Você que me lê, me ajuda a nascer.

terça-feira, abril 30, 2019

Ajuda.

Quer ajuda?

Eu sempre quero. Sempre quero ajuda de tudo que é jeito e lado. Eu às vezes não digo, mas quero. Aí, eu aceito de gente que oferece e de algumas que chegam sem falar nada. De outras, eu reluto. Mas insiste, eu quero.

Era um mocinho de uns 15 anos, pegou minha mala e subiu a ladeira falando o que tinha de tão pesado ali. Era só roupa e cansaço, eu pensei. 

Obrigada, obrigada

Karaokê.

Para cantar no próximo karaokê.



segunda-feira, abril 29, 2019

Preciso me encontrar, Cartola.





Lula, meu presidente.

É incrível como esse homem consegue sempre me surpreender. Máximo respeito ao sr. Luís Inácio Lula da Silva. Digam o que quiserem, dos erros, do que não deu certo. POR MIM. Eu tenho opção política, e Lula foi o presidente que mais se aproximou dela, sim. Com tudo que não foi, com o que não rolou, com o que eu não gostei, eu quero aqui dizer do que eu gostei, do que eu vi acontecer, do que valeu a pena também, porque as pessoas esquecem que para hoje uma peça publicitária do Banco do Brasil ter homem de cabelo rosa e mulher preta careca (coisas que podem parecer bobagem), é porque aquela imagem do Brasil como nação a partir de pressupostos eurocêntricos começou a ser desmontada.
Que a diferença seja (também) o que nos define.
Lula, um homem simples, com soluções simples para um país enorme e cheio de belezas e oportunidades que é o Brasil. Mas é nítido que a classe média (burra) sabe disso e não quer distribuição de renda nem quer ser confrontada com seu racismo, elitismo, classismo.
A coisa é tão assustadora que você entra num bar em Pinheiros só com gente de mesma cara e elas nem percebem a cara de entojo que fazem. Eca.



domingo, abril 28, 2019

Solidão.

Não é isso, não é bem isso, ou é. Deixa eu explicar, mas não dá. Por mim.

Há vezes que eu escrevo porque me sinto só, para lembrar. Escrevo para registrar para mim o que foi viver aquela experiência de antes aqui dentro, a beleza que existiu e que às vezes me faz continuar a acreditar.

Claro que eu digo que eu não preciso disso, todo mundo é forte, eu também sou. Mas há dias cinzas em que eu preciso mostrar para mim mesma que a vida já me sorriu. Sim, eu também.

Eu sei que tem outras formas de ser feliz. Eu quero aprender outras tantas além daquelas que eu vinha inventando para mim, só para mim, quando eu só tenho a mim. Eu tenho descoberto o quanto mortal eu sou, com dores iguaizinhas às de minhas amigas que são feitas de matéria preta como eu. Eu muitas vezes quis dizer que não, eu quis inventar mesmo outras histórias.

Pareço pretensiosa, não?

É, também sou isso, sim. Não sou doce, até porque nem de doce eu gosto assim. Sou imperfeita, e estou dizendo aqui, com alguma vergonha, mas sem pudor algum.


Suspiro.


sexta-feira, abril 26, 2019

A caminho de casa, Yaa Gyasi.


Tanta coisa acontecendo e eu terminando mais um livro. Como com os filmes, não vou mais resenhar nada. Apenas escreverei algumas partes que me chamaram a atenção. Lá vai:

Desde que tinham se conhecido, cinco anos antes, Esther tinha sido que o incentivava a voltar para casa. Ela dizia que era alguma coisa ligada ao perdão, mas Yaw não sabia ao certo se acreditava no perdão. Ele ouvia essa palavra com maior frequência nos poucos dias em que ia à igreja dos brancos, com Edward e a sra. Boahen e, às vezes, com Esther. E, por isso, a palavra tinha começado a lhe parecer uma ideia que os homens brancos tinham trazido consigo quando chegaram pela primeira vez à África. Um truque que seus cristãos tinham apreendido e do qual falavam com liberdade e eloquência para o povo da Costa do Ouro. Perdão, gritavam eles, enquanto cometiam iniquidades o tempo todo. Quando era mais jovem, Yaw se perguntava por que eles não pregavam que as pessoas deveriam evitar fazer o mal logo de uma vez. Mas, quanto mais madurecia, mais ele entendia. O perdão era um ato realizado depois do fato, uma parte do futuro da má ação. E se você fizer com que as pessoas olhem para o futuro, talvez elas não vejam o que está sendo feito para prejudicá-las no presente
(p. 353).

Ela parou de andar. Pelo que sabiam, estavam parados em cima do que antigamente era uma mina de carvão, uma sepultura para todos os prisioneiros negros que tinham sido recrutados para trabalhar ali. Uma coisa era pesquisar um assunto. Outra totalmente diferente era ter vivido aquela situação. Ter sentido como era. Como explicar a Marjorie que o que ele queria capturar com seu projeto era o sentimento do tempo, de ter sido parte de alguma coisa em um passado tão remoto, tão impossivelmente grande, que era fácil esquecer que ela, ele e todos os demais existiam ali – não separados, mas ali dentro. Como poderia explicar a Marjorie que ele não deveria estar ali? Vivo. Livre. Que o fato dele ter nascido, de não estar em alguma cela de cadeia em algum lugar, não decorria de um enorme esforço próprio, não de trabalho árduo nem da crença no sonho americano, mas do mero acaso (p. 436).


quarta-feira, abril 24, 2019

Nerú Americano me ensinou...

... trabalhar em silêncio, e deixa o sucesso fazer barulho...

Mil ideias.

Acordei de um pulo e fui caminhar por aí, olhar a cara das gentes novas. 

Eu aprendi muito nos últimos dias. Muito sobre mim e algumas coisas mudaram. Eu sei mais ainda o que eu quero agora. Não que eu não soubesse antes, mas agora está mais certo para mim que posso ainda mais ainda sempre ainda melhorar meu jeito de ser e fazer as coisas.

Pensei em elaborar mil planos e mil metas para a vida dar certo e me peguei rindo sozinha. Vai dar certo mais uma vez, eu consegui. Sinto-me extremamente bem nesse exato momento, em que cumpri comigo mesma tudo que pensei em fazer. Talvez não tenha sido no tempo que eu tenha definido lá atrás (ou lá na frente?), mas funcionou. Eu quero escrever sobre isso em algum momento da vida. 

Converso muito com as estudantes sobre como a gente pode perseguir as coisas que quer; isso pode doer às vezes, pode parecer loucura para quem vê, mas importa mesmo o quanto te faz bem ver aquilo que tu pensou dentro da cabeça acontecendo. Eu sinto um prazer enorme nisso. Enorme.

Tenho ideias para todo o tempo da vida. Talvez eu nem viva mais aqui, quem vai saber? Eu moro onde moram as minhas vontades. 

segunda-feira, abril 22, 2019

Akoma.


No meio do caminho tinha um coração
                                                         tinha um coração bem dentro do caminho.

Cactus, Caceus.


Na outra vida que eu tiver, não quero mais vir cacto não.

Rocha, chave e fechadura.





Eu queria...

... que fosse ele, mas não é, não.
Não posso fazer nada, a não ser amar o próximo.
Próximo!

domingo, abril 21, 2019

Teresina, Pedra do Sal, Coqueiro.




Igarapé.

Pés firmes, raízes. Mas coração no céu, lua na boca.

Eu quero e ainda quero ele. Ele, ele, ele. Quero ele entendendo tudo, minhas vontades e não quereres. Quero perfeição no querer, quero. Eu sou péssima também, eu sei ser trovão. 

Vem, toma conta de mim, mas não diz assim, não quero saber. Quero fingir força e solidão, aceite isso por favor, aceite esse jogo, só esse, eu lhe peço, me ame e fique comigo sabendo de tudo, por favor. 

Eu reconheço.

Eu gosto de você, mas tenho raiva de você. E eu sei que sente o mesmo. Você me provoca. Não quero ser provocada. Mas também é necessário. Então isso é um desafio.

Hahahaahahahaha

Isso me excita, me anima. É novo. Me ensina sobre mim com as pessoas. Eu gosto e tenho raiva. Mas essa sensação tem prazer e zanga. Tudo ao mesmo tempo. Eu não sei como fazer mas não quero desistir de entender. Enquanto não sei faço merdas. E também me enraivo. Desequilibra mas eu quero.

Vi suas considerações. Você é indescritível, obrigado

Paixão.

Que tonta que eu sou.
Vivo repetindo para mim e para outras pessoas que não estou apaixonada, não. Mas o que será esse desequilíbrio, esse desespero. Raiva, amor, amor, raiva, zanga, raiva. O que é isso senão também paixão? Parte eu, parte aquilo que não posso controlar, é isso, está acontecendo. 

Eu apaixonada sou assim e quero dizer que não. Porque?

Porque não quero deixar de ter o controle, ainda mais com alguém que me provoca, me desafia, me faz olhar para dentro. EU NÃO QUERO OLHAR PARA MIM, ainda mais se for alguém que estiver me provocando. Eu quero fazer isso só quando eu quiser, quando eu mesma escolher, me larga. 

Eu estou apaixonada sim e dizer que não é o que eu faço. Como?

Dizendo que sou alegre e leve e quase perfeita, botando o peso todo para um lado só, querendo fazer o que eu quero mas não querendo que ninguém faça nada que eu não queira, me retando e fechando a cara com bobagem e me retando e fechando a cara quando alguém se reta e fecha a cara com bobagem. 

Apaixonada sim eu não dizer é que eu estou. Quando?

Você encontra alguém parecido com você, que se dói por uma palavra ou uma risada escrita numa mensagem de texto de um aplicativo do inferno e não gosta. Você quer dengo e carinho só do seu jeito e não aprende a entender como é o jeito que o outro diz que gosta, mandando caretas em fotos malfeitas lá de longe para você que está na terra do sol sozinha. Você encontra alguém que te lembra como você pode ser insuportável e diz não. No tempo real ou virtual, na real nessas horas parece que eu fiquei velha mas não aprendi nada.

Datas.

Algumas datas nos movem para uns sentimentos estranhos.
Chatos.
Estranhos.

Eu não quero sentir, mas sinto. E vem com muita força.

sexta-feira, abril 19, 2019

Delta do Parnaíba.

Às vezes você precisa vir bem longe de casa para sentir a liberdade do mundo inteiro. Sou feliz, então. Eu não vou desistir agora. Eu nem quero.




quarta-feira, abril 17, 2019

Breakdown Mode.


Dentro Ali, Luedji Luna.


Eus (de novo).



Café.

Ele me pergunta qual é o café que eu gosto e eu zangada digo

não ligo

Mas era mentira. Ele continua, faz juras. Promete voltar a tomar café comigo, coisa que não faz há tempos. Mas eu não ligo. Eu estou com raiva. Eu sinto saudade e não sei o que fazer, eu fico com raiva do tempo, da pessoa que existe e me faz sentir, da distância, do medo e de outras coisas também que eu não quero escrever aqui. 

E agora, só depois de alguns dias que eu penso na conversa e vejo o quanto eu fui tola. 

Eu deveria deixar viver.

sábado, abril 13, 2019

sexta-feira, abril 12, 2019

quinta-feira, abril 11, 2019

A nada, nada.


3000

3000 posts publicados (e mais uns tantos fechados dentro de mim).
3001, agora.


Partida.

Ela disse

Parece que o amor vai se perdendo... Mas não vai

Tive ganas de escrever

Vai, sim 

Mas me aquietei na minha pranayama da paz.

Definições.

Solteira não é sinônimo de disponível.
Sorriso não é convite.
Conversa não é começo de qualquer coisa.

Me deixa em paz, então.

Tema Amor.

O amor é um troço. Uma parada que começa no corpo (cabeça também é corpo) e termina não sei onde, talvez junto ao coração de outras pessoas. 

Eu decidi amar. Não é aleatório nem esvaziado de sentido. É um ato político. Eu, um mulher negra, que cresceu sentindo, ouvindo, vendo dizer que o amor ou não era para mim ou fazia doer, escolho que vou mudar isso. Eu quero que o amor seja uma companhia de paz.

Eu escolho amar para me curar também. Para mim, amor pode ser bálsamo, pode me libertar. Eu quero. Eu escrevi e escrevo todos os dias uma linguagem de código amor porque eu quero que seja diferente para mim. Eu quero ter a opção de amar, eu vou até brigar por isso.

Eu venho de um tempo que vi dores em pessoas de perto e de longe que me diziam "olha, foi o amor que fez isso". Demorei a descobrir que o amor pode ser um caminho feito de nuvens calmas num céu de azul turquesa.

Eu amo muitas pessoas, mas não amo todo mundo. Eu preciso, eu quero. Eu amo amigas e amigos, parentes, amei e amo mulheres, homens, estudantes e professoras/es. Eu gosto de dizer, eu repito sempre. Eu uso a palavra amor pra gastar mesmo, é por vontade de tirá-la desse lugar sacralizado e estéril que eu faço isso. Eu não sou boba, ou até sou (mas o que importa mesmo é que eu acho que não sou). Eu fico triste se não consigo amar, eu me pergunto sempre o que eu posso fazer. 

Todo mundo aqui sabe que eu amo o amor. Me disseram que meu tema era amor e eu aceitei que sim. Eu gostei disso (bel hooks é que sabe), eu sou mesmo isso aí porque quero. Sinto enorme satisfação com isso. Não quero deixar de ser assim nem quero aprender nada que não tenha a ver com isso. Por mim, por mim mesmo. Não estou interessada em mudar isso. Talvez seja porque bato o pé a favor do amor que, às vezes, tudo dói muito e uma palavra basta para rios de água correrem em mim. 

Eu vivo para sentir tudo e muito e sempre. Então, deixa meu bloco na rua mesmo se não é carnaval, eu quero passar, eu vou passar, eu preciso passar, eu.

quarta-feira, abril 10, 2019

Por mim [eu estou apaixonada sim]
Aí eu me reto [se as pessoas acham que podem dizer alguma coisa]
Não estou aí nem estou chegando [se você acredita ou não]

Fotossíntese.

Quem me dera ser planta
Enrolar minhas raízes nas tuas
Escavar a terra
Quando a força da chuva nos lambesse água

Quem me dera ser planta
Exalar cheiro junto com terra e lama
Envolver sua flor, minha morada
No mais dentro meu, gineceu

Quem me dera ser planta
Ouvir ventos
E quando perto do mar
Quebrar os caules frágeis
Em ondas cheias de amor e força

Quem me dera ser planta
Ser o oxigênio de tuas esperas
Nascer do encontro do vento com semente
E me refazer de luz doce
Com energia-água de viver

terça-feira, abril 09, 2019

Açúcar.

você não gosta de chocolate né? Então vou te dar um e você me dá de volta

É a primeira coisa que ele me diz depois que tenho dias sem olhar para a cara dele. Não sei se dou risada ou fico séria, cansei de ser séria. Cansei de reclamar, eu só quero me divertir. A gente se diverte, mas não é fácil, depois de tantas tentativas de vida com outras pessoas e tantas dores. É preciso respirar fundo e seguir acreditando.

não chore na minha frente

Mas eu vou chorar, sim, porque gosto, porque não ligo. Porque não sou perfeita e nunca vou conseguir fazer tudo que a outra pessoa quer, nem se fosse para agradar não daria certo. Chorar me liberta, me salva, me arrebata, então eu vou, mesmo que ele não goste. Porque não gosta? Um amigo diz que não gosta de ver mulher chorando porque sente vontade de chorar também e isso deixa ele sem graça, aprendeu que homem não chora. É muito bobo para acreditar nisso, mas se tem homem que não veste roupa de frio para parecer mais homem, deve ter uns por aí que pensam assim mesmo.

Por mim. Deixa as pessoas, me deixem. Chorar, comer chocolate e tentar ser feliz.

segunda-feira, abril 08, 2019

Eu aceito amor.

Eu finjo que estou ótima, mas às vezes eu estou na merda. Isso vale para as vezes em que eu finjo que posso lidar com as coisas e eu não posso, como estar bem. Sim, estar bem é estranho também; mas, estar mal é que é mesmo ruim.

Eu escondo, eu digo não porque eu tenho medo. Todo mundo faz isso, é? Depois de certo tempo tentando, parece que sim. Mas eu não quero fazer o que todo mundo faz, eu quero mais de mim e da vida.

Ele me pediu para ligar mais vezes, que está ficando velho e quer atenção. Sorriu um sorriso sem graça, como ele costuma fazer agora, todas as vezes em que menciona palavras de amor que nunca soube se eram feitas de sal ou de açúcar. Eu fico em silêncio, não sei o que dizer. Não quero dizer nada, não sei se quero, não sei se devo, não sei se tenho nada dentro.

Ele me pediu mas não me pede nada. Hoje é oito de abril. Ele, meu pai. 

quinta-feira, abril 04, 2019

(esse post é um vazio só) 

Apelido.

Bom dia, meu amor

Bom dia, meu bom humor

Tem jeito melhor de ser acordada?

Tem, se tiver tapioca com manteiga e ovo frito no café. Se tiver

você é um sonho, amo cantar contigo

no SMS. 

Sempre tem como ser melhor. Eu pensei duas prosas boas de escrever só porque o vi mas não consigo mais lembrar, deixa pra lá, nem precisa mais. 

terça-feira, abril 02, 2019

Asas, Luedji Luna.


Todo mundo já ouviu e já ama, mas eu estou ouvindo agora porque eu não devo nada a ninguém e ouço o que eu quero (parafraseando sr. Steve Biko).
Por mim.
Olha a minha cara de preocupada.

Todo dia o dia todo

Adoro quando o dia vira noite. Como agora. 

Vejo as coisas virarem escuro e me sinto em paz.

Não acendo as luzes de casa, ponho uma música para tocar e venho aqui escrever. Entorpecida pelo sono do fim da tarde, eu escrevo. Eu sinto coisas no corpo impossíveis de explicar com palavras, mas se você chegar mais perto, talvez possa sentir. 

Eu não estou preocupada em explicar, mesmo.

A música vai aumentando, vai crescendo. Eu fico pensando na música, naquela que vai me levar para o lugar que eu penso dentro da minha cabeça. 

Eu sempre quero mais, mas eu quase sempre não tenho mais. Às vezes, não tenho nada. Mas ainda assim, continuo. A música ainda não acabou.



M&M.


Futuro.

Foi quando meu colega de trabalho virou e disse

Míghian, o que eu vou fazer pelas minhas filhas é, dar oportunidade a elas de aprender inglês, espanhol e programação. Pronto.

... que eu percebi que quando a gente está apaixonada, qualquer porcaria de palavra serve para você lembrar.

Eu no trabalho.


Tudo é uma questão de manter, a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo

segunda-feira, abril 01, 2019

Escrever.

Eu poderia viver de escrita. Me alimentar dela com algumas doses de água e umas poucas frutas (tá bem, um pedacinho de chocolate com nozes, às vezes).

Eu poderia viver de leitura. Me aninhar nas palavras quando a viagem balança e tudo lá fora está bagunçado (mas eu estou a salvo dentro de uma van com pessoas que conheço de ir e vir, todos os dias, cedo de manhã). 

Eu poderia viver de música, o tempo todo, na minha cabeça; no meu mundo ideal, quando eu desligasse meus fones, ainda teria música saindo das caixas de som espalhadas na cidade, a mesma que eu ouvia sozinha. 

Eu poderia viver de não fazer nada, só esperando o tempo passar, junto com os bebês. Em silêncio, arrumando ou bagunçando peças de plástico pela casa, tomando banho de mangueira, olhando uma planta dançando no vento que entra pela janela. 

Eu poderia viver de amor. Mas isso aí já é muita conversa.

Você e eu.

Ele me escreveu dizendo

quero ser você quando crescer

Achei tão lindo e só pude responder

e eu, queria ter sido você quando tinha a sua idade

Quando nos vimos, nos demos um abraço apertado. Parte do amor que eu senti na vida esteve ali, naquele abraço. Minha maior emoção é mesmo viver. 

Respiração.

Lendo Conceição Evaristo eu me fortaleço. Como é que eu demorei tanto tempo para ler essa beleza?

No meio do caminho: deslizantes águas

Da advertência de Carlos 
faço moucos meus ouvidos
e sigo com lágrimas-águas
contornando a tamanha
extensão da pedra.
E tantas são as deslizantes águas
E são tantas as deslizantes águas
E deslizantes são as tantas águas
que nas bordas da áspera rocha, 
encontro um escorregadio
limo-caminho. Tenho passagem.
Sigo a Senhora das Águas Serenas, 
a Senhora dos Prantos Profundos.
Sigo os passos, passo a passo
e fundo outro caminho.

Sigo os passos.
Passo a passo.
Sigo e passo.
As águas passam, 
e as pedras ficam...

(EVARISTO, 2017)



Reino Unido, Moçambique, França, Espanha.

A parte mais legal de não ter seu blog divulgado é que quando você vê as origens de tráfego, você sabe exatamente quem acessou. Ou, pelo menos, acha que sabe.