Você que me lê, me ajuda a nascer.

terça-feira, janeiro 31, 2012

O Jardim de Ana.


Fui visitar umas amigas e ganhei uma plantinha de presente. Emocionada e boba, mas acho que na hora não dei a perceber.
Ana tem um jardim em sua casa. Plantas e flores. Ela mesma, uma flor.

Com minha plantinha, enfrentei ônibus, trens, metrôs e lotações. As pessoas olhavam estranhando ver planta no meio do concreto. A planta também deve achar estranho tanto concreto.
Cheguei viva, ela também.
Ana me disse, "não perca seu tempo".
Não perderei, então.


sábado, janeiro 28, 2012

Desencontros.

Ela era escritora.
Ele, músico. 

Mas ele só leu algo que ela escreveu quando, certa vez, sua empresária pediu pra ele musicar um poema. Viu o nome da poetisa e quase se emocionou. Era um cantor, porém. Não poderia dar-se a emoções baratas.

Mas, naquele dia, ao dormir, ele agradeceu a ela por ser tão perfeita. 

quarta-feira, janeiro 25, 2012

Melanina Carioca.


Algumas músicas ficam na hora.
Outras, depois.
Pra depois, beeem depois.
Ou nunca mais.

sexta-feira, janeiro 20, 2012

Mulher.

Me olho no espelho.
Aprumo as rusgas
Nem rusgas tenho.
Tenho fadigas.
Ele vem, fica ao meu lado
Comenta da menina que passa ali ao lado
Sorri (para ela, para mim?)
Eu nem sei se ele lembra
Estamos juntos
Ele entende errado
Mas quando se compram plantas juntos
Uma coisa inicia
Mas eu digo nada
A palavra na melodia
dia
dia
dia
Orisa Sango eu tenho
Na veia no sangue na mente
Ele entende
Finge nem entender
Eu espero
Roupas e rumores
oromimaoromimayo

quarta-feira, janeiro 18, 2012

Meu amor.

Na minha agenda afro-brasileira, dia desses, eu escrevi:

Preciso forjar novas ferramentas para meu amor negro
Preciso de instrumentos provados no fogo de Ogum 
Vento de Yansa
Machado de Sangò
[...]


E ele me disse:


Você ainda usa agenda? 


E eu disse:


Eu ainda te escrevo cartas. 




A cor da Ternura, Geni Guimarães.


Comecei a ler alguns artigos e um deles lembrou-me um livro que li quando tinha 14 anos. Lá estava eu às duas da manhã procurando o tal livro em minha estante, tinha certeza que nunca tinha me desfeito dele, passados 15 anos... encontrei na última pilha de livros, quase o último. 
Abri-o e ainda estava lá com algumas anotações minhas:

Nasci em Itabuna, no dia 14 de novembro de 1980. Peregrinei muitas terras, até chegar em Salvador, onde resido atualmente. Conheci várias pessoas que são importantes para a minha vida. Dayse é uma menina [...] 

Eu lembro muito do livro e das sensações que ele me provocou à época. Uma das partes que eu mais gostei (passei o restinho da madrugada relendo esse livro e mais o de Neusa Santos, Tornar-se Negro, além de consolar minha amiga que do aeroporto me ligou para dizer da saudade de seu amor que havia partido para uma viagem de cinco meses, Washington D.C.) e ainda gosto, não sei dizer direito porque, é:

Foi exatamente nessa época que peguei bicho-de-pé. Fiquei imensamente feliz. A única coisa que atrapalhava é que não podia contar para ninguém, nem para minha mãe, porque quando ela descobria que qualquer um de nós conseguia um, pegava logo uma agulha, queimava a pontinha na labareda da lamparina e cutucava até arrancar o querido bicho do dedo da gente. 
Mas eu já não estava só. Com meu bicho-de-pé mantive diálogos longos.
Para ele passava minhas tristezas e alegrias. Havia um fio interno que levava meu pensamento até sua casinha, na curva do dedo do pé. Daí vinha uma coceira gostosa, trazendo-me respostas, consolos. Nossos pensamentos se cruzavam, rindo ou chorando. (GUIMARÃES, Geni. A Cor da Ternura. São Paulo: FTD, 1992)

Deixei as palavras tomarem meu corpo, lembrei-me de minha vida adolescente e o quanto aquela escrita fez parte de minha vida por alguns anos. Geni não sabe mas, ela é responsável por parte de minha verdadeira paixão pela escrita, pelos livros. Engraçado é que só muito recentemente comecei a pesquisar sobre ela e tudo que fez e escreveu. 

Especialmente agora, quando escrevo e escrevo, lembro de Geni e de bel hooks em seu ótimo texto Intelectuais Negras. Mesmo durante esse confinamento a que estou submetida, prenha de ideias e emoções, posso dizer que sinto-me acompanhada. Nunca achei que escreveria um texto acadêmico e me deliciaria tanto com essas sensações e o quanto me sentiria acompanhada por tantas pessoas, vivas, "mortas", palavras, forças. São incontáveis os momentos em que choro relendo o que escrevi ou o que ouvi de outras mulheres negras. 
Encontrei foto de Geni e mais lágrimas vieram-me aos olhos. Escolhi então uma poesia dela que me faz tão bem agora (orgulhosa dela ser professora, assim como eu):




CRISE
(Geni Guimarães)

Sou toda crise
Sou crise de angústia fechada, absorta,
Sou o embaraço do tempo, inconstante de tempo.
Sou cheia e oca,
Original e reprise.

Sou toda, inteira crise.
Sou o eco do riso rasgado, atirado,
Lançado no espaço pelo medo do choro.
Sou presente do futuro,
Sou areia e muro.
Sou o próprio desafinar de uma música em coro.

Sou toda, completa crise,
Arranjo e desarranjo de uma mesa.
Sou lápide, rumo, desvio.
Posso ser um horizonte aberto,
Nu, incerto, frio.

sou a rotação dos sentidos,
a translação de imagens,
Sou a brisa dos ouvidos, dos ecos,
Materia de bonecos.
Acho que vim para passar,
E fiquei na passagem.

É, sou crise.
A crise da visão dos cegos,
A esfinge do meu próprio ego.
Sou o sossego da crise de fera.
Sou,
Fui,
Sei e aceito ser,
Porque antes de nascer, já era.

(Extraído do livro Terceiro Filho, 1979)


E pra terminar, já que bicho-de-pé não há (nunca tive um...), arrisco em dizer que o celular e as mensagens de texto que me chegam fazem as vezes de fio por onde vai meu pensamento... Tarde, bem tarde, dia desses, depois de desejar boa noite, preto, ele me segredou:

Minha neguinha! Te amo! Você é f...!Exemplo de mulher negra! 

Não consegui dormir de pronto, mas com certeza, quando consegui, fui mais feliz. Orgulhosa de mim, e dele.


terça-feira, janeiro 17, 2012

Red Tails.





Elenco negro afastou Hollywood de novo filme de George Lucas

Diretor de ‘Guerra nas estrelas’ precisou pagar produção do seu próprio bolso


Ator David Oyelowo ao lado de George Lucas na premiere do filme 'Red tails", em Nova York
MIKE COPPOLA / AFP PHOTO

RIO - Mesmo com seu currículo, George Lucas disse que teve dificuldades em conseguir financiamento para seu novo filme, "Red tails", por causa do elenco primariamente negro. A declaração foi dada pelo criador das séries “Guerra nas estrelas” e “Indiana Jones”, em entrevista ao programa Daily Show.

"É por ser um filme com personagens negros. Não há nenhum papel principal para brancos nela. Mostrei para todos os distribuidores e me disseram não. Eles não sabem como vender esse filme", declarou.

Protagonizado por Cuba Godding Jr e Terrence Howard, "Red tails" conta a histíoria dos Tuskegee, o primeiro grupo de pilotos negros dos EUA, que lutou na Segunda Guerra Mundial. O filme é a estreia do também negro Anthony Hemingway na direção de um longa. Ele fez carreira na TV, com passagens por séries como "Fringe", "CSI", "Community", "True blood" e a aclamada "Treme".

“Red tails” custou a Lucas US$ 58 milhões, mais US$ 35 milhões para distribuição. A premiere aconteceu nesta terça-feira, em Nova York. O filme tem estreia prevista para o dia 20 de janeiro, nos EUA e Canadá.

Extraído daqui.

E, só pra lembrar a música de Z'África Brasil:

O que importa é a cor
E quem tem cor, age

segunda-feira, janeiro 16, 2012

Exposição Mulheres Africanas, Salvador - BA.






A cidade mais negra fora do continente africano terá mais uma oportunidade de contemplar e conhecer um pouco mais da cultura e da diversidade do povo africano. A partir do próximo dia 20/01, a capital baiana recebe a exposição fotográfica "Mulheres Africanas", do artista brasileiro Celso Bayo.
A exposição tem entrada franca e acontece entre os dias 20/01 e 20/02, na sede do Instituto ACM de Ação, Cidadania e Memória (IACM), no Pelourinho. Depois de passar por cidades como San Francisco (Estados Unidos), São Paulo, São João Del Rei, Paraty, Mauá, Caxias do Sul, Santo André e Ribeirão Preto, a mostra chega a Salvador trazendo 20 fotografias que revelam e comprovam a relação umbilical entre Bahia e África.
A mostra - "Mulheres Africanas" é um projeto onde o fotógrafo brasileiro Celso Bayo busca retratar a beleza e a importância da figura feminina, valorizando a sua interação com o cotidiano e seus costumes que se encontram na grande diversidade da cultura Africana.
Para produzir as fotos, Bayo viajou durante quatro meses por várias regiões da Tanzânia, do oeste de Uganda até a fronteira com Rwanda e Congo, o interior e a costa do Quênia até a fronteira com a Somália e na Etiópia. Neste período, o fotógrafo conviveu de perto com as dificuldades que a população africana enfrenta e, também, com a beleza que a natureza e o povo da África apresentam.
As fotos "Maria Bonita" e "Carregando a Força" foram nominadas no Annual Photography Masters Cup, uma das mais conceituadas publicações do gênero. A primeira na categoria People, e a segunda, em fotojornalismo. O International Color Awards, que premia as melhores imagens de quase 100 países com a mais alta realização em cores fotográficas do mundo, tem como júri profissionais da Kodak, National Geographic, FOX, Vogue (UK) o Musee de E'Lysee, Colors Magazine, entre outros.


Exposição "Mulheres Africanas"



Instituto ACM de Ação, Cidadania e Memória – Rua Saldanha da Gama, 2, Terreiro de Jesus, Pelourinho



De 20/01 a 20/02 - das 9h às 17h (segunda a sexta-feira) e 9h às 12h (sábado)



Entrada franca



Extraído do Portal Geledés

Ainda bem, Marisa Monte.





Ainda Bem


Ainda bem
Que agora encontrei você
Eu realmente não sei
O que eu fiz pra merecer
Você

Porque ninguém
Dava nada por mim
Quem dava, eu não tava a fim
Até desacreditei
De mim

O meu coração
Já estava acostumado
Com a solidão

Quem diria que a meu lado
Você iria ficar
Você veio pra ficar
Você que me faz feliz
Você que me faz cantar
Assim

O meu coração
Já estava aposentado
Sem nenhuma ilusão

Tinha sido maltratado
Tudo se transformou
Agora você chegou

Você que me faz feliz
Você que me faz cantar
Assim

domingo, janeiro 15, 2012

Jazz.



Diário de Pernambuco, Recife, 14.10.1926:

Não sou contrário à música dos negros, a qual aprecio. Ela é melodiosa e interessante, mas o "jazz" é uma degeneração da música negra, ou melhor, não é coisa alguma. 


Não posso conceber instrumento pior do que o saxofone moderno, cujo som é revoltante. 


Se eu fosse governo, - não receio confessá-lo, nem mesmo, agora, que vou aos Estados Unidos dirigir uma série de concertos sinfônicos - cuidaria de combater de morte o execrado "Jazz".


Os governos do mundo inteiro deveriam, vetá-lo, como fazem ao ópio e à cocaína, porque essa música produz no espírito o mesmo efeito que os intoxicantes sobre o corpo humano. 


Fonte: ROMÃO, Jeruse. História da Educação do Negros e outras histórias. Brasília: Ministério da Educação/SECAD, 2005.

Sabe o que Miles Davis diria a esse sujeitinho hoje?

Deita na BR, querido!

quinta-feira, janeiro 12, 2012

Além do Ponto, Os Crespos.


Salto Alto.



Uma máquina na mão e um par de saltos vermelhos nos pés e uma vontade enorme de estar bem longe fazem a gente fazer essas coisas. A foto está escura de propósito, sendo eu mesma quem bati a foto, não consegui fazer uma só dos pés e as mais iluminadas aparecia muito das minhas pernocas.
Essa semana me vi comprando meu primeiro par de saltos altos. Não, minto. Já tive alguns há muitos anos atrás, usados uma única vez e logo depois doados. Quando fui crescendo, descobri que poderia pedir emprestados e nunca mais comprei uma coisa que nunca usaria.
Fiquei pensando sobre ter ou não ter um par de saltos, comprei três. Sinto-me diferente quando os calço, mas há quem diga (minhas vizinhas e amigas) que é tudo uma questão de tempo e costume, que daqui a pouco não vai ser tão difícil assim olhar no espelho e ver Migh. Não é que eu não ache bonito. Agradam-me as formas que meu corpo toma, mas ainda acho que para ser bonita não é preciso sacrifícios. Acho que quem é bonita é bonita e ponto, sem salto, acordando, dormindo, de boca aberta.
Usarei-os quando não for um sacrifício, então (difícil).
Estarei louca? Não sei. Enquanto isso, vou usando os saltos.
Se novamente desistir da ideia, amigas não faltarão para receber os pares.

terça-feira, janeiro 10, 2012

A história de um soldado.


Se alguém achar o trailer deste filme, manda para mim! Mais um filme americano do Norte dos EUA querendo provar que só o Sul era racista. E mais um black movie que emplaca porque o final agrada aos... brancos!
Mas, pelo menos, um colírio para os meus olhos... Den-zel Washington sempre maravilhoso em TUDO que faz.

Dicionário de Mulheres Negras do Brasil.


Eu acho que já falei desse livro aqui, mas não cansa repetir: comprei um exemplar para mim ontem. Cheguei em casa muito cansada, mas, ao começar a folhear as páginas, não consegui deixar de ir até o fim. Depois disso, abracei o livro e me senti abraçando todas aquelas mulheres ali fotografadas e ainda as que ali não estavam. Me senti abraçada também, fortalecida novamente.

Ele é enorme, cheio de fotos e informações valiosas sobre as histórias das mulheres negras brasileiras, com prefácio de Sueli Carneiro. Comecei a ler e a emocionar-me com as primeiras palavras.

Livres, as suas saias rodadas, as cores vistosas, os panos da costa, os torsos coloridos começam a esmaecer. Os tons vão se acinzentando como a existência diante da evidência de que a conquista da liberdade e da igualdade não pode ser sempre frustrada pela ação implacável do racismo e da discriminação. Mas lá como cá, hoje como ontem a subordinação imposta como destino é subvertida e lá vem elas: são professoras, escritoras, deputadas, pintoras, doutoras, atletas, maestrinas, compositoras, ativistas, militantes, desafiando os persistentes processos de exclusão. (Sueli Carneiro)

Segui olhando as fotos e reconhecendo-me em tantas delas! Tentando apreender partes de mim que aos poucos ficaram esquecidas, amordaçadas por aí. Nos balangandãs, nas cores, nos sorrisos, nas tristezas.

Para terminar, comecei a Orfeu Negro e deparei-me, nas primeiras cenas, com Senhor Cartola e Dona Zica fazendo uma participação especial. Deixei as lágrimas rolarem pensando na vida de Cartola, em tudo que ele escreveu e em como as gente que cantam "se hoje ele [samba] é branco na poesia, ele é negro demais no coração" não entendem nada, mas nada mesmo de música brasileira.





Reconhecimento do Amor.



Amiga, como são desnorteantes
Os caminhos da amizade.
Apareceste para ser o ombro suave
Onde se reclina a inquietação do forte
(Ou que forte se pensa ingenuamente).
Trazias nos olhos pensativos
A bruma da renúncia:
Não querias a vida plena,
Tinhas o prévio desencanto das uniões para toda a vida,
Não pedias nada,
Não reclamavas teu quinhão de luz.
E deslizavas em ritmo gratuito de ciranda.

Descansei em ti meu feixe de desencontros
E de encontros funestos.
Queria talvez - sem o perceber, juro -
Sadicamente massacrar-se
Sob o ferro de culpas e vacilações e angústias que doíam
Desde a hora do nascimento,
Senão desde o instante da concepção em certo mês perdido na História,
Ou mais longe, desde aquele momento intemporal
Em que os seres são apenas hipóteses não formuladas
No caos universal

Como nos enganamos fugindo ao amor!
Como o desconhecemos, talvez com receio de enfrentar
Sua espada coruscante, seu formidável
Poder de penetrar o sangue e nele imprimir
Uma orquídea de fogo e lágrimas.

Entretanto, ele chegou de manso e me envolveu
Em doçura e celestes amavios.
Não queimava, não siderava; sorria.
Mal entendi, tonto que fui, esse sorriso.
Feri-me pelas próprias mãos, não pelo amor
Que trazias para mim e que teus dedos confirmavam
Ao se juntarem aos meus, na infantil procura do Outro,
O Outro que eu me supunha, o Outro que te imaginava,
Quando - por esperteza do amor - senti que éramos um só.

Amiga, amada, amada amiga, assim o amor
Dissolve o mesquinho desejo de existir em face do mundo
Com o olhar pervagante e larga ciência das coisas.
Já não defrontamos o mundo: nele nos diluímos,
E a pura essência em que nos transmutamos dispensa
Alegorias, circunstâncias, referências temporais,
Imaginações oníricas,
O vôo do Pássaro Azul, a aurora boreal,
As chaves de ouro dos sonetos e dos castelos medievos,
Todas as imposturas da razão e da experiência,
Para existir em si e por si,
À revelia de corpos amantes,
Pois já nem somos nós, somos o número perfeito: UM.

Levou tempo, eu sei, para que o Eu renunciasse
à vacuidade de persistir, fixo e solar,
E se confessasse jubilosamente vencido,
Até respirar o júbilo maior da integração.
Agora, amada minha para sempre,
Nem olhar temos de ver nem ouvidos de captar
A melodia, a paisagem, a transparência da vida,
Perdidos que estamos na concha ultramarina de amar.

(grifos meus, poesia de Carlos Drummond de Andrade)

segunda-feira, janeiro 09, 2012

Fotos minhas (por aí).



Pessoas postam fotos minhas por aí sem me perguntar nada. De algumas eu gosto, como dessas aqui. A primeira, porque relembra o dia em que passei com a minha amiga preta Thais, que amo. E porque lembro que encontrei outras pessoas que amo lá, nesse mesmo lugar. Pessoas de longe, de tempos.
Eu gosto das duas fotos, apesar de não me achar bonitas nelas. Gosto do colorido, e gosto do meu sorriso na segunda. Ultimamente, está muito difícil fazer uma foto minha onde eu me reconheça. E essa última me mostra como eu me vejo. Por isso gosto tanto...

Não sei se é assim que as pessoas me veem também. Eu, se visse essa foto e não soubesse quem era, acharia a moça uma pessoa sonhadora, romântica, amante de crianças e música, carinhosa. Não gosto de minhas fotos de óculos. Mas esta, mesmo de óculos, me fez bem. Eu guardo aqui para tê-las comigo e matar saudades de mim assim, com cara de boba, sempre que quiser.

E vocês, conseguem ver tudo isso nessa foto?

O Bom Canário.


Pretices em Cena: Teatralidades, Consciência e Expressão Negra.


                                                 Ruth de Souza, Atriz.



Teatro Clariô e Edições Toró convidam para o curso curso “PRETICES EM CENA: TEATRALIDADES, CONSCIÊNCIA E EXPRESSÃO NEGRA”.
Inscrições entre 09/01 e 19/01, no sítio das Edições Toró: www.edicoestoro.net
PROGRAMA:
21/01: “Kwuango, Congo, Congado: Tradição e Perfomance Centro- Africana no Sudeste do Brasil”, com Salloma Salomão (Professor da Fundação Santo André, Músico, Pesquisador das Diásporas Africanas e Produtor Cultural)

28/01: “Dramaturgias e Preparação de Atores no Teatro Experimental do Negro (TEN)”, com Daniela Rosa (Cientista Social, Doutoranda pela Unicamp) e Mário Augusto Medeiros (Sociólogo, Pesquisador de Literatura Negra Brasileira)

04/02: “Elinga: Teatro Contemporâneo em Angola”, com Christian Moura (Ator, Historiador e Professor da Uniban)

11/02: “Brasiliana: De Dissidentes do TEN ao Show Folclórico - Reinvenção e Convenção na Dança Negra Brasileira”, com Fernando Ferraz (Dançarino, Mestrando pela UNESP, Historiador)

25/02: “Palhaços da Cara Preta”, com André Bueno (Linguista, Músico e Pesquisador de Cantos Afro-brasileiros. Integrante do Bumba-meu-boi maranhense em São Paulo)


Quais as tranças e desvios entre ritual e cena, performances e palco na história afro-brasileira? Como as funduras de personagens, montagens e textos teatrais anunciaram, rasgaram ou assimilaram os terrores racistas de cá? Em que pé vão as buscas estéticas e políticas no teatro contemporâneo africano hoje? Há namoros entre a dor e a comédia de pintar a cara de preto, nas tantas curvas e contextos desse Brasilzão congadeiro e rapeiro?

Pro saber e o sabor de aprender juntos, este é o 8º curso, 8º pedagoginga realizada pela Edições Toró, agora na aliança com o glorioso Teatro Clariô. Os cursos miram alimentar a Arte-Educação Popular e Afro-brasileira, pesquisando e praticando didáticas em temas tão necessários às nossas quebradas da cabeça e ladeiras das veias, fortalecendo a reflexão e o revide nas beiradas de SP e também contaminando espaços regulares como as escolas oficiais.

Urgência e Dádiva nossa. Inda mais em tempo que “Cultura”, Resistência e Anunciação vão se confundindo facilmente com mais e mais Auto-Marketing, Ações Espetaculares ou com “Enviar-Compartilhar-Curtir” no reino da cadeira e da tendinite.

Axé! Saúde e Continuidade.

Allan da Rosa – Edições Toró, Espaço Clariô.

Inscrições entre 09/01 e 19/01, no sítio das Edições Toró: www.edicoestoro.net
Gratuito para até 40 participantes, com distribuição de apostilas e certificados ao final
Sábados entre 21/01/12 e 25/02/12 (exceto 18/02, sábado de carnaval) das 14hs às 17hs30.
No Espaço Clariô- Rua Santa Luzia, 96. Taboão da Serra ((próximo ao Largo do Taboão, ao Hospital Family, ao final da Avenida Francisco Morato e ao começo da Estrada do Campo Limpo)

Apoio: Nós por nós
Agradecimentos: Aos educadores que vem na graça e à comunidade que chega ou oferece atenção.

sábado, janeiro 07, 2012

Beyoncé Knowles e Jay-Z.


ADORO esse CLIPEE! Um dos meus casais preferidos! Quando estiver menos atarefada, escrevo os motivos.
Me cobrem...

Beyoncé Knowles, a Michael Jackson do século 21!


Vou desconsiderar que ela parece ter caído num barril de cloro nesse clipe (umas madeixas loiras e mais alguns efeitos e...), vou só ouvir a letra. 

Uma pausa para a poesia.


Vozes-Mulheres
(EVARISTO, Conceição. 2008. Poemas da recordação e outros movimentos. Belo Horizonte: Nandyala, 2008)


A voz de minha avó ecoou criança nos porões do navio.
Ecoou lamentos de uma infância perdida.
A voz de minha avó
Ecoou obediência aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe ecoou baixinho revolta
No fundo das cozinhas alheias
Debaixo das trouxas
Roupagens sujas dos brancos
Pelo caminho empoeirado
Rumo à favela.
A minha voz ainda
Ecoa versos perplexos
Com rimas de sangue e fome.
A voz de minha filha
Recolhe todas as nossas vozes
Recolhe em si
A vozes mudas caladas
Engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
Recolhe em si
A fala e o ato.
O ontem – o hoje – o agora.
Na voz de minha filha
Se fará ouvir a ressonância
O eco da vida-liberdade.

Nonno Paolo – um caso emblemático




"Atenção gente negra! Eles mudaram! O mito da democracia racial está revelando, sem pejo, a sua verdadeira face. Então, é hora de se conceber e empreender novas estratégias de luta."(Por Sueli Carneiro, diretora de Geledés - Instituto da Mulher Negra). "Há coisas essenciais sobre o racismo no episódio ocorrido no restaurante Nonno Paolo com um menino negro. Eu não estava lá, mas pela reação de indignação da mãe da criança e seus amigos é lícito supor que a criança em questão, seja amada e bem cuidada, portanto, não estava suja e maltrapilha como costumam estar as crianças de rua que encontramos cotidianamente na cidade de São Paulo. Então, a "confusão" de quem a tomou, em princípio, por mais uma criança pedinte se deveu ao único traço com o qual a define a mentalidade racista: a sua negritude. Presumivelmente, o menino negro era o único "ponto escuro" entre os clientes do restaurante e para esse "ponto escuro" há lugares socialmente predeterminados dos quais restaurantes de áreas consideradas "nobres" da cidade de São Paulo estão excluídos. Para o racista a negritude chega sempre na frente dos signos de prestígio social. Por isso Januário Alves de Santana foi brutalmente espancado por não ser admissível para os seguranças do supermercado Carrefour que ele fosse proprietário de um Ecosport dentro do qual se encontrava no estacionamento a espera de sua mulher que realizava compras. Por isso a cantora Thalma de Freitas foi arbitrariamente revistada e levada em camburão para uma delegacia por ser considerada suspeita enquanto, como ela disse na ocasião, "porque a loura que estava sendo revistada antes de mim não veio para cá?". Por isso Seu Jorge além de múltiplas humilhações, sofridas na Itália foi impedido, em dia de frio europeu, de entrar em uma loja com o carrinho no qual estava a sua filha, "confundido" como um monte de lixo. São apenas alguns exemplos de uma lista interminável de situações em que são endereçadas para pessoas negras mensagens que tem um duplo sentido: reiterar o lugar social subalterno da negritude bem como desencorajar os negros a ousarem sair dos lugares que desde a abolição lhes foi destinado: as sarjetas do país. O episódio indica portanto, que uma criança, em sendo negra e, por consequência "natural" , pobre e pedinte, pode, "legitimamente", ser atirada à rua, sem cerimônia. É, devolvê-la ao seu devido lugar. Indica, ademais, que essa criança não desperta o sentimento de proteção (que devemos a qualquer criança) em relação aos perigos das ruas, pois ela é, para eles, uma das representações do que torna as ruas um perigo! Essa criança, por ser negra, também não é abrigada pela compaixão, pois, há quem vê nelas a "semente do mal", como o fez certa vez, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, defendendo a descriminalização do aborto para mulheres faveladas, pois seus úteros seriam "fábricas de marginais." Há os que defendem a atitude do funcionário que expulsou a criança do restaurante sob o argumento de a que região em que ele está localizado costuma ser assediada por crianças pedintes que aborrecem a clientela dos estabelecimentos comerciais. Na ausência do poder público para dar destino digno a essas crianças, cada um age de acordo com sua consciência, via de regra, expulsando-as. Outros dizem que a culpa pelo ocorrido é dos pais que deixaram a criança sozinha na mesa. O subtexto desse discurso é revelador e "pedagógico": pais de crianças negras deveriam saber que elas podem ser expulsas de restaurantes enquanto eles se servem porque elas são consideradas pedintes, ou menor infrator! O erro não estaria no rótulo ou estigma e sim nos desavisados que não compreendem esse código social perverso! Os que assim pensam pertencem à mesma tribo de indignados que consideram que espaços até então privativos de classes sociais mais abastadas começam a serem tomados de "assalto" por uma gente "diferenciada", fazendo aeroportos parecerem rodoviárias ou praças de alimentação. Aqueles que não se sentem incomodados com a desigualdade e a injustiça social. Aqueles que reclamam que agora "tudo é racismo" porque, para eles, o politicamente correto é dizer que nada é racismo. Esses são, enfim, aqueles que condenam o Estatuto da Criança e do Adolescente, que advogam pela redução da maioridade penal, que revogariam, se pudessem, o inciso constitucional que define o racismo como crime inafiançável e imprescritível ou a lei Caó que tipifica e estabelece as penalidades por atos de discriminação; conquistas da cidadania brasileira engendradas por aqueles que recusam as falácias de igualdade de direitos e oportunidades em nosso país. O aumento da inclusão social ocorrida nos últimos anos está produzindo deslocamentos numa ordem social naturalizada na qual cada um "sabia o seu lugar" , o fundamento de nossa "democracia racial'. O desconforto que esse deslocamento provoca faz com que os atos de racismo estejam se tornando cada vez mais frequentes e virulentos. Atenção gente negra! Eles mudaram! O mito da democracia racial está revelando, sem pejo, a sua verdadeira face. Então, é hora de se conceber e empreender novas estratégias de luta."
Retirado do blog de Cidinha da Silva

quinta-feira, janeiro 05, 2012

Milton Santos e o racismo.






Marina Amaral - Como o senhor vê a evolução do Movimento Negro no Brasil, é rápida ou lenta?
Milton Santos: Se eu olhar para trás há um crescendo tanto na velocidade quanto na intensidade... está havendo uma tomada de consciência, digamos assim,  do fato de ser relegado. Por que os negros não fizeram parte da Nação Brasileira, isso é outra cosia. Sinto isso pessoalmente é minha experiência. 
Sérgio de Sousa – O senhor sente que isso também se dá em relação ao pobre?
Milton Santos – Não é a mesma coisa porque não está claro na cabeça. 
Sérgio de Sousa – Na cabeça do pobre?
Milton Santos – Não, na cabeça dos outros. Quando se é negro. 
Quando se é negro é evidente que não se pode ser “outro”, só excepcionalmente não será o pobre. É muito
diferente... não será o pobre, não será humilhado, porque a questão central é a humilhação cotidiana.
Ninguém escapa, não importa que fique rico. E daí o medo que também tenho de circular.
Marina Amaral - O senhor tem medo?
Milton Santos - Claro, esse medo da humilhação. 
Marina Amaral-  O senhor tem medo de entrar, num restaurante chique e alguém olhar torto porque o
senhor é negro?
Milton Santos - Tenho medo, sim. 


Extraído daqui.

Twitter.

Estou completamente viciada em twitter. Mas o motivo é plausível. Conheci um monte de gente boa desde que entrei lá. Não tenho do que reclamar.
O que é gostoso é que lá é possível escrever frases pequenitas como essa:

A despeito da gravidade que teima em puxar todo o meu corpo para baixo, há um fato: meu cabelo cresce para cima. Sinto-me invencível.

Me procurem lá!
@baianices 

Rita Batista estreia na BAND.


Desde o ano passado, assisto um programa chamado Boa Tarde Bahia todas as vezes que estou de volta para casa, em Salvador. De cara, adorei porque vi uma mulher negra apresentadora, com os cabelos naturais e um sorriso enorme. Minha mãe já era fã de carteirinha e quando eu ligava para ela, antes de chegar, ela me botava a par das últimas novidades que haviam sido feitas no programa, o que tinha sido mais interessante, o que ela mais tinha gostado. Atualizava-me das roupas e das palavras todas de Rita Batista e assim, eu morando em São Paulo, quando chegava à Salvador, já me sentia íntima da apresentadora.
Nós assistíamos juntas todas as vezes que eu estava em casa, ela ali no fogão preparando alguma coisa (pirão de leite, cozido, moqueca, vatapá, aquele feijão...) e eu ali do lado, sentindo o cheiro e prestando atenção em tudo.
Nos últimos dias do ano, fizemos o de sempre: ficamos ali vendo o programa, quando ouvi a notícia que Rita estava de malas prontas para São Paulo e iria estrear dia 09 de janeiro na BAND às 15:30 um programa fazendo trio com Adriane Galisteu e Lysandro Kapilla. Quase tenho um treco de felicidade. Felicidade e... não sei ao certo. Sei que gostava muito do programa de Rita em Salvador e sei que o que virá agora não será nada parecido com o que ela fazia. Mas sei também que Salvador e a BAND Bahia ficou pequena demais para ela. Como ela mesma escreveu em seu twitter

A Bahia já me deu, régua e compasso

Coisas que todas as baianas sentem quando saem de Salvador para correr mundo (mesmo sabendo que essa não é a primeira vez que a moça corre mundo. Ela já fez muita coisa em nível nacional). Sinto também, assim como senti que 2012 vai ser massa (aliás, ando sentindo coisa demais esse começo de ano!), que esse é só o começo de uma caminhada rumo a um monte de coisas boas que acontecerão com ela em 2012, 2013, 2014... porque ela é aquela pessoa de axé bom, de ginga certa, de sorriso que envolve, que emana energia.

Num país de pretas que a gente não vê na TV', Rita para mim é a esperança (a certeza!) que dias melhores virão.

E tenho dito.

Mais de Rita aqui. E aqui.

domingo, janeiro 01, 2012

2012.

Todo mundo tem suas coisas com relação a datas comemorativas e tal. Algumas pessoas gostam de fazer isso ou aquilo sempre porque dá certo ou não. Ultimamente eu tenho me importado mais com a passagem do ano, acho que há uma simbologia bonita essa coisa do fechamento de um tempo, lembrando que a gente também estipula fechamentos outros que não esse de doze meses e tal (eu, por exemplo, terminarei muitas coisas importantes de minha vida só no fim de janeiro! E renascerei após os dias de Carnaval...).
Pensando nisso tudo e em como tenho mudado o meu próprio jeito de lidar com essas datas (dia 25 de dezembro para mim não tem nenhum efeito especial, mas 31 de janeiro tem essa coisa que expliquei lá em cima), eu percebo que sempre gostei de fazer, todos os anos, o que eu sempre faço durante o ano inteiro. Estar com pessoas que amo, ler, ouvir música, dar risadas, ver filmes, viver a minha vida de sempre. Fico sempre pensando se fantasio demais esses momentos é porque na verdade minha vida durante o ano não era uma coisa que eu curtia tanto.
Claro, ir à festas, beber, viajar, tudo isso também conta, porque eu faço isso o tempo todo. Mas o que eu não gosto de verdade é inventar uma história, em dia nenhum do ano, uma personagem, uma coisa que só vale para aquele momento. Mas isso é coisa minha e eu não deixo de ser amiga de quem vive essa ficção. Só não me chame. 

E essa coisa vale para o primeiro dia do ano também. 
De algum modo, tenho certeza absoluta que 2012 vai ser massa. Mesmo que agora, agora mesmo, eu esteja sentindo uma falta desesperada de pessoas que eu amo. Chegando de viagem ontem eu escrevi uma mensagem de texto para alguns amigos e amigas assim

Cheguei! Uma lufada de ar frio invade meu corpo e meu coração em pleno mês de janeiro. Sei que não estou em casa. 

Por aí.

Fiquei banza ontem, mas conversar com uma vizinha me ajudou muito ontem à tarde. Ela está grávida e eu sempre adorei grávidas. Acho que elas possuem uma força extra para tudo na vida e sempre me emociono quando a vejo passar em frente à minha porta, a silhueta crescendo bem ali na barriga, pela manhã tem uma luz que vem da lavandeira e incide sobre as pessoas que vão abrir o portão para ir trabalhar, eu olho e penso, ali tem uma pessoa, fruto de outras duas pessoas, me emociono. Abracei e abracei-a dizendo que queria muito um dia ficar grávida também, mas, independente disso, quando eu a abraçava, sentia sua força extra e a beleza de seu sorriso penetrando em todos os sonhos que eu desejo para mim e para mil e tantas pessoas em 2012. 
Modupè, minha mãe, meu pai, pela paciência.
Asè para nós todas e todos em 2012.