Cansei de esperar a flor do desejo e do maracujá desabrochar. Não quero provar mais nada.
E eu conheço há tanto tempo, mais de dois anos. Mais de dois anos e ele continua com medo de viver, fica vivendo aos pouquinhos, picado, fazendo só o que precisa fazer para não morrer e o resto do tempo, parado.
Perdi tesão porque perdi admiração. E isso está tão nítido para mim que nem preciso mais fingir qualquer coisa.