Você que me lê, me ajuda a nascer.

quarta-feira, março 31, 2021

Mulheres.

Um amigo me apresentou João Albasini dizendo

As mulheres não sabem o estrago que causam

Nunca mais esqueci-me de nada: nem da frase, nem de Albasini, nem dele. Uma flor, um doce, aquele homem.

Completamente estragado pelo que causam as mulheres.

Dando bandeira.

Escrevo palavras como quem vive

De amor... de desespero...
Fecho minha boca, se por antes
Não tenho como dizer o que penso

Minha palavra é água. Desejo seco.
Vontade grande, imensidão
Não me dói nada, só a língua presa
Vai, pedaço a pedaço, caída no chão

E nas palavras de amor e força
Assim do lápis a morte foge
Deixando um doce sabor no ventre

Escrevo palavras como quem ainda está aqui.

terça-feira, março 30, 2021

quinta-feira, março 25, 2021

quarta-feira, março 24, 2021

segunda-feira, março 22, 2021

domingo, março 21, 2021

Kiki.


 

Casa de amigo.

Quando estou aqui, o tempo para e a vida parece não ter o controle que eu imprimo. Os gatos que chegaram da rua tomam conta do sofá e não me deixam esticar completamente. Eles fazem barulhos que podem me dar medo à noite. 

O quintal tem muitas folhas e não é do jeito que aparece na revista, ele só existe ali, rede e folhas e pés sujos de terra. O chuveiro, que não para de cair água depois que eu desligo, me fazem lembrar, de novo e sempre, que a vida não é só minha, ela também pode ser de outras pessoas e coisas que eu não controlo.

A moça do aplicativo de meditação diz assim

e agora, quando achar que estiver pronta, abra os olhos

No exato instante que ela fala isso, todos os dias eu penso que nunca estou pronta, mas sempre abro os olhos.

Meu amigo me lê poesias de Fernando Pessoa quando é Alberto Caeiro:

Mas graças a Deus que há imperfeição no Mundo
Porque a imperfeição é uma cousa,
E haver gente que erra é original,
E haver gente doente torna o Mundo engraçado.
Se não houvesse imperfeição, havia uma cousa a menos,
E deve haver muita cousa
Para termos muito que ver e ouvir... (PESSOA, 2018, p. 78

E eu penso

E graças a mim
Que não tenho vergonha de incomodar a mim mesmo
Com todas as perguntas que já vi nascer no mundo

Todos os mortos.


 

O assassinato de Nicole Brown Simpson.


 

Nunca, raramente, às vezes, sempre.


 

quarta-feira, março 17, 2021

Fique Comigo, de Ayobami Adebayo.




Amei! Tem de dizer mais coisas? Quero não. Amei! Vou mandar para uma amiga que estou com muita saudade, sei que ela vai amar também. 
A história de Yejide, Akinyele, Dotun, Olamide, Sesan, Rotimi, Moomi vale muito a pena ler. Um livro que você num piscar de olhos e lindo, com uma história certeira e cheia de amor, dor e saudade, do jeito que a vida é (ou tem de ser).



                                                                          Ayobami Adebayo
 

Quando crescer eu vou ficar criança.


 

domingo, março 14, 2021

quinta-feira, março 11, 2021

Poeira.

Quando eu era pequena, eu lembro que, quando o sol batia em qualquer canto da casa e uma poeira fina levantava ali, eu achava que era mágica. Passava um tempo, olhando, a poeira suspensa do chão, na luz do sol que incidia em alguma parte da casa.

Eu achava que era o sol que tinha esse poder, de virar pedacinhos de luz e brilhar. Eu não poderia imaginar que a poeira pudesse ser vista e que poderia brilhar. Poeira é... só sujeira, e sujeira não pode ser bonita, assim aprendi. Além disso, mesmo quando o chão ou os móveis estavam limpos, aqueles pedacinhos ficavam ali, flutuando no raio de sol. 

Quando eu punha a mão onde o raio de sol batia, eu não conseguia agarrar nada. Eu via, mas não sentia. Seria ilusão?

Ainda hoje, quando vejo esse fenômeno acontecendo, penso na mágica. Na mágica que é ver e não sentir, ou sentir e não ver, também. Tudo isso ainda me surpreende. E eu não quero saber explicação científica, não. Não preciso saber de tudo, a vida perderia metade de graça se fosse assim.

Aos montes.

Sabe aquele dia que parece que você aprendeu tanto de você que poderia virar outra pessoa e sair por aí? Eu aqui, sentindo-me como uma cobra trocando de pele (alma inteira em festa).

Eu fiquei com vergonha de mim, por ter me escondido tanto que passei até a achar que tudo aquilo não existia. Mas saiu assim, aos montes, com vergonha de ouvir, mas dizendo. E fui até o fim. 

Acho que já posso ir, hoje. Vou deitar ali e acordar amanhã, num dia que eu ainda tenho algo para aprender de mim.

Tive vergonha, mas também tenho orgulho. De ser essa pessoa que não espera doer muito para curar, não, que já vai logo botando para fora e tentando limpar as sujeiras de dentro.

quarta-feira, março 10, 2021

segunda-feira, março 08, 2021

Cada jeito.

As pessoas amam de jeito e intensidades diferentes. Elas gostam, mas não é como você espera e nem como você precisa, sempre. Não dá sempre certo, tem muita curva nisso tudo. 

Aí tem hora que dá certo, que te completa. Tem hora que não. E todo dia a gente decide se segue ou se para de querer amar ou de esperar amor do jeito que a gente quer. Ou aceita o que vem. 

Não sei como cada um é. Cada jeito. Eu acredito no amor e acredito que as pessoas amam, mesmo quando não dizem. Só acho que às vezes não me alcança como eu preciso naquela hora da tristeza, da solidão, do dengo, da vontade de ficar junto. E aí, não sei, mas cada vez dá vontade de fazer coisas diferentes. 

Às vezes, sentar e esperar. Às vezes, chorar. Às vezes, reclamar. Às vezes, calar.  Às vezes, dizer eu te amo mais. Às vezes, sumir.

Não tem receita e cada jeito dá emoções diferentes. E essas coisas, de modo acumulado e combinadas, também dão emoções mais diferentes ainda. Prepare-se para o grande risco que é a vida de quem decide arriscar amar. 

Mas na real eu só queria dizer que, não é porque ela não te ama como você precisa, que ela não te ama. São coisas diferentes. Quando a gente aprende isso, nunca mais para de acreditar no amor e de sorver beleza de tudo que vem e em nós chega.  

Dor de cabeça.

O dia todo a cabeça dói. Fico pensando saídas de não pensar. E penso. Aí penso que deveria parar de pensar para não pensar mais.

Fecho os olhos. Espero o tédio ir embora. Quero colo, mas não quero pedir. O que você faz quando quer que as pessoas que você ama (ou que quer amar) te mandem um beijo, um carinho, que venham te ver, sem você pedir nada, só fazer?

O que você faz? Eu só penso e me dói a cabeça.


sábado, março 06, 2021

Instinto.


 

Grito.

E quando eu ouvi aquele grito, eu pensei

eu não preciso disso

E quando eu ouvi aquela grosseria, eu pensei

eu não preciso disso

Mas, as pessoas não sabem o que dói em você. Às vezes, você tenta dizer, mas da sua boca não sai nenhum som. Sai um som baixo, uma coisa meio de dentro, que fica com medo de sair, depois aumenta um pouco, porque você acha que pode dizer o que sente. Elas se irritam com a sua queixa e elas dizem assim

você tá certa

E assim acabam qualquer possiblidade de conversa. Ao fazerem isso, arruínam ainda mais você, depois do grito e da grosseria. Mas não, você descobre que ela não quer te arruinar. Ela só não está bem e não sabe o que fazer, aí vomita de volta a estranheza que mora dentro dela, o bolo no estômago, a tristeza, a falta de jeito, o machismo.

Você não pode não gostar. Você não pode falar que não gostou. Você não pode demonstrar que não gostou. Você só pode aceitar. Levanta, fica de costas, lágrima caindo no canto do olho, lava os pratos, faz um grunhido com a boca, algo assim discreto, em que não se possa perceber a mínima zanga (ou desapontamento) no som da sua voz.

E você espera, tenta compreender até o que não foi dito, tenta elaborar, para que as pétalas da sua flor do dia não caiam todas inteiras, aos seus pés. Você fica melhor, mas aquele grito, a grosseria e todo o resto, não foram embora. 

Ficam ali, ecoando. E você se pergunta

eu preciso disso?

Parece que não, mas parece que só tem isso

só tem isso, só tem isso

Só tem isso? Me diga você, que me lê. 

Comida.

E é quando ele diz que vai "fazer uma comidinha" que eu penso que

fazer comida é coisa do passado, eu quero um que lave a minha roupa

Mulher.

Quando eu tinha uns 25 anos, ouvi uma senhora dizer:

Se eu voltar, quero nascer homem

Lembro que fiquei parada, pensando o que eu queria ser se eu voltasse. Eu não lembro o que eu quis. Mas hoje, quando penso nisso, tenho certeza absoluta que, se fosse possível, eu continuaria querendo ser mulher. 

Mulher para chorar.  Mulher para limpar as lágrimas e seguir. 

Mulher para ter filhos. Mulher para não ter. 

Mulher para viajar o mundo. Mulher para ficar quietinha no meu canto.

Mulher para me virar sozinha. Mulher para querer colo. 

Não tenho dúvida nenhuma de que não quero ser outra coisa além de mim mesma, mulher. 

Adeus, Gana, de Taye Selasi.


Uma amiga não disse que amou, um amigo não gostou muito, lá fui eu ler. No começo, não consegui me prender à história e fui indo, indo. A escrita não é polifônica mas tenta ser, de um outro jeito que não se se me convence ou se gosto. Mas fui indo. No meio, comecei a entender coisas que não fazia sentido no começo e me senti amiga do livro. 
É a história de uma família que, ainda que despedaçada, vive e tenta se reencontrar de algum jeito. O pai, após um incidente em sua carreira profissional, decide ir embora de casa. Isso mesmo, quatro filhos e uma esposa, imigrante nos EUA e decide simplesmente ir embora. Apesar disso, o livro quase não fala de como a mulher se sentiu ou como refez a vida - algumas atitudes em relação às crianças são narradas, mas não sei dela. O livro tenta falar um pouco mais sobre os quatro filhos, dois deles gêmeos, mas ainda assim, acho que não dá conta. Fica muita coisa engasgada entre as páginas, entre os capítulos. Mas, pode ser que seja para ser assim também, e tá bom, não é isso que não deu certo para mim. Eu não sei direito o que não deu certo. 
Depois que você lê muitos livros, fica essa sensação de não é qualquer coisa que te deixa para lá de Marrakesh, porque você conhece o paraíso, você já esteve lá.
Quando estava a meio do livro, mandei um áudio para o meu amigo dizendo que estava fazendo as pazes com ele, porque deu aquela coisa de "agora vai", mas para mim, não deslancha. Não estudei literatura, não me pergunte porque.
Não é que o livro é ruim nem que não deva ser lido. Só... não convence. Há em especial um episódio no livro que pareceu esplêndido quando li - na verdade, eu gostei mesmo, mas pensando bem, não sei se gosto da ideia de que alguém sabe dançar "instintivamente" um som que remete à sua origem ancestral. Pode soar bem clichê. Isso vai e vem na minha mente, fico sem ter certeza se gosto ou não.
Gostando ou não, eu gosto de ler e isso é o que importa. Quando o livro não me acerta em cheio e eu termino a história, ainda assim a sensação é de prazer, a sensação é de que eu posso dizer o que sinto, eu posso sentir completamente, porque me permiti chegar até aqui.
Pode ser que seja só ciúme da autora, porque ela sentou ao lado de Toni Morrison numa palestra e ficaram amigas, vai saber. Só lendo mesmo. 

                                                                                                                 Taye Selasi  

Traffik: Liberdade Roubada.


 

quarta-feira, março 03, 2021

segunda-feira, março 01, 2021

Ode à Bethânia.


Quando Bethânia partir deste mundo, vai chover uma água colorida do céu. Vai ventar um vento perfumado, também.