Eu quero escrever que eu não quero escrever sobre o que eu tenho de escrever. Eu tenho, eu preciso, eu sei que quando escrevo eu renasço e muita dor vai embora. Muitas tristezas que estão dentro, imagens e lembranças vão embora. Tenho de escrever porque é forma de tirar de dentro, fazer sair, para fazer morrer, para fazer nascer algo que me faça não precisar escrever sobre a dor.
Bethânia me diz
Estou cansada, e você também
Vou sair sem abrir a porta
E não voltar nunca mais
Desculpe a paz que lhe roubeiPorque será que é bem assim que me sinto? Eu sinto que as pessoas sentem também, mas não querem dizer mais nada. Parece que se a gente fala do que incomoda é que a coisa nasce. Só que a coisa já está ali, só ganhando espaço e fazendo marcas na gente inteira.
Fecho os olhos e lembro. Toco meu corpo e sinto. Suspiro saudades e penso.
Para ir embora, não é preciso abrir a porta. Tem gente que consegue ficar perto bem perto, bem junto e ainda assim estar bem longe, muito longe, pra lá de longe de você. E esse jeito de viver me desanima, me canso, eu desgasto. Eu acabo morrendo um pouquinho se não tem luz nem gosto, aquele gosto intenso de viver.
Que seja forte, que seja frio, que seja. Eu preciso sentir coisas frias ou quentes, eu não consigo viver de um jeito morno a pouca vida que eu tenho para viver. Mas eu já prometi para mim mesma que eu vou ficar aqui, espectadora, esperando a vida passar, assistindo a vida passar, até que eu entenda o que está acontecendo (de novo) comigo.
Eu não preciso estar no palco da vida, da minha vida, o tempo todo. Posso sair de cena e respirar, me acalmar, posso sim. Eu não sei fazer isso, mas assim como posso aprender a andar de bicicleta, também posso aprender a só ser, esperando.
Eu estou confiante e animada no futuro. No futuro.