Você que me lê, me ajuda a nascer.

sábado, abril 30, 2022

Spera.

Eu espero que você me olhe com olhos de desejo quando me vê sem querer trocando de roupa. Eu desejo isso, eu preciso disso. 

Eu espero que você acorde mais cedo e, ao invés de pegar o celular e ir ao banheiro, prepare um café na cozinha e me traga na cama (eu até finjo que ainda durmo, se você quiser).

Eu espero que você me escreva uma linha carinhosa de amor num guardanapo, qualquer coisa para lá de bonita, no meio de um dia monótono, nós dois trabalhando lado a lado num home office.

Eu espero que você beije minhas dores porque sinto falta de cuidado e porque eu fico cansada de ter de pensar em tudo, check-ins e comidas preferidas, presentes para a família e tudo aquilo que você nem pediu - mas com certeza irá agradecer porque eu fiz e sempre farei.

Eu espero que você faça a comida sem eu pedir ou indicar nada, que você cante uma música, que você me diga o que vai dentro, eu espero. Eu espero porque sou feita de uma matéria chamada carne, que implora para ser amada, que cria sonhos por debaixo da pele, que sofre a dor mas conhece a delícia também quando ela vem.

Eu espero que você me chame para conversar numa noite clara de lua linda e não torne as coisas difíceis como se eu estivesse criando um problema que já existe entre nós, como silêncio, medos ou inseguranças.

Eu espero que você ponha nome nos seus sentimentos e não me trate por um nome genérico quando se dirigir à mim, eu espero ser especial e espero parecer especial longe ou perto de você. 

Eu espero porque quando eu olho dentro de mim eu vejo belezas e forças que me fazem uma mulher incrível e linda, doce e perfumada, preocupada com a saúde e o cabelo, com sede de te amar todos os dias. 

Eu espero porque eu fiz tantas coisas para ficar contigo e ainda faço, eu existo e me levanto todos os dias e passo por cima de dores que doem até hoje, para amar você.

Eu espero porque eu quero conversar sobre tudo que dói e mesmo assim eu não irei embora e eu acho que isso é amor. Ficar. Estar. Ser para a gente, para continuarmos aqui.

Eu espero porque é só isso que me resta, além de acreditar.

Eu espero. Ansiosa. Eu esperança.

Machismo again.

Lembra de uma época, uma campanha em que se perguntava "onde você guarda seu racismo?". Eu às vezes tenho vontade de perguntar isso para os homens, onde eles guardam o machismo deles. É muito bizarro os caras não perceberem que vários processos inconscientes que eles não sabem nomear são... machismo.

Machismo mata, machismo adoece.

E eu odeio clichês, eu luto contra eles o tempo todo, mas preciso reconhecer o quanto essa desgraça faz mal para a gente. É um dor sem nome, justamente porque ninguém quer dizer o nome. Ninguém quer reconhecer que é isso, é machismo quando você não consegue prestar atenção na mulher que você vive dizendo que ama, quando você não é cuidadoso, quando você prefere viver pedindo desculpas a consertar as merdas que faz, é machismo e ponto, poxa, tão simples para nós, tão certo, tão fácil de ver. Tão dolorido de sentir.

E a gente não quer apontar, a gente quer que tenha esse reconhecimento e paz. Sem sobressaltos de alguém que tem medo de não parecer homem (ainda não consegui decidir se é pior o machista ou aquele que acha que está em desconstrução).

Esse machismo perverso, sutil para quem pratica, é o que vai nos levar a falência amorosa.

Desamor mata, desamor adoece. 

Comunicação.

Alguém sabe como a gente conversa com quem não quer conversar? E com quem diz que quer conversar, mas não conversa? Com quem acha que conversa, como é que a gente conversa? E com quem corta conversa?

Alguém sabe?

Eu não sei, acho que só sei conversar com quem quer conversar. Com quem para, respira fundo, começa de novo, senta perto, com quem chama, com quem fala o que quer conversar. Com quem não espera a conversa chegar nem a vida ficar ruim demais. Eu só sei conversar com quem quer falar e está disposto. 

Eu estou cansada de querer conversa com quem não sabe nem por onde começar mas também não procura ajuda. Com quem diz que não sabe o que fazer e não procura aprender - mas diz que já mudou muito nos últimos anos e que quer mudar mais, mesmo que até agora a coisa mais bem feita foi assumir que não sabe o que fazer.


sexta-feira, abril 29, 2022

Enquanto o almoço não fica pronto, Sonia Rosa.


Sonia Rosa

Livros de Otávio Júnior.






 

Vontade.

Uma das coisas que mais me deixa triste ou desanimada é quando não sinto vontade de escrever. Isso acontece às vezes, isso está acontecendo agora. Quando sinto vontade de escrever cartas e enviar pelo correio é quando me sinto mais inteira, completa, Míghian em total liberdade de ser quem ela gosta de ser, escrevendo palavras doces com a mão. 

Quando não tenho nenhuma dessas vontades, fico murcha, com saudade de mim.

Espero que não dure muito tempo esse tempo.

Teias da Alma.


 

Coração Civil.


Conheci essa música há pouco tempo e já amo tanto, parece feita para mim.
Viva a preguiça, eu quero ver.

 

Roda Viva: Lázaro Ramos.


 

segunda-feira, abril 18, 2022

Man Down.


Em homenagem a uma amiga que ouve essa música quando está confiante ou com raiva.
 

Intensidade.

O meu problema sempre foi a intensidade, agora eu sei que é verdade. Não preciso mais fugir disso e nem dos meus excessos. O que eu preciso mesmo é gozar, não ter razão. 

Quando a idade chega, muitas certezas chegam junto. Posso errar, posso desacreditar, posso ter medo, posso fugir, posso chorar e me esconder. Posso fazer tudo, dizer que fiz e ainda assim, serei livre.

Completamente livre de uma vida monótona. A intensidade, você sabe que é verdade.

Medida Provisória.


 

sábado, abril 16, 2022

Heaven Reaches Down to Earth.


 

A redoma de vidro, Sylvia Plath.

 


Um amigo me recomendou e comecei a ler, atravessando a lista de sempre. Não queria que o livro acabasse porque é bem escrito demais. Quando ele terminou, fiquei triste e me sentindo impotente demais perante as coisas da vida que a gente não pode controlar. Não que eu já não soubesse, o livro só fez me relembrar. Aí bagunçou um pouquinho a vida que estou tentando arrumar aqui dentro de mim. 
A autora me fez perceber também que não precisamos ser entendidas sempre mas, ainda assim, é possível escrever bem. E isso é a coisa mais maravilhosa que um aprendiz de escritora precisa saber.

Não quero falar nada do livro, não. Aha.


Sylvia Plath

segunda-feira, abril 11, 2022

Todo o dia te amo te amo o dia todo

Acordo pensando nele porque dormi pensando nele e sonhei com ele

Todo o dia te amo te amo o dia todo

O dia inteiro te amo te amo um dia inteiro

Não quero deixar isso passar nem correr nem parar só seguir e amar

Falta pouco tempo para toda essa saudade terminar e a gente só pensar em quando ela vai voltar 

domingo, abril 10, 2022

Coração e vida.

Quando ela fala meu nome meu coração enche de vida. Quando ela repete meu nome eu tenho a certeza de que a gente precisa de pouco para ser feliz.

Ela não precisa ser minha, ela só precisa existir e chamar Migh de vez em quando. 

Vem.

Todas as manhãs eu sinto o cheiro dele perto de mim em qualquer lugar que eu esteja. Lembro de seus beijos de olho fechado em meu nariz e quando ele vira de costas pedindo sem pedir que eu o abrace. 

Todas as manhãs eu espero pelo mesmo milagre, que seja ele inteiro ali comigo e não apenas o cheiro dele me acompanhando onde eu vou. 

Eu conto nos dedos os dias que passei sem ele para ajudar o tempo a passar. Eu conto nos dedos os dias que faltam para ver seu sorriso porque tenho certeza que é isso que vale a pena na vida.

A gente tem tantas obrigações na vida e não foge de (quase) nenhuma delas, porque deixar o amor para depois?

segunda-feira, abril 04, 2022

Live Racionais.


Eu demoro mas vejo, por mim. Se eu disser que estou ouvindo Boogie Naipe hoje, alguém vai dizer que eu não vivo nesse mundo. Ah, Djonga Heresia estou ouvindo agora também. 

 

Mano a Mano: Gloria Groove.

 Eu ouvi esse também

Gostar da gente (ou não).

Às vezes eu queria sair de mim. De dentro de mim, me olhar de fora, como uma outra pessoa me vê, para saber se eu ia gostar de mim. Só às vezes eu queria saber como era olhar para mim e me ver com tudo que eu carrego em mim, só para me ver.

Mainha disse que faz bem a gente se conhecer. E eu respondi para ela

O difícil é quando a gente se conhece e não gosta da gente. É aí que o bicho pega. Quando a gente se conhece e se gosta, tudo bem; mas e se quando a gente olhar for só coisa que a gente não quer ver? O que faz?

Ela riu. Eu ri. E a gente se disse

É... 

Foi bem assim.

No dia em que o oceano engoliu a poça d'água.

Era uma vez um oceano de bobeira no meio do mundo. Era um oceano cheio de água, largo e profundo. Tinha tanta água ali que às vezes, só para transbordar de leve, o oceano chorava (dizem que isso acontecia quando a tristeza lhe visitava). 

A tristeza vinha acompanhando a tempestade, quando ela acontecia de chegar e chover em cima do oceano. Era confusão de água para todos os lados, era barulho, tristeza e um pouco de raiva, a tempestade não passava sem dizer a que veio.

Horas depois, quando o sol surgia novamente secando a tempestade e acalmando as tristezas das raivas, o oceano percebia que uma parte de si havia se transformado em milhares de poças d'água. O oceano sentia-se pequeno, diminuto, espalhado por aí, pelas areias do mundo que logo empapavam suas águas rasas.

O oceano convocava assim a tempestade para bagunçar suas águas e recuperar de novo suas poças que andavam desgarradas dele sem destino, se sentindo solitárias, pequenas, rasteiras.

O oceano ia então, pouco a pouco, engolindo de novo as poças d'água que lhes pertenciam, uma a uma, com a ajuda da tempestade e lhes dizia:

Nunca pense que você é coisa pouca. Você sempre foi coisa muito grande, viveu dentro de mim lá no profundo de mim, volte para onde é o seu lugar.

E era nesses dias em que o oceano engolia poças d'água que o mundo dormia calmo e em paz, depois de tormenta e tristeza.

O Aristocrata Clube: Resistência e Movimentação da População Negra na cidade de São Paulo (1960-1970).

 Eu já li, e você? Aproveita e assiste.