Bom, a verdade é que eu ultimamente tenho assumido para mim coisas que eu dificilmente assumia. Eu gosto muito dele. Não é como antes, mas é como antes esse torpor, assim, da beleza. Porque ele trouxe muita beleza para minha vida num momento em que eu estava sofrendo demais, essa marca não dá para apagar, mesmo que não tenha dado certo. Quadro a quadro, mesmo com todos os borrões do tempo, ele me ajudou a acreditar de novo. Quando eu olhava no olho e na lente da câmera pelas fotos que tirava seu amor por mim. Sim, eu sempre soube que ele me amava. Mesmo quando ele não dizia. Na verdade, eu sentia muito mais quando ele não dizia. E doía. Era um amor doido, doído. Mas estava ali, latente, eu sentia. Acho que todo esse sentimento que saía tanto dele e todo o tempo me fez querer tentar um pouco mais.
Não sei se não deu certo. Para mim, foi como suspender o tempo. Mas, para ele, eu ainda não sei. E acho que nunca vou saber, porque ele nunca diz (tudo). Eu às vezes quero que ele vomite tudo, porque acho que vai ficar ainda mais belo depois que expelir tudo de ruim (e de bom!) que pensa e sente sobre mim. Ele é isso também, essa agonia do silêncio para mim.
E ele, e ela (a agonia) me instiga. Me fustiga. Não consigo deixá-lo em paz. Ele me diz não. Eu queria dizer não também. Mas também, sem dizer não, não quer dizer que é um sim. É sempre essa suspensão da vida. Um pouco para voltar no tempo, naquele tempo, em dezembro, a foto (estática) que deu vida a tudo. Ainda a tenho pendurada perto à porta de minha casa. Ele mesmo quem pendurou. E a lixeira, o varal, as lâmpadas, tudo que me faz viver aqui nessa casa saíram das mãos dele. E ele não sabe como tudo isso muda tudo.
Quando o trem passa lá fora, eu aqui dentro estudando, ouço o barulho e lembro de outra foto. Lembro dele de novo. Minha vida, hoje, está recheada dele. Mas eu anestesiei um pouco os sentidos. Dia desses eu me olhava no espelho do banheiro e lembrei dele. Depois lembrei que o espelho também tem a mão dele ali. E o quadro, as tomadas.
Alguma luz.