Um amigo me apresentou João Albasini dizendo
As mulheres não sabem o estrago que causam
Nunca mais esqueci-me de nada: nem da frase, nem de Albasini, nem dele. Uma flor, um doce, aquele homem.
Completamente estragado pelo que causam as mulheres.
Um amigo me apresentou João Albasini dizendo
As mulheres não sabem o estrago que causam
Nunca mais esqueci-me de nada: nem da frase, nem de Albasini, nem dele. Uma flor, um doce, aquele homem.
Completamente estragado pelo que causam as mulheres.
Quando estou aqui, o tempo para e a vida parece não ter o controle que eu imprimo. Os gatos que chegaram da rua tomam conta do sofá e não me deixam esticar completamente. Eles fazem barulhos que podem me dar medo à noite.
O quintal tem muitas folhas e não é do jeito que aparece na revista, ele só existe ali, rede e folhas e pés sujos de terra. O chuveiro, que não para de cair água depois que eu desligo, me fazem lembrar, de novo e sempre, que a vida não é só minha, ela também pode ser de outras pessoas e coisas que eu não controlo.
A moça do aplicativo de meditação diz assim
e agora, quando achar que estiver pronta, abra os olhos
No exato instante que ela fala isso, todos os dias eu penso que nunca estou pronta, mas sempre abro os olhos.
Meu amigo me lê poesias de Fernando Pessoa quando é Alberto Caeiro:
Mas graças a Deus que há imperfeição no Mundo
Porque a imperfeição é uma cousa,
E haver gente que erra é original,
E haver gente doente torna o Mundo engraçado.
Se não houvesse imperfeição, havia uma cousa a menos,
E deve haver muita cousa
Para termos muito que ver e ouvir... (PESSOA, 2018, p. 78
E eu penso
E graças a mimQuando eu era pequena, eu lembro que, quando o sol batia em qualquer canto da casa e uma poeira fina levantava ali, eu achava que era mágica. Passava um tempo, olhando, a poeira suspensa do chão, na luz do sol que incidia em alguma parte da casa.
Eu achava que era o sol que tinha esse poder, de virar pedacinhos de luz e brilhar. Eu não poderia imaginar que a poeira pudesse ser vista e que poderia brilhar. Poeira é... só sujeira, e sujeira não pode ser bonita, assim aprendi. Além disso, mesmo quando o chão ou os móveis estavam limpos, aqueles pedacinhos ficavam ali, flutuando no raio de sol.
Quando eu punha a mão onde o raio de sol batia, eu não conseguia agarrar nada. Eu via, mas não sentia. Seria ilusão?
Ainda hoje, quando vejo esse fenômeno acontecendo, penso na mágica. Na mágica que é ver e não sentir, ou sentir e não ver, também. Tudo isso ainda me surpreende. E eu não quero saber explicação científica, não. Não preciso saber de tudo, a vida perderia metade de graça se fosse assim.
Sabe aquele dia que parece que você aprendeu tanto de você que poderia virar outra pessoa e sair por aí? Eu aqui, sentindo-me como uma cobra trocando de pele (alma inteira em festa).
Eu fiquei com vergonha de mim, por ter me escondido tanto que passei até a achar que tudo aquilo não existia. Mas saiu assim, aos montes, com vergonha de ouvir, mas dizendo. E fui até o fim.
Acho que já posso ir, hoje. Vou deitar ali e acordar amanhã, num dia que eu ainda tenho algo para aprender de mim.
Tive vergonha, mas também tenho orgulho. De ser essa pessoa que não espera doer muito para curar, não, que já vai logo botando para fora e tentando limpar as sujeiras de dentro.
As pessoas amam de jeito e intensidades diferentes. Elas gostam, mas não é como você espera e nem como você precisa, sempre. Não dá sempre certo, tem muita curva nisso tudo.
Aí tem hora que dá certo, que te completa. Tem hora que não. E todo dia a gente decide se segue ou se para de querer amar ou de esperar amor do jeito que a gente quer. Ou aceita o que vem.
Não sei como cada um é. Cada jeito. Eu acredito no amor e acredito que as pessoas amam, mesmo quando não dizem. Só acho que às vezes não me alcança como eu preciso naquela hora da tristeza, da solidão, do dengo, da vontade de ficar junto. E aí, não sei, mas cada vez dá vontade de fazer coisas diferentes.
Às vezes, sentar e esperar. Às vezes, chorar. Às vezes, reclamar. Às vezes, calar. Às vezes, dizer eu te amo mais. Às vezes, sumir.
Não tem receita e cada jeito dá emoções diferentes. E essas coisas, de modo acumulado e combinadas, também dão emoções mais diferentes ainda. Prepare-se para o grande risco que é a vida de quem decide arriscar amar.
Mas na real eu só queria dizer que, não é porque ela não te ama como você precisa, que ela não te ama. São coisas diferentes. Quando a gente aprende isso, nunca mais para de acreditar no amor e de sorver beleza de tudo que vem e em nós chega.
O dia todo a cabeça dói. Fico pensando saídas de não pensar. E penso. Aí penso que deveria parar de pensar para não pensar mais.
Fecho os olhos. Espero o tédio ir embora. Quero colo, mas não quero pedir. O que você faz quando quer que as pessoas que você ama (ou que quer amar) te mandem um beijo, um carinho, que venham te ver, sem você pedir nada, só fazer?
O que você faz? Eu só penso e me dói a cabeça.
E quando eu ouvi aquele grito, eu pensei
eu não preciso disso
E quando eu ouvi aquela grosseria, eu pensei
eu não preciso disso
Mas, as pessoas não sabem o que dói em você. Às vezes, você tenta dizer, mas da sua boca não sai nenhum som. Sai um som baixo, uma coisa meio de dentro, que fica com medo de sair, depois aumenta um pouco, porque você acha que pode dizer o que sente. Elas se irritam com a sua queixa e elas dizem assim
você tá certa
E assim acabam qualquer possiblidade de conversa. Ao fazerem isso, arruínam ainda mais você, depois do grito e da grosseria. Mas não, você descobre que ela não quer te arruinar. Ela só não está bem e não sabe o que fazer, aí vomita de volta a estranheza que mora dentro dela, o bolo no estômago, a tristeza, a falta de jeito, o machismo.
Você não pode não gostar. Você não pode falar que não gostou. Você não pode demonstrar que não gostou. Você só pode aceitar. Levanta, fica de costas, lágrima caindo no canto do olho, lava os pratos, faz um grunhido com a boca, algo assim discreto, em que não se possa perceber a mínima zanga (ou desapontamento) no som da sua voz.
E você espera, tenta compreender até o que não foi dito, tenta elaborar, para que as pétalas da sua flor do dia não caiam todas inteiras, aos seus pés. Você fica melhor, mas aquele grito, a grosseria e todo o resto, não foram embora.
Ficam ali, ecoando. E você se pergunta
eu preciso disso?
Parece que não, mas parece que só tem isso
só tem isso, só tem isso
Só tem isso? Me diga você, que me lê.
E é quando ele diz que vai "fazer uma comidinha" que eu penso que
fazer comida é coisa do passado, eu quero um que lave a minha roupa
Quando eu tinha uns 25 anos, ouvi uma senhora dizer:
Se eu voltar, quero nascer homem
Lembro que fiquei parada, pensando o que eu queria ser se eu voltasse. Eu não lembro o que eu quis. Mas hoje, quando penso nisso, tenho certeza absoluta que, se fosse possível, eu continuaria querendo ser mulher.
Mulher para chorar. Mulher para limpar as lágrimas e seguir.
Mulher para ter filhos. Mulher para não ter.
Mulher para viajar o mundo. Mulher para ficar quietinha no meu canto.
Mulher para me virar sozinha. Mulher para querer colo.
Não tenho dúvida nenhuma de que não quero ser outra coisa além de mim mesma, mulher.