Você que me lê, me ajuda a nascer.
domingo, outubro 30, 2011
Horário de Verão.
Liguei para mainha e disse que aqui na TV' passou alguma coisa sobre o baiano ser o mais desacostumado com horário de verão. Ficamos discutindo sobre o fato da reportagem enfatizar o fato de um viés que não parecia correto, quando na verdade o que passa é que há alguns anos nós conseguimos ficar de fora dessa palhaçada. Aí mainha começou (ela sempre começa)
minha filha, era assim, quando entrou o governo que não era carlista acabou essa coisa de horário de verão, porque ele só atende aos empresários baianos, que tem suas relações com o empresariado do sul-sudeste. O povão que acorda cedo para ir trabalhar não vê graça nem tem vontade de que ele exista. Pense você uma pessoa que já acorda três da manhã tendo que acordar às duas para ir pegar marisco pra vender, pra preparar as coisas para ir trabalhar na rua, as pessoas que vão esperar ônibus naquele escuro, de madrugada?
(na hora lembrei de uma colega que uma vez vindo me trazer em casa me perguntou o que as pessoas faziam na rua ás três da manhã. Quando eu disse "indo trabalhar!", ela foi guiando até em casa sem dizer palavra, me deixou lá e eu tchau)
E por isso aqui a gente ficou uns anos sem entrar nessa onda. Mas todo ano era muita pressão e aí agora Wagner está no fim do mandato, liberou geral, não aguenta mais ficar dando murro em ponta de faca.
E a gente concluiu juntas que se não traz benefício para o povo, só pode ter a ver com pressões de organismos internacionais. Quem herda, não furta.
Aproveitando o ensejo, divulgo um cordel contra o horário de verão que encontrei passeando na internet:
minha filha, era assim, quando entrou o governo que não era carlista acabou essa coisa de horário de verão, porque ele só atende aos empresários baianos, que tem suas relações com o empresariado do sul-sudeste. O povão que acorda cedo para ir trabalhar não vê graça nem tem vontade de que ele exista. Pense você uma pessoa que já acorda três da manhã tendo que acordar às duas para ir pegar marisco pra vender, pra preparar as coisas para ir trabalhar na rua, as pessoas que vão esperar ônibus naquele escuro, de madrugada?
(na hora lembrei de uma colega que uma vez vindo me trazer em casa me perguntou o que as pessoas faziam na rua ás três da manhã. Quando eu disse "indo trabalhar!", ela foi guiando até em casa sem dizer palavra, me deixou lá e eu tchau)
E por isso aqui a gente ficou uns anos sem entrar nessa onda. Mas todo ano era muita pressão e aí agora Wagner está no fim do mandato, liberou geral, não aguenta mais ficar dando murro em ponta de faca.
E a gente concluiu juntas que se não traz benefício para o povo, só pode ter a ver com pressões de organismos internacionais. Quem herda, não furta.
Aproveitando o ensejo, divulgo um cordel contra o horário de verão que encontrei passeando na internet:
Extraído do blog Oficina de Cordel.
Câmera fotográfica.
Enfim, encontrei. Ou ela me encontrou. A câmera que eu quero comprar agora, dentro das minhas posses e do que eu quero fazer.
Só tenho que agradecer ao Flávio, amigo virtual.
Mais sobre a câmera aqui. E sobre ele, aqui e aqui.
Só tenho que agradecer ao Flávio, amigo virtual.
Mais sobre a câmera aqui. E sobre ele, aqui e aqui.
As canções.
Sobre o filme: acho massa que Eduardo Coutinho esteja inaugurando um jeito de fazer cinema (digo esses últimos documentários, o cara é bem sagaz). Essa coisa de metalinguagem, representação me fascina (tanto é que procuro filmes sobre isso na Mostra, além dos tradicionais sobre racismo, imigração, infância). Mas a questão é que agora ele não me seduz tanto como antes. Quando você começa a fazer essas maratonas que eu comecei a fazer há cerca de seis anos atrás, ir em todas as mostras de cinema de São Paulo/Salvador, todas mesmo, desde as menores em poucas salas a estas maiores, Eduardo Coutinho vira uma coisa. Um frisson e tals. Mas eu acho que o que ele faz, entrevistar "gente comum" não me fascina mais tanto porque eu vivo entre "gente comum" e tudo aquilo que elas falam no vídeo eu ouço o tempo inteiro (é deprimente ouvir as risadas dessas elitezinha sentada numa cadeira confortável quando alguém lá na tela diz alguma coisa sobre como elas vivem a vida, resolvem seus problemas). Não é que não haja importância nessa coisa toda, eu acho maravilhoso, mas ele faz isso para um outro público, os grã-finos chateados com suas vidas (as grã-finas também), os/as intelectuais que acreditam viver fora desse mundo, enfim... eu demorei a entender isso, mas não acho que não tenha o seu valor. Só que, hoje em dia, eu estou mais interessada em saber o que pensam os/as ricos/as (o "objeto" de pesquisa também pode ser os que pensam fazer pesquisa). E poucas pessoas fazem isso, entram nas suas casas, perguntam o que pensam, os deixam sem jeito com perguntas simples. Por isso Gabriel Mascaro é o que se tem de MUITO bom no cinema-documentário hoje. Entrando nas coberturas e nos cruzeiros marítimos para ver o que gente rica faz com o dinheiro que tem, o que pensam sobre o mundo, política, sobre nós, "o povo".
Me incomodava o fato dos filmes sobre "gente comum" saírem nas salas dos cinemas cult de todo o país e ver a elitezinha paulistana rindo de nossos jeitos de enfrentar a vida, consumindo nossa vida como se ela fosse um enlatado. Eu me perguntava se aqueles filmes teriam passado num circuito alternativo em periferias da cidade e descobria que as "gentes comuns" entrevistadas em sua maioria não haviam assistido a versão final do filme. Certa vez, estava numa sala de cinema assistindo Pro Dia Nascer Feliz e algumas adolescentes que estudavam no colégio para ricos que havia sido filmado por João Jardim estavam ali, sentadas do meu lado. Elas simplesmente nem ouviram as filosofias de redoma de vidro que as coleguinhas de escola falavam (e olha que foram muitas imbecilidades!), ficaram só comentando 'Olha a frente do prédio!", "Ai, olha aquele menino!". Lastimável. Enquanto uma menina lá no sertão do recitando Vinicius de Moraes, Manuel Bandeira.Mas será que só eu vejo essas coisas?
Seguindo a recomendação de Hugo Mansur, amigo, eu recomendo o curta Recife Frio. Aqui, a entrevista com o diretor:
E aqui, parte do curta:
A ideia de que ser "gente" é ser parecido culturalmente com a Europa é um pensamento bem corrente da elite brasileira. E isso vale pra Recife e Salvador, cidades com mais de 30 graus a maior parte do ano. Um colega italiano chegando ao Brasil no fim de 2007 ria horrores ao passar na Paulista e ver os enfeites de Natal. Disse que não entendia porque se comemorava daquele jeito se aqui era verão.
sábado, outubro 29, 2011
sexta-feira, outubro 28, 2011
terça-feira, outubro 25, 2011
domingo, outubro 23, 2011
Dam bô.
Domingo com cara de dam bô (e com tradução ao pé do ouvido, pelo celular)..
Dam Bô
Sara Tavares
Un ca crê, vive assim
Sem sento li má mi
Es perguntâ,qué cun tem
Un respondes cun suspiro
Un passá,pouco tempo ta
Percebê que era bô
Un razão, pa'n sorri
Ta dja dia pa'n volta
Refrão
Dam bo
Ca cre fica mi sô
Dam bo
Un crebo li ma mi
Dam bo
Ca cre fica mi sô
Dam bo
Un crebo li ma mi
Rio passa e d'ze no bai
Bagdigmai i ta tchma
Sol brilha bo descansa
Nha alma
Refrão
Dam bo
Ca cre fica mi sô
Dam bo
Un crebo li ma mi
Dam bo
Ca cre fica mi sô
Dam bo
Un crebo li ma mi
Cabelo oprimido, "teto" para o cérebro, por Alice Walker.
... Não fiquem alarmados. Não se trata de uma avaliação. Simplesmente quero compartilhar com vocês algumas experiências com nosso amigo cabelo, e espero entreter e divertir a todos.
Durante um longo tempo, desde a primeira infância até a idade adulta crescemos física e espiritualmente (incluindo o intelecto com o espírito), sem que nos demos muito conta do fato. Na verdade, alguns períodos do nosso crescimento são tão confusos, que nem percebemos que se trata de crescimento. Podemos nos sentir hostis, zangados, chorosos ou histéricos, ou deprimidos. Jamais nos ocorre, a não ser que encontremos por acaso um livro ou uma pessoa capaz de explicar, que estamos em processo de mudança, de crescimento espiritual. Sempre que crescemos, sentimos, como a semente nova deve sentir o peso e a inércia da terra, quando procura sair da casca para se transformar numa planta. Geralmente não é uma sensação agradável. Porém, o mais desagradável é não saber o que está acontecendo. Lembro-me das ondas de ansiedade que me envolviam nos diferentes períodos de minha vida, sempre se manifestando por meio de distúrbios físicos (insônia, por exemplo) e como eu ficava assustada, porque não entendia como aquilo era possível.
Com a idade e a experiência,
vocês ficarão satisfeitos em saber, o crescimento torna-se um processo
consciente e reconhecido. Ainda um pouco assustador, mas pelo menos
compreendido. Aqueles longos períodos, quando algo dentro de nós parece estar
esperando, contendo a respiração, sem saber qual será o próximo passo, com o
tempo transformam-se em períodos esperados, pois enquanto ocorrem,
compreendemos que estamos sendo preparados para a próxima fase da nossa vida e
que provavelmente vai se revelar um novo nível de personalidade.
Alguns anos atrás passei por um longo período de inquietação, disfarçado em imobilidade. Isto
é, isolei-me do grande mundo a favor da paz do meu mundo pessoal, muito menor.
Eu me desliguei da televisão e dos jornais (um grande alívio!), dos membros
mais perturbadores da minha grande família, e da maioria dos amigos. Era como
se eu tivesse chegado a um teto no meu cérebro. E sob esse teto minha mente
estava extremamente inquieta, embora tudo em mim estivesse calmo.
Como é comum nesses períodos de introspecção, contei as contas do meu progresso
neste mundo. No relacionamento com a família e os antepassados eu agira
respeitosamente (nem todos concordarão, acredito); no meu trabalho eu havia
feito, usando toda a habilidade de que disponho, tudo que era exigido de mim;
no relacionamento com as pessoas com quem convivo diariamente, eu agira com
todo amor que podia encontrar no meu íntimo, Eu começava também, finalmente, a
reconhecer minha responsabilidade para com a Terra e minha adoração do Universo.
O que mais então eu devia fazer?
Por que, quando eu meditava e
procurava o alçapão de escape no alto do meu cérebro, o qual, nos outros
estágios do crescimento, eu sempre tive a sorte de encontrar, só achava agora
um teto, como se o caminho para me identificar com o infinito, o caminho que eu
costumava trilhar, estivesse selado?
Certo dia, depois de ter feito ansiosamente essa pergunta durante um ano, ocorreu-me que, no meu ser físico, havia uma última barreira para minha libertação espiritual, pelo menos naquela fase: meu cabelo.
Certo dia, depois de ter feito ansiosamente essa pergunta durante um ano, ocorreu-me que, no meu ser físico, havia uma última barreira para minha libertação espiritual, pelo menos naquela fase: meu cabelo.
Não meu amigo cabelo propriamente, pois logo percebi que ele era inocente. O
problema era o modo pelo qual eu me relacionava com ele. Eu estava sempre
pensando nele. Tanto que, se meu espírito fosse um balão, ansioso para voar e
se confundir com o infinito, meu cabelo seria a pedra que o ancoraria à Terra.
Compreendi que seria impossível continuar meu desenvolvimento espiritual,
impossível o crescimento da minha alma, impossível poder olhar para o Universo
e esquecer meu ego completamente nesse olhar (uma das alegrias mais puras!) se
continuasse presa a pensamentos sobre meu cabelo. Compreendi de repente porque
freiras e monges raspam as cabeças!
Olhei no espelho e comecei a rir
de felicidade! Tinha conseguido abrir a pele da semente e estava subindo dentro
da terra.
Então comecei as experiências. Durante alguns meses usei longas tranças (era
moda entre as mulheres negras na época) feitas com o cabelo de mulheres
coreanas. Eu adorava isso. Realizava minha fantasia de ter cabelos longos e
dava ao meu cabelo curto e levemente processado (oprimido) a oportunidade de
crescer. A jovem que trançava meu cabelo era uma pessoa que eu acabei adorando
– uma jovem mãe lutadora; ela e a filha chegavam à minha casa às sete da noite
e conversávamos, ouvíamos música, comíamos pizzas ou burritos, enquanto ela
trabalhava, até uma ou duas horas da manhã. Eu adorava o artesanato dos
desenhos criados por ela para a minha cabeça. (Trabalho de cesteiro! exclamou
uma amiga, tocando a teia intrincada na minha cabeça.) Eu adorava sentar entre
os joelhos dela como sentava entre os joelhos de minha mãe e de minha irmã
enquanto elas trançavam meu cabelo, quando eu era pequena. Eu adorava o fato do
meu cabelo crescer forte e saudável sob as “extensões”, como eram chamadas as
tranças. Eu adorava pagar a uma jovem irmã por um trabalho realmente original e
que fazia parte da tradição do penteado dos negros. Eu adorava o fato de não
precisar tratar do meu cabelo a não ser com intervalos de dois ou três meses (pela
primeira vez na vida eu podia lavar a cabeça todos os dias, se quisesse, e não
fazer nada mais). Porém, uma vez ou outra as tranças tinham de ser retiradas
(um trabalho de quatro a sete horas) e feitas novamente (mais sete a oito
horas); também eu não me esquecia das mulheres coreanas que, de acordo com
minha jovem cabeleireira, deixavam crescer o cabelo expressamente para vender.
É claro que essa informação me fez pensar (e, sim, me preocupar) sobre os
outros aspectos de suas vidas.
Quando meu cabelo atingiu dez centímetros de comprimento, dispensei o cabelo
das minhas irmãs coreanas e trancei o meu. Só então renovei o conhecimento com
suas características naturais. Descobri que era flexível, macio reagindo quase
com sensualidade à umidade. Com as pequenas tranças girando para todos os
lados, menos para onde eu queria que virassem, descobri que meu cabelo era
voluntarioso, exatamente como eu! Vi que meu amigo cabelo, tendo recuperado
vida própria, tinha senso de humor. Descobri que eu gostava dele.
Mais uma vez na frente do espelho, olhei para minha imagem e comecei a rir. Meu
cabelo era uma dessas criações estranhas, incríveis, surpreendentes, de parar o
tráfego – um pouco parecido com as listras das zebras, com as orelhas do tatu
ou os pés azul-elétrico do mergulhão – que o universo cria sem nenhum motivo
especial a não ser demonstrar sua imaginação ilimitada.
Compreendi que jamais tivera a
oportunidade de apreciar o cabelo em sua verdadeira natureza. Descobrir que
ele, na verdade, tinha uma natureza própria. Lembrei-me dos anos que passei
agüentando cabeleireiros – desde o tempo de minha mãe – que faziam trabalho
missionário nos meus cabelos. Eles dominavam, suprimiam, controlavam. Agora,
mais ou menos livre, ele ficava todo espetado para todos os lados. Eu
telefonava para todos meus amigos no país para relatar as travessuras do meu
cabelo. Ele jamais pensava em ficar deitado. Deitar de costas, na posição
missionária, não o interessava. Ele cresceu. Ficar curto, cortado quase até a
raiz, outra “solução” missionária, também não o interessava. Ele procurava
espaços cada vez maiores, mais luz, mais dele mesmo. Ele adorava ser lavado;
mas isso era tudo.
Finalmente descobri exatamente o que o cabelo queria: queria crescer, ser ele
mesmo, atrair poeira, se esse era seu destino, mas queria ser deixado em paz
por todos, incluindo eu mesma, os que não o amavam como ele era. O que acham
que aconteceu? (Além disso, agora eu podia, como um bônus adicional,
compreender Bob Marley como o místico que suas músicas diziam que era). O teto
no alto do meu cérebro abriu-se; mais uma vez minha mente (e meu espírito)
podia sair de dentro de mim. Eu não estaria mais presa à imobilidade inquieta,
eu continuaria a crescer. A planta estava acima do solo.
Essa foi a dádiva do meu
crescimento, no meu quadragésimo ano. Isso e saber que enquanto existir alegria
na criação haverá sempre novas criações para descobrir, ou redescobrir, e que o
melhor lugar para olhar é dentro de nós mesmos. Que a própria morte, sendo
parte da vida, deve oferecer pelo menos um momento de prazer.
Fiz esta palestra no Dia dos Fundadores, 11 de abril de 1987, no Spelman
College, Atlanta.
O texto faz parte do livro Vivendo pela Palavra de Alice Walker.
Esse texto foi publicado no blog de Nalui tempos atrás, mas quem me mandou de lá foi minha colega de estudos Míriam Lúcia. Não nos conhecemos pessoalmente, mas conhecemos pessoas que se conhecem, pelo que sei. Fica a dica do blog.
sábado, outubro 22, 2011
Carta em solidariedade a Escola Municipal de Educação Infantil Guia Lopes em São Paulo.
Vamos cuidar do futuro de nossas crianças, sim! Combatendo o racismo, hoje!
Em, 2011 foi instituída a campanha do UNICEF “Por uma infância sem racismo”, e também o ano internacional do afrodescendente, definido pela ONU, marcos importantes para estimular ações em prol da igualdade racial na educação. Além disso, a educação brasileira em sua lei maior institui como obrigatório o trabalho, permanente, com a cultura afro-brasileira e africana. Parecem medidas simples e de baixo impacto para superar as desigualdades raciais tão agudamente vividas pela população negra brasileira e de modo especial pelas crianças negras e indígenas.
Segundo dados divulgados no 2º Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil: 2009-2010 em 2008, 84,5% das crianças negras de até 3 anos não frequentavam creches enquanto 79,3% das crianças brancas estão nesses espaços. Em relação às crianças negras de 6 anos, 7,5% estavam fora de qualquer tipo de instituição educacional enquanto 4,8% das crianças brancas estavam nesta situação e por fim somente 41,6% das crianças negras de 6 anos estavam no sistema de ensino seriado comparado a 49% das crianças brancas.
Diante desses dados as medidas assinaladas se coadunam com a cobrança dos movimentos sociais para a instituição de políticas que modifiquem o quadro de desigualdade racial que também atinge às crianças. No entanto, quando gestores e professores comprometidos com uma educação que favoreça o pleno desenvolvimento da criança incluem no seu fazer pedagógico ações que busquem romper com a dominação de raça, cumprindo a legislação educacional vigente e dando concretude as demandas da agenda internacional, acontecem fatos da magnitude do que ocorreu na escola de educação infantil Guia Lopes, na zona norte de São Paulo que relato a seguir.
Depois da festa junina afro-brasileira, da oficina de toques de tambores e de outras ações que trabalharam a diversidade racial, no sábado do dia 16/10/2011, o muro da escola amanheceu pichado com a seguinte frase: "vamos cuidar do futuro de nossas crianças brancas”,escrita entre duas suásticas.
Sabemos que o uso desse símbolo para fins de divulgação do nazismo é proibido, aliás, texto posto na lei que institui o crime de racismo. Mera coincidência?
Claro que não. Os que escreveram, falam de um lugar muito bem definido. Ameaçam e sabem por quê. São pessoas assustadas com a possibilidade de ver o desmantelamento de uma educação que privilegia um único saber, que desmerece a construção cultural da população negra. Sabem que o trabalho realizado pela instituição, em questão, tem repercussões mais profundas do que simplesmente mudar o currículo. Assustam-se ante a existência de crianças negras empoderadas, cientes de seu valor como sujeito histórico, da beleza de seus cabelos e cor de pele da relevância de suas vidas.
O recado foi certeiro e de mão dupla. Para a equipe pedagógica que vem realizando um trabalho notável e colaborou para o desenvolvimento de matéria didático-pedagógico como parte do projeto da Rede Educar para a Igualdade Racial na Educação Infantil (Ufscar/MEC/CEERT), incluindo várias referências do patrimônio cultural afro-brasileiro e africano nas atividades educacionais desenvolvidas, as suásticas. Ou seja, a violência própria do nazismo, a ameaça, a instituição do medo. Para as famílias uma invocação da solidariedade da raça, à defesa dos privilégios, um chamado à supremacia da brancura, à preservação de uma educação eurocentrada.
Porém, o desfecho talvez surpreenda os pichadores. A reação foi imediata: protesto em diferentes redes virtuais e repercussão na mídia em todo o Brasil demonstrando que há uma resistência articulada, e nem esta escola, nem qualquer outra estará sozinha na grande tarefa de cuidar do futuro das crianças, garantindo-lhes uma educação sem discriminação e promotora da igualdade racial.
Serão as crianças mobilizadas pela escola que darão a resposta mais emblemática a este episódio. No lugar das suásticas e da frase racista, desenhos infantis, pois como dizia o grande mestre Paulo Freire “ensinar exige a convicção de que mudar é possível”, nós estamos convictos que a educação infantil tem um papel fundamental na construção de mentalidades que serão incapazes de uma pichação desse tipo. Com esse desfecho a escola cumpre efetivamente sua parte nesse processo e esperamos que as autoridades também façam a sua, no sentido de coibir novas manifestações de mesmo teor e protegendo a escola, as famílias e a sociedade brasileira do racismo.
Lucimar Rosa Dias1 Maria Aparecida da Silva Bento2 Waldete Tristão Farias Oliveira3
1 Professora da UFMS/ Consultora do CEERT.
2 Diretora Executiva do CEERT - Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades
3 SME-SP/CEERT/Fórum Paulista de Educação Infantil
2 Diretora Executiva do CEERT - Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades
3 SME-SP/CEERT/Fórum Paulista de Educação Infantil
sexta-feira, outubro 21, 2011
Um lugar ao sol.
Imperdível a cena da ricaça falando que adora cobertura porque tendo dois andares não ouve "barulho de panela (fazendo cara de nojinho)". Disse que dá agonia. Imperdível e... nojento. Asqueroso, para ser mais específica.
Na mesma linha do filme abaixo, Faixa de Areia:
Em tempos de 35ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, vale a pena ver bons filmes. Eu vou.
Um beijo e hortifruti.
Aqui perto de casa abriu um hortifruti novo. Uma amiga ia vir me visitar e tive que ir lá às pressas comprar o jantar. Acabei descobrindo que a moça que atendia lá era de Barreiras, cidade do interior da Bahia. Pegamos conversa e agora eu faço a feira do mês lá. Além das frutas e verduras não virem com selinho colado nelas, muitas vem direto da Bahia toda semana, já que seu irmão é caminhoneiro.
A gente ficou conversando sobre família, infância e saudades da última vez. E assim, do nada, na hora de ir embora, ela me disse
peraí, mulher, vem aqui, deixa eu te dar um beijo
Isso mudou tudo. As verduras na minha geladeira tem o carinho de um beijo. Se eu gosto disso?
A gente ficou conversando sobre família, infância e saudades da última vez. E assim, do nada, na hora de ir embora, ela me disse
peraí, mulher, vem aqui, deixa eu te dar um beijo
Isso mudou tudo. As verduras na minha geladeira tem o carinho de um beijo. Se eu gosto disso?
quarta-feira, outubro 19, 2011
Muro de escola de Educação Infantil em São Paulo é pichado com frase racista.
Foto de Airton Vygnola
Muro de escola de Educação Infantil é pichado
com frase racista na zona norte
Para diretora, trata-se de uma reação às ações da escola pela igualdade racial.
O muro da EMEI (Escola Municipal de Educação Infantil) Guia Lopes, no Limão, zona norte de São Paulo, foi pichado durante o fim de semana com a frase "vamos cuidar do futuro de nossas crianças brancas", acompanhada da suástica nazista. Para a diretora do colégio, Cibele Racy, foi uma reação às ações afirmativas pela igualdade racial desenvolvidas desde o início do ano entre os alunos.
A EMEI tem 430 alunos, com faixa etária entre 4 e 6 anos, divididos em classes da educação infantil I e II.. Durante este ano, as questões raciais têm sido discutidas com as crianças, como parte do projeto pedagógico. Cibele conta sobre a festa junina, que teve motivos afro-brasileiros:
- Foi um sucesso total. Trouxemos comidas e aspectos culturais da África. Tenho vários depoimentos de pais mostrando toda a aceitação.
Segundo a diretora, apesar de bem recebido, o projeto pode ter despertado reações negativas por parte de alguém que sabe do trabalho desenvolvido pelo colégio:
- Essa pichação teve um endereço certo. Não foi algo aleatório. Mexemos em uma ferida muito profunda e eu estava até preparada para alguma reação, mas não dessa maneira.
A diretora da EMEI afirma que, em sete anos na unidade, nunca havia visto uma pichação nos muros da escola. Ela diz ter ficado surpresa com a manifestação racista:
- A escola foi aberta domingo para a eleição do conselho tutelar. Quando fui embora, por volta das 19h, passei pelo muro lateral e vi o que estava escrito. Fiquei espantada. Pela manhã, já chamei os professores para discutir o que seria feito.
Cibele pretende registrar um boletim de ocorrência na delegacia do bairro nesta terça-feira (18), mas não só isso. No próximo dia 10, haverá uma reunião pedagógica no período noturno. Os pais de alunos serão convidados para um bate-papo com integrantes de movimentos pela diversidade racial. Além disso, os alunos serão convidados a remover do muro a frase e o símbolo de intolerância, mas de uma forma divertida:
- Vamos dizer que sujaram a escola e que precisamos dar um jeito naquilo. As crianças estarão livres para pintar o que desejarem. É uma forma de eliminar completamente essa marca lamentável. O que merece publicidade é o que tem sido feito de positivo aqui na escola.
Todos os anos, em novembro, o colégio faz passeata temática em via pública. A diretora diz que, no próximo mês, a igualdade racial será o tema da manifestação. Professora de psicologia da educação da USP (Universidade de São Paulo), Silvia Colello acredita que o projeto escolar surtiu efeito. Daí a reação.
- Foi tão eficiente que as vozes contrárias não conseguiram se calar.
A professora da USP elogia a solução proposta pelo colégio:
- A diretora está dizendo que vai responder de forma pacífica, lutando pela igualdade. Vamos cobrir as marcas da violência com a nossa mensagem, com desenhos, com o que temos a dizer.
Segundo Silvia Colello, na faixa etária dos alunos da Guia Lopes ainda não há manifestação de racismo:
- A criança pequena que é branca brinca com a negra sem problemas. A discriminação é algo socialmente
adquirido, que surge depois. Na adolescência, por exemplo, a intolerância já está arraigada.
Depois do registro do boletim de ocorrência, a Polícia Civil deve instaurar inquérito para investigar o caso e apurar responsabilidades. Em São Paulo, manifestações racistas são apuradas pela Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância).
- Foi um sucesso total. Trouxemos comidas e aspectos culturais da África. Tenho vários depoimentos de pais mostrando toda a aceitação.
Segundo a diretora, apesar de bem recebido, o projeto pode ter despertado reações negativas por parte de alguém que sabe do trabalho desenvolvido pelo colégio:
- Essa pichação teve um endereço certo. Não foi algo aleatório. Mexemos em uma ferida muito profunda e eu estava até preparada para alguma reação, mas não dessa maneira.
A diretora da EMEI afirma que, em sete anos na unidade, nunca havia visto uma pichação nos muros da escola. Ela diz ter ficado surpresa com a manifestação racista:
- A escola foi aberta domingo para a eleição do conselho tutelar. Quando fui embora, por volta das 19h, passei pelo muro lateral e vi o que estava escrito. Fiquei espantada. Pela manhã, já chamei os professores para discutir o que seria feito.
Cibele pretende registrar um boletim de ocorrência na delegacia do bairro nesta terça-feira (18), mas não só isso. No próximo dia 10, haverá uma reunião pedagógica no período noturno. Os pais de alunos serão convidados para um bate-papo com integrantes de movimentos pela diversidade racial. Além disso, os alunos serão convidados a remover do muro a frase e o símbolo de intolerância, mas de uma forma divertida:
- Vamos dizer que sujaram a escola e que precisamos dar um jeito naquilo. As crianças estarão livres para pintar o que desejarem. É uma forma de eliminar completamente essa marca lamentável. O que merece publicidade é o que tem sido feito de positivo aqui na escola.
Todos os anos, em novembro, o colégio faz passeata temática em via pública. A diretora diz que, no próximo mês, a igualdade racial será o tema da manifestação. Professora de psicologia da educação da USP (Universidade de São Paulo), Silvia Colello acredita que o projeto escolar surtiu efeito. Daí a reação.
- Foi tão eficiente que as vozes contrárias não conseguiram se calar.
A professora da USP elogia a solução proposta pelo colégio:
- A diretora está dizendo que vai responder de forma pacífica, lutando pela igualdade. Vamos cobrir as marcas da violência com a nossa mensagem, com desenhos, com o que temos a dizer.
Segundo Silvia Colello, na faixa etária dos alunos da Guia Lopes ainda não há manifestação de racismo:
- A criança pequena que é branca brinca com a negra sem problemas. A discriminação é algo socialmente
adquirido, que surge depois. Na adolescência, por exemplo, a intolerância já está arraigada.
Depois do registro do boletim de ocorrência, a Polícia Civil deve instaurar inquérito para investigar o caso e apurar responsabilidades. Em São Paulo, manifestações racistas são apuradas pela Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância).
terça-feira, outubro 18, 2011
segunda-feira, outubro 17, 2011
Candomblé e as crianças.
A convite de uma moça, fui visitar um terreiro de candomblé num bairro perto de umas escolas onde já trabalhei. Qual não foi a minha surpresa quando encontrei muitas crianças que já tinham sido das minhas turmas de escola. Muitas mesmo. Algumas delas eu cuidei quando ainda eram muito pequenas, mas foi muito bonito ver que elas me olhavam sem saber direito se me conheciam ou não, mas depois, de algum jeito, vinham falar comigo, me davam um oi meio tímido e me encaravam. Eu perguntava depois se elas e eles lembravam de mim, algumas diziam que não, outras que sim. Mas as que diziam não me olhavam, me olhavam.
Algumas vinham tocar no meu cabelo, outras perguntavam quem eu conhecia para estar ali.
Fiquei pensando em todas essas crianças e outras mais, nas suas famílias e crenças. Vi todas aquelas meninas de branco dançando na roda e me emocionei. Todas lindas, sorridentes, vivendo suas vidas de criança, correndo, sorrindo, molecas. Uma das crianças que eu me lembrava muito começou a dançar junto comigo e me abraçava, me abraçava. Foi difícil não me emocionar de novo. Fiquei feliz dele menino sem vergonha de no alto de seus oito anos me dar beijo, carinho, dançar comigo, abraço. Ele me perguntava "você vai ficar até o fim? Vai ter um bolo, você vai comer?", e eu enchia o olho de água.
Pensei nas mães e em todas as pessoas da família que eu conheci enquanto estive com elas e como nunca saberia que eram do candomblé. E porque não, porque não andar com sua guia no pescoço se toda pessoa católica anda com seu terço? Pensando até que ponto o preconceito faz com que escondamos nossa fé, nosso jeito de viver a vida, encarar as coisas... e em como isso tudo nos fere. Em como a escola não está preparada para lidar com isso. Em como sabemos muito pouco e por não saber, ignoramos e discriminamos... não sei ainda como resolver isso.
Porque eu também só pude mudar muitas coisas em mim quando me permiti conhecer, encontrar, compreender outras vidas, tentar sentir na mesma frequência, pegar o tom. Aprendi isso com as crianças, elas me deram a certeza e a coragem de lançar-me rumo ao novo sem julgamentos.
O axé hoje veio todo das crianças. Mais uma vez.
domingo, outubro 16, 2011
sábado, outubro 15, 2011
Dia.
Por Kauã Silva, 05 anos.
Uma outra criança me trouxe um presente e disse
Feliz Dia das Professoras
Parece bobo, mas eu achei lindo como uma menina de cinco anos, quando aprende que há diferença entre homens e mulheres, emprega bem isso no dia-a-dia. Parece bobo, mas na nossa sala das professoras há um cartaz
Sala dos Professores
Mesmo sem ter NENHUM professor na escola. Parece bobo, mas eu não sou homem e ser chamada de homem (quase) o tempo inteiro me irrita. Como numa fila e a atendente grita
próximo!
E eu sorrio para ela dizendo "eu sou próxima!". E isso faz toda a diferença. Eu me emocionei com a mocinha me parabenizando porque foi ela também que um dia me trouxe um bala e explicou à mãe que fazia isso porque
a professora sempre traz doce pra gente quando ela viaja, então eu também vou levar um pra ela
Parece bobo, mas, enfim, eu sou boba.
sexta-feira, outubro 14, 2011
quinta-feira, outubro 13, 2011
quarta-feira, outubro 12, 2011
Poetic Justice (Sem Medo no Coração).
A vida é engraçada. Eu estava aqui procurando o tal filme Poetic Justice para comprar e descobri que estava esgotado no fornecedor a versão em português. Seria fácil encontrar o DVD' em inglês, mas sem legendas e eu teria que ter um DVD' player destravado.
Enfim... arrumando minhas fitas K-7 (sim, eu tenho fitas K-7! Lembro que conheci um cara que me disse que ter fitas K-7 era possível sim, bastando para isso se ocupar de limpá-las vez por outra, ocupando-se também de limpar o vídeo. O que pega é que atualmente é bem difícil encontrar aquelas fitinhas de limpar cabeçotes de vídeos K-7, lembram?) dei de cara, na primeira fileira com o tal filme, Sem Medo no Coração. Nem acreditei direito, porque nem lembrava que um dia na vida havia comprado uma cópia em fita... lembro-me que tempos atrás, a locadora perto da casa de mainha estava liquidando fitas K-7 por um real e eu comprei todos os black movies que tinham lá e que eu ainda não tinha. Imagino que foi por essa época. Acabei dando de cara com outros filmes que nem lembrava que tinha mais!
Finalmente, consigo limpar a fita e o vídeo e o som está aqui, indo devagarzinho... comecei a assistir esse filme na internet faz um tempo, mas nunca terminei. Tinha ele aqui no computador, em algum lugar... enfim, eu lembrei de Poetic Justice porque dia desses assisti o filme sobre a vida de Tupac, aquele Resurrection.
Vendo o filme com um amigo, eu me espantava com a história como se nunca tivesse ouvido nada sobre o moço. Mas me lembro também que anos atrás eu fui a um festival de cinema hip-hop e vi dois filmes sobre Tupac, um deles um documentário chamado Thug Angel que nunca mais consegui encontrar para assistir de novo, coisa de festival. Acho que apaguei da minha cabeça porque a história de Tupac, assim como de muitas outras pessoas, mexem muito comigo e eu não consigo ficar relembrando todo o tempo coisas que ouvi no filme (a cena sobre ter fome e como a música pode expressar a vontade de comer que não passa, dia a após dia, me despedaça inteira), acho que "esqueço" para não sofrer mais, para não pensar na grande parte dos jovens negros que temos em São Paulo, Salvador, New York ou Paris vivendo vidas parecidas.
Aproveito e falo do filme do 50Cent, que se não é dos melhores, recomendo também, mas por causa de algumas cenas. Acho linda a cena de quando ele está quase no fim do filme retirando os pontos da bala na boca e sua mulher fala alguma coisa sobre
quero sentir o seu corpo
Pode parecer bobo, mas gostei da cena. E a cena de sexo entre os dois também não é das piores. Gosto das cenas de quando ele toma os tiros e fazem uma montagem com o dia de seu nascimento, no momento em que ele volta a si com os eletrochoques. A verdade é que apesar de não ser um bom ator, o fato de deixá-lo calado a maior parte do tempo fez com que a gente não o ache tão ruim.
A verdade é que nem a música de Tupac Shakur nem a música de 50Cent me fascinam. Gosto de algumas coisas de Tupac e de quase nada de 50Cent. O que me encantam, na verdade, são os filmes. São as raras oportunidades que tenho para ver, na televisão e no cinema, cenas de amor, de sexo e cotidiano de famílias e pessoas negras.
Ah, e pra terminar o assunto, sim, eu também tenho fitas k-7 com músicas!
Enfim... arrumando minhas fitas K-7 (sim, eu tenho fitas K-7! Lembro que conheci um cara que me disse que ter fitas K-7 era possível sim, bastando para isso se ocupar de limpá-las vez por outra, ocupando-se também de limpar o vídeo. O que pega é que atualmente é bem difícil encontrar aquelas fitinhas de limpar cabeçotes de vídeos K-7, lembram?) dei de cara, na primeira fileira com o tal filme, Sem Medo no Coração. Nem acreditei direito, porque nem lembrava que um dia na vida havia comprado uma cópia em fita... lembro-me que tempos atrás, a locadora perto da casa de mainha estava liquidando fitas K-7 por um real e eu comprei todos os black movies que tinham lá e que eu ainda não tinha. Imagino que foi por essa época. Acabei dando de cara com outros filmes que nem lembrava que tinha mais!
Finalmente, consigo limpar a fita e o vídeo e o som está aqui, indo devagarzinho... comecei a assistir esse filme na internet faz um tempo, mas nunca terminei. Tinha ele aqui no computador, em algum lugar... enfim, eu lembrei de Poetic Justice porque dia desses assisti o filme sobre a vida de Tupac, aquele Resurrection.
Vendo o filme com um amigo, eu me espantava com a história como se nunca tivesse ouvido nada sobre o moço. Mas me lembro também que anos atrás eu fui a um festival de cinema hip-hop e vi dois filmes sobre Tupac, um deles um documentário chamado Thug Angel que nunca mais consegui encontrar para assistir de novo, coisa de festival. Acho que apaguei da minha cabeça porque a história de Tupac, assim como de muitas outras pessoas, mexem muito comigo e eu não consigo ficar relembrando todo o tempo coisas que ouvi no filme (a cena sobre ter fome e como a música pode expressar a vontade de comer que não passa, dia a após dia, me despedaça inteira), acho que "esqueço" para não sofrer mais, para não pensar na grande parte dos jovens negros que temos em São Paulo, Salvador, New York ou Paris vivendo vidas parecidas.
Aproveito e falo do filme do 50Cent, que se não é dos melhores, recomendo também, mas por causa de algumas cenas. Acho linda a cena de quando ele está quase no fim do filme retirando os pontos da bala na boca e sua mulher fala alguma coisa sobre
quero sentir o seu corpo
Pode parecer bobo, mas gostei da cena. E a cena de sexo entre os dois também não é das piores. Gosto das cenas de quando ele toma os tiros e fazem uma montagem com o dia de seu nascimento, no momento em que ele volta a si com os eletrochoques. A verdade é que apesar de não ser um bom ator, o fato de deixá-lo calado a maior parte do tempo fez com que a gente não o ache tão ruim.
A verdade é que nem a música de Tupac Shakur nem a música de 50Cent me fascinam. Gosto de algumas coisas de Tupac e de quase nada de 50Cent. O que me encantam, na verdade, são os filmes. São as raras oportunidades que tenho para ver, na televisão e no cinema, cenas de amor, de sexo e cotidiano de famílias e pessoas negras.
Ah, e pra terminar o assunto, sim, eu também tenho fitas k-7 com músicas!
segunda-feira, outubro 10, 2011
quinta-feira, outubro 06, 2011
Interior.
Eu acho que enfim descobri porque é que sinto tanto a falta dele. Quando ele tirava fotos de mim, eu tinha certeza que ele me olhava. E eu, vaidosa que sou, adoro que me olhem. Mas não gosto de assumir isso e então, enquanto eu fazia outras coisas, ele mirava a câmera e me olhava, ali, por trás das lentes. Eu fingia que não via, mas me deliciava sabendo, adorava.
Sinto falta desse olhar apurado. Do seu olhar sem a máquina também, cheio de suspiros e uma paixão meio doída, doida. Vez em quando ainda ligo para ouvir a sua voz, todas as vezes que me sinto assim, desamparada (quase sempre?), porque a voz dele me lembra um tempo sofrido mas recheado de amor, de paixão, de vontades, desejos. Não sei explicar, mas ouço a voz dele dizendo oi e sinto-me preenchida.
Eu sei, mesmo que ele não diga, que ele gosta de mim mais do que muita coisa na vida toda. Não é presunção, eu só sei de cor (de coração).
Só não sei o que fazer com isso.
Família vende tudo.
Pior filme que assisti esse ano. Mas eu AMO Babu Santana e ele está no elenco, então, não sei o que fazer com o resto todo! O mais chato é que a ideia é bem boa. O resto todo (montagem, direção, etc) é que deixou a desejar (e eu sempre dizendo que não vou mais opinar sobre os filmes aqui).
terça-feira, outubro 04, 2011
segunda-feira, outubro 03, 2011
Só hoje.
Só hoje eu já ouvi
vou te ligar hoje de novo, negona, você não tá bem
vou ver se consigo comprar uma passagem mais barata para ir aí te ver
se precisar de alguma coisa, liga em casa e eu passo aqui pra te pegar
Quem tem amigos e amiga, tem tudo.
vou te ligar hoje de novo, negona, você não tá bem
vou ver se consigo comprar uma passagem mais barata para ir aí te ver
se precisar de alguma coisa, liga em casa e eu passo aqui pra te pegar
Quem tem amigos e amiga, tem tudo.
Algumas notas sobre o amor e palavra.
Às vezes me pergunto onde aprendi a falar tudo que sinto para todas as pessoas que posso. Minha mãe, sim, minha mãe. Lembro que a última coisa que a ouvi falando pro seu namorado, um dia em que estávamos almoçando juntas foi que
você tem que falar o que sente, pra a outra pessoa poder te ajudar, se você não faz isso, tudo fica mais difícil
Ela falou mais coisas, mas eu não me lembro. Eu fui criada nesse ambiente em que a gente podia falar o que pensava. E acho que continuo fazendo isso, porque me fortalece. Sempre que posso falar o que sinto para as pessoas, amor ou raiva, mágoa, durezas, eu acabo ficando mais bonita e mais forte. Eu acho.
Lembrei agora de um blog que li sobre uma moça apaixonada por um moço que não a queria mais. Eles haviam namorado por oito anos e acabou. Mas ela continuava ali, declarando seu amor por ele. Eu conheço o moço, meu amigo de longa data, de antes do namoro. Mas não a conheço. E fiquei meio triste de ver seu lamento ali, online para quem quisesse ouvir. Não gosto disso e assim, não vou me lamentar aqui.
Queria só lembrar do sorriso, das palavras, do vestido, dos filmes, do sono, do chá, da tosse, do cheiro, do carinho. Queria lembrar do choro, das lágrimas, do abraço. Mas sei que não vou conseguir lembrar só disso e vou lembrar dele também. Das palavras ditas, dos olhares, da tristeza. Algumas pessoas me disseram que talvez não fosse bom dizer tudo, mas eu não acho bom esse jogo do entrega um pouco e segura quase tudo, eu gosto de me desbragar de tudo que eu sinto, de amor, de amor, de todos os sentimentos, gosto de sentir. Ir a fundo, acordar chorando, ir dormir sorrindo. Oito ou oitenta, eu.
É muito bom sentir amor depois de tanto tempo. E um amor que me faz melhor, que me deixa viva. É bom falar sobre o amor, mas talvez não seja bom, pelo menos não agora, talvez não seja bom alimentá-lo. Deixa ele dormir um soninho modornento, daqueles que com um sussurrinho de nada acorda, deixa ele.
sábado, outubro 01, 2011
Kamila CDD.
Ouvia isso direto. Acho a moça linda. Mas agora tou viciada nessa:
Gosto da frase
Se for preciso perca a classe pra ser de verdade
Espetáculo Engenho K adapta obra de Kafka.
| ATUALIZADA EM: 30/09/2011 ÀS 08:27
Eduarda Uzêda
Diogo Silva | Divulgação
Espetáculo fica em cartaz na Federação
Quinto espetáculo do Grupo Via Magia de Teatro, a montagem Engenho K utiliza o texto O Processo, de Franz Kafka, para falar da realidade dos moradores do Engenho Velho da Federação, que também é repleta de cenas absurdas.
“O texto de Kafka fala de opressão, controle, confinamento, situação jurídica absurda e inexplicável. Também no Engenho Velho da Federação e entorno, os moradores sofrem com a insegurança, a desconfiança e controle, já que em algumas áreas ainda prevalece o toque de recolher”, afirma o diretor Ruy César, que também assina o texto final do espetáculo, em cartaz a partir deste sábado, 1º.
Microcosmo Ruy lembra que “a situação de coação e medo que acontece no Engenho Velho também ocorre na Faixa de Gaza, Palestina ou periferia de Londres”. Na trama baiana, Josef K. é José Karlos, funcionário de um teatro que descobre que o local está fechado e que ninguém sabe como abri-lo. Decreta-se então a prisão de todos os presentes, incluindo espectadores, sem que o motivo seja declarado.
| Serviço |
Engenho K
Local: Teatro de Pano, Rua Henriqueta Catarino, 123, Federação
Data: sáb e dom, 20h, até 27 de novembro
Ingressos: R$ 20 (inteira)
(matéria publicada no Correio da Bahia)
Microcosmo Ruy lembra que “a situação de coação e medo que acontece no Engenho Velho também ocorre na Faixa de Gaza, Palestina ou periferia de Londres”. Na trama baiana, Josef K. é José Karlos, funcionário de um teatro que descobre que o local está fechado e que ninguém sabe como abri-lo. Decreta-se então a prisão de todos os presentes, incluindo espectadores, sem que o motivo seja declarado.
| Serviço |
Engenho K
Local: Teatro de Pano, Rua Henriqueta Catarino, 123, Federação
Data: sáb e dom, 20h, até 27 de novembro
Ingressos: R$ 20 (inteira)
(matéria publicada no Correio da Bahia)
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