Você que me lê, me ajuda a nascer.
quarta-feira, junho 30, 2021
terça-feira, junho 29, 2021
segunda-feira, junho 28, 2021
domingo, junho 27, 2021
Como eu me sinto uma pessoa de cor, Zora Neale Hurston.
Mas eu não sou tragicamente uma pessoa de cor. Não há uma grande tristeza represada em minha alma ou à espreita por detrás dos meus olhos. Eu não me importo nem um pouco. Não pertenço à sofrida escola da vizinhança negra, que sustenta aquela natureza, que de alguma forma, deu a eles um acordo baixo e sujo e cujos sentimentos os deixou todos feridos por isso. Nessa escaramuça confusa que é minha vida, tenho visto que o mundo é dos fortes, independentemente de uma pigmentaçãozinha maior ou menor. Não, eu não lamento ao mundo - estou muito ocupada afiando minha faca de ostras (HURSTON, 2021, p. 45).
Zora Neale Hurston
Comentar o quê, gente? Comentar MAIS o quê? Para. Aqui, ó. Aproveita e lê a revista toda.
Choices, Nikky Giovanni.
Descobri Nikki por causa de amiga (ah, as amigas). Ela me mandou um áudio lendo um texto dela de um livro que havia sido traduzido por sua professora em um curso livre sobre literatura. Lembrei muito de Geni Guimarães e seu poema Crise. Aí cacei e achei aqui. Que delícia, obrigada Desirée por essa (e outras) tradução! <3
Escolhas
se eu não posso fazer
o que eu quero fazer
então o meu trabalho é não
fazer o que eu não quero
fazer
não é a mesma coisa
mas é o melhor que eu posso
fazer
se eu não posso ter
o que eu quero então
meu trabalho é querer
o que eu já tenho
e ficar satisfeita
que pelo menos
há algo a mais para querer
já que eu não posso ir
para onde eu preciso
ir então eu devo ir
para onde os sinais apontam
mesmo sempre entendendo
que movimentos paralelos
não são laterais
quando eu não posso expressar
o que eu realmente sinto
eu pratico sentir
o que eu consigo expressar
e nada disso é igual
eu sei
mas é por isso que a humanidade
é a única entre os mamíferos
que aprende a chorar
Choices
if i can’t do
what i want to do
then my job is to not
do what i don’t want
to do
it’s not the same thing
but it’s the best i can
do
if i can’t have
what i want then
my job is to want
what i’ve got
and be satisfied
that at least there
is something more to want
since i can’t go
where i need
to go then i must go
where the signs point
though always understanding
parallel movement
isn’t lateral
when i can’t express
what i really feel
i practice feeling
what i can express
and none of it is equal
i know
but that’s why mankind
alone among the mammals
learns to cry
Poema publicado no livro Cotton Candy On a Rainy Day (1978)
(Fonte: The Collected poetry of Nikki Giovanni 1968-1998, p. 269-270)
Nikki Giovanni
Modern Love: histórias reais de amor, perda e redenção, Daniel Jones (org.).
Ficar sem um livro à mão é fogo. Eu baixei um aplicativo para ler no celular e passar o vício, 24h sem livro. Aí comecei a ler a amostra grátis desse, porque vi a série, indicada por um amigo (amo indicações, vejo tudo, tudo). A amostra tem cinco histórias e eu leria mais, mas não compraria também. Teve alguns trechos que eu realmente gostei muito, muito mesmo. Daquelas coisas que você precisa ler para entender que a vida não tem explicação, não precisa ter e você muitas vezes só vai.
É tanta coisa que a gente precisa ler na vida que às vezes vou deixando livros por aí pela metade. Depois eu conto isso.
Daniel Jones
quinta-feira, junho 24, 2021
Notas sobre o luto, Chimamanda Adichie.
Eu gosto de ler todas as obras de uma autora quando começo e posso. Eu gosto. Não sabia desse livro até ver a entrevista no Roda Viva (que me parece não ter falado muito de literatura) e aí li. Fiquei com vontade de ler ainda mais porque também acabei de viver essa experiência e queria ler algo que pudesse me conectar com esses sentimentos vividos por outras pessoas.
Mas não senti nada. Digo, o livro é bem escrito e bonito, mas não me emocionou em relação à ideia central da história. Aprendi que não há o que se dizer quando alguém que amamos morre: só o que podemos fazer é ficar perto, bem juntinho, oferecer atenção, cuidado e ouvidos, muitas e muitas vezes. E só.
Chimamanda Adichie
quarta-feira, junho 23, 2021
E se eu fosse puta, Amara Moira.
Acabei de ler um livro que me ensinou mais sobre mim e o moralismo que ousa se apossar de mim o tempo todo. Tenta e consegue, né? Eu conheci Amara num programa dessas TVs fechadas, ela falando do seu livro e do doutorado, corri comprar e li assim todo. Amara é apaixonante, muito. Fala de um jeito que me prende, e tenho certeza que não seria só sobre putaria e bajubá.
Não entendo ainda esse trocadilho que foi feito com o primeiro nome pensado, ainda acho que a capa não deveria tê-lo, leio a justificativa e não gosto, mas pode ser fingimento meu, também. Não sei.
Só sei que Amara fala em voz alta sobre as dores e as coisas que ela nunca pensou em sentir de um jeito que não tem como não devorar o livro inteiro de uma só leitura, assim.
Esse livro tem de correr mundo, correr vida, correr trecho.
O mais fantástico é que o livro acaba e você não tem certeza nenhuma do que faz Amara sentir tesão, fica aquela coisa no ar que não precisa resolver, porque o livro não é isso, o livro é para fazer a gente repensar nos nossos modelos de prazer, de tesão, no que a gente aceita no outro e na gente, no que a gente sente nojo e porque sente. Na vergonha.
Ainda bem que Amara existe, para me fazer aprender uma coisa nova hoje.
Amara Moira
Quer se apaixonar? Veja:
E tem livro novo por aí, vou pegar o meu (com direito a imã e tudo o mais).
quinta-feira, junho 17, 2021
segunda-feira, junho 14, 2021
sexta-feira, junho 11, 2021
Sula, de Toni Morrison.
Sula, de Toni. Eu já disse aqui que é um de minhas autoras favoritas. Já li tudo e só falta A canção de Solomon. Eu gostei do livro, mas não é o meu preferido, muito embora eu tenha me encontrado muito no texto, muito mesmo. É dos livros que você tem que saber que existe, que alguém escreveu, porque ele fica ali te dizendo, tudo bem ser você mesma. Eu lembro de partes do livro e eu me sinto tão bem, bem mesmo, sem nem saber direito explicar.
Lembrei muito de Ruby, de Cinthia Bond, em algumas passagens; não tem nada a ver com a sensação que o livro traz, mas apenas as paisagens mesmo.
Por ser um livro de muito tempo atrás, 1973, tem seu valor. Toni escreve como se não precisasse explicar as coisas, e isso é Sula. Sula Peace poderia ser um adjetivo, para todas as vezes que você não se encaixa em lugar algum. Hoje estou sulapeace, posso dizer. Hoje ou quase sempre.
Como todo mundo já sabe também, eu tenho dificuldade de gostar muito de livros curtos (eu amo A Cor da Ternura e ele é curto, mas não é sempre que isso acontece) e com esse não poderia ser diferente. A gente fica com sede de mais coisas sobre as personagens, sobre os núcleos, mas eu acho que era isso mesmo que Toni queria. Essa sensação de incompletude, de falta, de certo desespero por não saber bem do que é que se está falando e se faz sentido, você volta, lê de novo, não sabe se entende e tá bom, deixa.
A vida não fica aí explicando tudo para a gente. Eu acho é incrível como é que uma pessoa tem tanta certeza disso que escreve um livro assim para dar nó na gente, faz porque sabe que vai dar, não tem compromisso em te salvar nem resolver sua vida, ele é um livro só no meio do mundo e você pode ler e achar que entendeu e viva com isso.
Isso é literatura demais para mim, isso é muito sulapeace total. Toni para mim é aquela pessoa que vive da palavra porque ela encarna, nas letras, no tom, no ritmo, aquilo que ela te conta, forma e conteúdo.
Depois que escrevo tudo isso, eu penso agora se já não é meu preferido, eu nem sei mais.
segunda-feira, junho 07, 2021
domingo, junho 06, 2021
Chuva.
Já morou num lugar onde você vê a chuva chegando?
Você precisa ver isso, ao menos um dia na vida. Tem coisa mais bonita não.
Amor, café e chuva chegando.
quarta-feira, junho 02, 2021
terça-feira, junho 01, 2021
Classificados.
Deseja-se encontrar alguém para trocar cartas durante todos os meses do ano, todos os anos, até o fim da vida.
Exige-se escrita poética, lenta ou frenética, com desenhos ao pé da página. Exige-se envelopes coloridos, fotografias recortadas de revistas velhas e postais encontrados em exposição de museus. Menos lápis, mais canetas. E que todo erro de gramática vire coração, flor ou balão.
As cartas devem ser remetidas uma a uma, sem ordem de assunto nem sequência de ideias. Não deve-se esperar a resposta para enviar a próxima.
Procura-se alguém que precise escrever para alguém como nunca, como sempre, como se fosse a última palavra escrita no mundo, que não se importe de borrar as letras com água que sai dos olhos e que invente onomatopeia para sorrisos e borboletas no estômago.
Não é necessário experiência. Aceitam-se iniciantes e experts na arte de escrever cartas.
Paga-se bem. Com palavras, fotos impressas, lembrancinhas e segredos.
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