Meu amor é daqueles que cata marisco
Afunda a mão na lama preta, se suja e se confunde com o pretume da lama, o problema, a solução, a dor e a delícia
Enfia a mão mais um pouco, sente algo, algo se mexendo
É meu coração quase parando, mas ainda batendo
Meu amor é marisqueiro, meu amor é marisqueira
Acorda cedo pra assuntar a natureza alheia
Enfia a mão e braço inteiro, profundamente
No encanto e no rabo do teu olho
Na beleza que é não te ver sofrer
Ver teus dentes, carne, ver teu amargo sorriso
Que existe e segura a lágrima que nunca desce
De um pedaço teu que eu nunca vejo
Meu amor é daquele que leva pra casa marisco
Ostra, lambreta, sururu e siri
Leva o cansaço do dia, mas uma comida pra ti
Comida de alma, comida de vida
Leva a vontade de fazer tua tristeza um dia esquecida
Dormir intensamente depois do amor mariscado
Pra acordar cedo na certeza da cheia, do profundo, da lambreta, do pretume.
Do amor, da alma.
Do amor.