Você que me lê, me ajuda a nascer.

segunda-feira, janeiro 31, 2022

Outras Mamas, Podcast #EP11 - Sabrina, ecossocialismo e o mundo que queremos.

Ouça você também.

Ela.

Hoje, acordei de um sonho com ela. Ela, de vestido e cabelo solto, não falava muito, mas estava ali. Senti o frescor do seu sorriso quando acordei, como se a tivesse visto pessoalmente, segurado sua mão e sentido seu abraço. Ainda lembro aqui dentro da minha cabeça sua coragem de ir ao encontro do mar sem nunca ter sido a ele apresentada. Lembro também de como ela nem se importou com a altura que subimos para ver a cidade lá de cima. 

Ela.

Eu não consigo entender uma vida sem crianças. De tudo que a pandemia me roubou, do que mais sinto falta é delas.

Altos Negócios.


 

Volta, Gal Costa.


Finalmente arrumei um amor para cantar essa música.

domingo, janeiro 30, 2022

Descontrolada.

Você acharia engraçado se eu dissesse que estou apaixonada há quatro meses mas só agora eu assumi para mim mesma que paixão tem consequências como descontrole e medo? Não ria.

Eu sei que estou apaixonada faz tempo, estou escrevendo isso faz tempo aqui, vocês sabem; mas alguém teve de dizer para mim que paixão não é uma coisa controlada, não. Paixão não é só uma palavra para encher poesia, paixão bagunça a sua vida, deixa você fora do ar, descontrolada. Paixão é justamente não saber o que fazer, não ter certeza de muita coisa e só querer saber de quem se ama. 

Estou falando bobagem, não é? Todo mundo sabe disso. É, mas eu fingi para mim que paixão não ia fazer nada disso comigo. Aí eu enchia a boca para falar de paixão, mas achava que eu não tinha sido picada por ela. Eu era uma apaixonada racional, uma apaixonada que havia dominado a paixão. Ledo engano. Tivesse eu sido menos marrenta, talvez ela não tivesse chegado lascando com tudo. Bem pouco. Toma, distraída.

Sabe quando eu descobri que eu estava redondamente enganada?

Quando ele foi embora e eu passei o dia sem vontade de fazer nada e só levantei da cama no outro dia. Quando ele me manda uma mensagem e o meu coração vai na Lua e volta. Quando eu sinto o cheiro dele mesmo quando ele não está aqui. Quando fecho os olhos e penso em tudo que ainda não fizemos juntos - comer beterrabas cozidas, tomar banho de chuva e dormir deitados na grama do quintal.

Aí eu vi que estou descontroladamente apaixonada sim e pronto. Estou morrendo de medo e assustada, mas estou indo bem. Ainda estamos aqui, de mãos dadas e amantes.

Código Desconhecido.


 

sábado, janeiro 29, 2022

Uma vontade me toma 
E eu que nem faço rima
E adoro o contrário de Roma 
Continuo sonhando com a ideia de soma
Com alguém que nem sei (mais) se me ama

Eu te amo, Amor.

Eu amo o amor, mas isso todo mundo sabe. Já me disseram isso uma vez e eu prontamente acreditei. Hoje me perguntaram se eu tenho fé, eu disse "no amor".

É pelo amor que eu tento de novo, todos os dias, que eu quero querer e continuo sonhando sonhos que não se devem sonhar só. 

É pelo amor, não quero a dor nem o sofrer. A gente nem sempre pode escolher. A tristeza pode te alcançar no meio de um sábado solitário, ouvindo músicas que te dizem que você não deveria estar se sentindo assim, afinal, é sábado. A tristeza chega, você encontra com as amigas, se diverte mas na hora de dormir uma coisa sempre te consome, sempre vai te consumir, vai, sim. 

Preciso aprender a só ser, Gilberto Gil.


Eu preciso aprender a ser , aprendi com Tim Maia cantando para mim. 
Eu preciso aprender a ser, Gil está tentando me ensinar.

Vem, Gil, ilumina minha vida cheia de folhas secas e tristezas penduradas de uma árvore chamada distância no país da saudade.

sexta-feira, janeiro 28, 2022

Versões.

Eu escondo de mim versões minhas que não gosto de conviver. Passo muito tempo sem elas, nem lembro que elas existem, mas elas estão aqui. Como quando eu lembro da raiva de uma sogra racista que eu tive; eu tive muita raiva dela e não gosto de lembrar disso, mas sei que tive e ainda não acho que quero deixar de sentir. E não é porque eu seja boazinha que não queira sentir raiva, é que dela eu não queria sentir era nada. 

Raiva ainda é alguma coisa, é de um tempo que senti amor e queria ser aceita. Por isso, me dá raiva sentir raiva dela. 

Eu escondo de mim as versões que não quero saber que existem. Como minha falta de traquejo com redes sociais. Lembrar disso me faz ver o quão coisas estúpidas me fragilizam. E eu não quero saber que eu sou isso também. 

Ao mesmo tempo, não gostar de versões de mim e escondê-las é saber que elas existem e, como eu não preciso me perdoar, ao fim e ao cabo estou convivendo com todas elas aqui. Só finjo fingir para não ficar tão cansativo, tudo ao mesmo tempo não seria possível, nem se eu tivesse duas vidas.

Clube das mães Cansadas, Podcast #EP5 - Amamentar é lindo, mas cansa!

 Eu falei que estou na onda do podcast, pow.

Meteoro Brasil entrevista Suzane Jardim.


 

Não olhe para cima.


 

quinta-feira, janeiro 27, 2022

O avesso da pele, Jeferson Tenório.


Os livros sempre se antecipando uns aos outros. Se colando nas caronas das conversas, bagunçando minha lista. De repente compro um novo porque preciso ganhar frete grátis na compra de um cortador de grama ou de uma balança digital e então ele chega e brilha na minha cara, me apresenta uma frase de saída que me pega e aí eu, que nunca fui fiel a nada, a não ser aos meus desejos, pego e passo o livro na frente.
O livro passa na frente, não Maria.

Foi assim com esse. Quando vi, 50 páginas tinha ido embora e eu há me sentia amiga íntima de Pedro e solidária à Martha, com raiva e com amor de Henrique. Começa assim:

Às vezes você fazia um pensamento e morava nele. Afastava-se. Construía uma casa assim. Longínqua. Dentro de si. Era esse o seu modo de lidar com as coisas. Hoje, prefiro pensar que você partiu para regressar a mim (p. 13). 

Tenório escreve coisas que eu já disse ou pensei e aí leio e me sinto descoberta. Olho para um lado e para o outro, não, não tem ninguém no quarto.

Mas a gente nasce porque tem que nascer (p. 39). 
Na verdade, na infância quase nunca há o que fazer (p. 41).                                                                  

O personagem Pedro falando de seu pai e sua mãe me diz coisas que me fazem emocionar.

A verdade é que vocês não se amavam o suficiente para suportarem os seus fantasmas. Vocês eram apenas duas pessoas quebradas. Cada um com seus cacos. Cada um buscando uma escora. O amor como muleta. Naquele momento, a vida já havia tirado tanto, que vocês achavam injusto que o amor não pudesse servir como amparo. Acontece que, em vez de buscarem algo que pudesse reconstituir os afetos, vocês resolveram se cortar com o que restou. Laceraram um ao outro porque, a certa altura da vida, as pessoas perdem a capacidade de amar (p. 27).

E, quando olhei de novo, já estava no fim, com uma dor estancada que não me permitiu chorar por nada, mais nada. Fiquei ali, lendo e lendo e lendo e esperando o fim do fim, porque as coisas já tinham morrido há muito tempo. 

Prefiro uma verdade inventada, capaz de pôr de pé (p. 183).

Isso me fez lembrar coisas de mim, que já passei. Acho que sou assim, como Pedro também. Invento ou esqueço de coisas só para seguir minha vida bem feliz. Eu escolho não sofrer, deliberadamente inventando coisas e esquecendo também. Seleção natural para viver melhor, talvez seja um nome pomposo para isso.

 Jeferson Tenório

quarta-feira, janeiro 26, 2022

Outras Mamas: Podcast #EP78 - As prisões são necessárias?

Agora eu estou na onda do podcast, viu? Aqui.


Lili Entrevista: Rita Von Hunty.


 

Crianças Negras: Relações raciais e educação infantil.


 

Excluir conta II.

Eu nem sabia que eu ainda tinha uma conta no Instagram. Pense vocês. 

Há muito tempo atrás, eu fiz uma conta, que não durou nem um mês. Achei aquilo tudo tão chato e tentei excluir, mas não consegui. Aí eu fiz alguma coisa para remover temporariamente, só que de tempos em tempos, quando alguém me mandava um link nesta rede para ver alguma coisa, sem querer, eu acabava ativando a conta. Ontem, isso aconteceu de novo. Não me pergunte, quando vi já estava novamente dentro de uma conta chamada mighdanae.

Eu já havia removido todas as fotos faz tempo.

Aí ontem encontrei um site que de um jeito muito simples me ensinou a excluir a conta. Foi tão fácil que eu me perguntei porque é que eu já não tinha feito isso antes. 

Eu não sei em que momento da vida eu passei a ter aversão à redes sociais. Eu sei, geral pode falar, tu já começou namoro pelo Orkut, com direito à "casa comigo?" e choro em aeroporto, o que tu quer falando de rede social? Eu não sei. Só sei que tenho uma ojeriza quase angústia a qualquer rede social, inclusive whatsapp. Num mundo perfeito, eu não teria nenhuma dessas redes. 

Eu sempre digo que os problemas não são as redes, sou eu. Em cinco minutos de ativação de Instagram, eu vasculhei coisas que passaria a vida sem precisar saber, encalhadas na memória da vingança e do ressentimento.  

A única rede que eu gosto é a de dormir, instalada de vez agora no meu quarto. Não sinto que preciso de nenhuma rede virtual para sobreviver, mesmo nesse tal mundo paralelo chamado Internet. Prefiro ler, escrever, ver filmes e dormir. 

Eu já tenho um blog, há mais de quinze anos e isso já é demais para mim. 


Um mundo sem prisões é possível?


Aproveita e vê esse aí embaixo, também, vai.




 

Despejando amor.

Hoje eu ouvi que eu devo despejar em mim o mesmo afeto que dirijo às pessoas que amo. Na mesma hora tive a visão de uma grande bacia com uma coisa parecida com placenta cheia de amor - o amor, se for líquido, deve ser uma coisa viscosa - e eu tomava banho nele. 

Nessa visão, eu me banhava numa bacia, mas também derramava esse mesmo amor na minha cabeça. Sorri feliz. Essa noite eu tive sonhos de abandono e tristeza quase a maior parte do tempo, e não é que eu possa lutar com isso facilmente. Eu só sei, eu só sinto que muito do que sou vem desse lugarzinho nebuloso dentro de mim onde tem um buraco.  

Não sei se um dia essa sensação vai deixar de existir e eu nem saberia viver sem ela. Ela está aqui há muito tempo e se ela fosse embora, eu não sei o que me sustentaria. Talvez parte do que eu faça seja para compensar essa fenda profunda, vai entender as pessoas. 

Vai passar, sempre passa. Eu sei, eu conheço dias e noites tristes, mas também conheço a alegria e a felicidade.

terça-feira, janeiro 25, 2022

Calma.

Respira. Calma. Deixa tudo isso para lá. Pensa em você e no seu tempo. Nada disso importa, o que importa é você. Fique bem. Você é a pessoa mais importante do mundo que você inventou, lembra? 

Então, para e vai fazer suas coisas. Ler, escrever, ouvir músicas, dançar na sala, comer comidas, dormir, olhar fotos antigas, dar risada, ouvir áudios, balançar na rede, vai.  

Não esquece, só você vai estar aqui quando tudo isso acabar. 

Mano a Mano: Fernando Holiday.

 Eu ouvi esse podcast e pensei: não dou dez anos para esse rapaz pensar diferente.



O sonho da pedra.


 

quinta-feira, janeiro 20, 2022

Lula fala à mídia independente.


 

Desachora.

Como é que desachora?

Aprendi com menino Nito, o livro de Sonia Dias. Se bem que eu não lembro de guardar choro dentro, não. Eu guardo choro fora, mesmo. Já tem coisa dentro demais de mim, então eu vou deixando uma coisas guardadas fora. E outra eu jogo fora mesmo, fora de mim. 

Com medo de encontrar por aí, mas jogo.


Skies of Lebanon.


 

Folhas no Quintal.

Lá atrás, uma pessoa me disse que adorava rotina e eu disse que não. Hoje, eu digo que adoro rotina. Uma porque eu adoro fazer a mesma coisa por vários dias todos os dias e outra porque ela é rara. 

Acordo, yoga, meditação. Banho. Preparar café ouvindo coisas como Mano a Mano ou um programa de entrevistas. Como e depois leio algumas coisas, livros que estou lendo. Mudei o horário porque percebo que dá mais certo ler depois do café.

Sento para trabalhar às nove e saio ao meio dia e trinta. Almoço. Por vezes tenho de fazer, por vezes, não. Sento para trabalhar de novo às quatorze e levanto quase às dezoito. Me preparo para recolher as folhas do quintal. Faço isso há duas semanas, todos os dias. Incluí mais essa coisa na rotina, antes de caminhar na esteira. Tem sido uma delícia grande varrer as folhas, recolher, jogar fora, todos os dias. Recomendo muito para os dias mais chatos da vida.

O vizinho passa, aceno um boa tarde para ele. Volto para a esteira e para algum vídeo no celular. 

Banho. Cafezinho com um pedaço de bolo, escolho um filme. Vejo um pedaço ou quase todo, adoro muito ver filmes aos pedaços, como uma novela que você não quer que termine. Às vezes como de novo, às vezes, não.

Já são quase nove horas, eu vou para a cama ler um pouco e receber a ligação amorosa do dia. Durmo.

Não tem coisa melhor no mundo do que rotina. É que ela que me mostra o quanto eu sou sortuda na vida.

Mano a mano: Gloria Maria.

Ouçam e vejam o que acham.

Educação e infâncias negras.


 

quarta-feira, janeiro 19, 2022

Sensação.

O amor é coisa que cura, muxima

E depois o mesmo que faz moer

Eu prefiro dizer assim. Quem espera que o amor seja uma ilha de paz não conhece o amor. O amor é a própria vida intensamente viva pulsando dentro de você. E eu só posso agradecer por sentir.

Hoje, quando fechei os olhos e pensei em qual lugar eu queria estar, lembrei de uma sensação especial de um dia especial que passei ao lado dele e que me fez sentir que eu era a pessoa mais importante do mundo.

Se você tem isso, você nunca mais quer viver sem amor. Curando e moendo, mas viva.

terça-feira, janeiro 18, 2022

A terceira vida de Grange Copeland, de Alice Walker.


A gente chega em alguns livros pelas autoras. Eu muitas vezes não leio nada sobre o livro e já pego para ler, começo e vou. Foi isso aqui, porque já li outras coisas de Alice. Um amigo também tinha falado muito bem do livro, da escrita, de como era bem escrito. Comecei a ler e depois de um pouco da história, fiquei impressionada como Alice conseguiu, em pouco mais de meia página, descrever - com sensações, sentidos, sentimentos - o que era o ciclo de uma semana na vida de uma família feita de mãe, filho e pai no sul dos EUA em meados do século passado (p. 25-26).

Eu imaginava que ia ser pau viola, ou seja, pesadão pesadão dão. Às vezes não quero ler isso, não. Eu consigo, mas não sempre. Só que não sei bem o que fazer. Tem dor e delícia em todos os livros, não só em livros escritos por gentes negras. Só que quando eu lia Memórias Póstumas de Brás Cubas, talvez não me tocasse tanto, por isso parece que tem livro escrito por gentes brancas que é só alegria, mas não vejo assim, não (nem Terry McMillan e seu livros sobre relacionamento com leveza consegue não pesar por vezes). Eu pelo menos não vejo mais assim, não dá para um livro ser só docinho, docinho e ser incrível. As coisas doem porque sou gente e sinto dor e amor na mesma intensidade. Não tem como escapar da vida, eu sempre digo isso. Eu não vejo como. 

Não faço resenha nem resumo do livro, eu escrevo o que eu quero aqui. Eu só vou dizer que o livro é a história de uma família negra através de algumas gerações, o que faz com que o personagem Grange Copeland consiga renascer e viver uma terceira vida. A percepção de Grange sobre como ele ainda poderia fazer algo para se tornar pessoa, ainda que tivesse errado em muitos momentos da vida - assim ele pensava - é o que nos mantém até o fim do livro, certas de que alguma coisa vai salvar todas nós. 

Não posso dizer se é bem isso que acontece ou não, porque depende de quem lê e do que espera do livro e da vida. Há gentes que não esperam salvação, também. Porque esperar salvação é uma atitude muito cristã. O que sinto nos livros de Alice e de Toni é que, tomados aos pedaços, parecem apenas descrições simples da vida que vejo ao redor, mas o conjunto da obra, olhado de longe, tem tanta força que eu poderia dizer que muitas vezes tornou-se responsável pela vida que respira em mim. Ler essas histórias tem me ajudado a me entender, quando eu mesma nem sei se quero ou posso entender nada. 

Eu muitas vezes não vejo sentido na hora que estou lendo, mas acho que ninguém lê livro fazendo isso, não é mesmo? Ninguém lê nada procurando explicação. Ao mesmo tempo, e com o tempo, todos eles fazem tanto sentido, enchem minha vida de sentido! Essas duas sensações - querer explicação e não achar explicação - não são contraditórias, elas convivem e me fazem ter a certeza que sim, ainda estou aqui.

Há muitas passagens que eu gostaria de copiar aqui, mas ficarei com uma delas (duas, vai), uma conversa tensa entre Grange e seu filho Brownfield:

Por Deus, eu sei o perigo de colocar  as culpa tudo em outra pessoa pelas besteira que ocê faz com a própria vida. Eu mesmo caí nessa armadilha! E eu tenho a tendência a acreditar que é desse jeito que os branco consegue te corromper mesmo quando cê nunca fez nada. Porque quando eles te convence que são os culpado por tudo, te convence a achar que são uma espécie de deus! Ocê não pode fazer nada de errado sem eles estar por trás. Ocê passa a ser fraco que nem água, sem ter a sensação de fazer nada por sua própria conta. E aí começa a pensar em maldade, começa a destruir todo mundo ao redor docê e colocar a culpa nos branquelo tudo. Merda! Ninguém é tão poderoso quanto nós acha que é. Nós é dono da nossa própria alma, não é? (grifos da autora, p. 267) 

[...] quer dizer, os branquelo pode ter me feito largar da minha esposa - continuou ele - mas onde estava o homem em mim que me deixou ir embora escondido, sem nunca contar a ela aonde eu ia, sem nunca dizer que eu perdoava ela, sem nunca dizer o tanto que eu estava errado?
[....] e os branco pode ter me obrigado a acreditar que comer cem piranha era um sinal da minha masculinidade - continuou Grange -, mas onde estava o homem em mim que me deixou enganar Josie de um jeito tão baixo, quando eu estava pouco me lixando para ela, desde que ela me obedecesse e comprasse a minha fazenda? (grifos da autora, p. 267-268)

Plau, plau, plau e acabou.

 Alice Walker

Love don't cost a thing.


 

domingo, janeiro 16, 2022

Pergunta.

Onde você esconde seu machismo?

Essa é a pergunta que eu gostaria de fazer para os homens que pensam que sabem tudo sobre não ser machista. Há sempre um lugar sob a carne em que se esconde o machismo, não se engane. Talvez ele esteja bem naquelas coisas que você não diz nem para você mesmo, ou aquelas outras que algumas pessoas dizem e veem e você não confirma porque tem vergonha de assumir o machismo. Ficou difícil de entender? Volta e lê de novo.

O que eu não sabia é que mesmo quando um macho tenta, ele não consegue. O mundo está aí para ele levantar, aprender e cair de novo, o mundo todo está aí para acolher um vacilo que um homem dá numa relação, afinal "eles amadurecem depois", "eles aprendem a ser machistas desde pequenos", há tanta justificativa que você se assombra. Ele não quer ser machista, mas ele é. Ele é porque até o que ele faz achando que é um deslize, uma característica, pode ser mais do mesmo, o tal machismo. 

Para nós, mulheres e negras, o que sobra?

Sobra se acomodar, se acostumar, só tem isso, não tem mais nada. Se alguém te disse o contrário, tudo bem. Eu mesma quando estou feliz finjo realidades sem machismo e desdenho dele. Não vou condenar quem quer tergiversar, eu faço isso também. 

Eu não gosto de análises clichês sobre a vida, mas aí me pego tomando bem no meio da minha cara só porque não quero prestar atenção em sinais óbvios como machismo, racismo, inveja e recalque. Eu agradeço à vida por ainda não saber tudo e me permitir viver as coisas de novo. Só posso agradecer à vida por ser uma boba (quase) completa. Boba porque acredito, porque me surpreendo, porque me permito. Eu gosto disso, porque é essa coisa em mim que me permite sentir tudo, amor, paixão, desejo e tesão, mas também tristeza, raiva e impotência. 

Eu me amparo em outras mulheres negras. E vocês, o que fazem? Eu me amparo em mim, em livros, músicas e filmes que falam sobre mim. E vocês? Eu me amparo no silêncio que sai da tristeza e da certeza, da lucidez que a cada dia mais eu sinto sobre a vida. 

Sob a areia.


 

sábado, janeiro 15, 2022

Companheira de mim.

Eu sempre tive a mim por dentro e por fora, não vai ser agora que a vida vai se mostrar diferente. Então, vem, deixa que a vida ensina o resto e faz companhia na hora em que nada mais der certo.  

Mesa SESC Brasil: Virgínia Rodrigues.


 

Ensinamento.

Foi aí que em um hora e meia de viagem, ela me explicou tanta coisa da vida que eu não imagino como é que eu vivi até hoje sem ouvir aquelas palavras. Ela fez questão de sentar ao meu lado e falou sem parar. Me fez rir quase todo o tempo e por fim, arrematou:

Quando eu era mais jovem, eu me perguntava porque é que meus namorados sempre me traíam. Eu ficava pensando, é porque tenho estria? É porque meu cabelo está desarrumado, minha unha não está feita? Não... hoje eu percebo que não é nada disso. Ele vai te trair, ele sempre vai te trair. Sempre. Se até Bruna Marquezine é traída, porque não eu e você? Imagina, que nada. Os homens sempre vão fazer isso, sempre. As amigas dizem, "ah, você está feia, é por isso". Mas não é. Não é.  

Ela ficou repetindo essa conversa algum tempo, como se para ter certeza que eu estava entendendo. E eu ali, ouvindo aquela certeza toda saindo de sua boca, fui curada sem nem ela saber. 

Eu quis dizer a ela que não era só isso, mas também que eles sempre vão descumprir acordos, sempre vão dar mancadas, vão fazer seu coração ficar apertado e vão fazer você não se sentir especial, não importa o que você faça ou quem você seja. Diferente de Margaret, esposa de Grange Copeland, eu não lutaria com a explicação de que tudo isso é necessário para criar respeito próprio e senso de masculinidade. 

Mas não precisei dizer nada. Ela sabia tudo. Chegou meu ponto e eu desci, certa de que se tivesse encontrado ela há um mês atrás, a vida teria sido mais fácil. 

sexta-feira, janeiro 14, 2022

Baby.

Baby, vem dormir comigo

Baby, sente a luz do sol

Eu queria estar sentada na praia cantando essa música bem baixinho agora. Mas eu não tou. Então, tá.

Amargura.

Não estou bem certo se ainda vou sorrir, sem um travo de amargura

Eu sempre gostei dessa parte da música. Acho que ela é profética, porque eu a conheço desde o tempo em que eu sorria sem nenhum travo de amargura. Hoje, não. 

E  não é que a vida esteja ruim. Aconteceu, foi o jeito que a vida veio. Eu sou grata por estar aqui. 

Fico sempre curiosa de saber quanto aquela dor no peito vai mudar a mim e o meu jeito de ser, quanto aquela dor, aquele calo feito no coração vai me impedir de ver alguma beleza, mas isso é coisa que não dá para medir. Dá para sentir que a vida não volta atrás e é nela que eu ando. 

É por isso que eu digo, não há saída, vamos viver.

terça-feira, janeiro 11, 2022

24h.

E eu, que achava difícil querer alguém por tanto tempo e mais e sempre, hoje me pego acordando e dormindo desejando estar no colo da mesma pessoa de ontem. 

Fechamento.

Sabe que eu não entendia o que era fechamento? Eu não. Entendia, não. Eu ouvia a música, cantava, mas sabia, não.

Aí eu digo que o jeito mais legal de aprender o que é fechamento não é alguém te dizer, mas você sentir que tem alguém que ama você tanto, tanto e que está disposta a passar horas enxugando suas lágrimas por problemas tantos que você nem nunca falou com ninguém e que talvez nem você mesma tenha falado para você ainda. 

A vida faz mal, mas a vida faz bem. As pessoas fazem mal, mas as pessoas fazem bem. Acredite nisso e tu vai longe, tenha certeza.

segunda-feira, janeiro 10, 2022

Farming.


 

Convite.

Se um dia disseram que a tristeza é senhora, foi porque a convidaram a entrar pela porta da frente. 

sexta-feira, janeiro 07, 2022

quinta-feira, janeiro 06, 2022

quarta-feira, janeiro 05, 2022

terça-feira, janeiro 04, 2022