Você que me lê, me ajuda a nascer.

domingo, maio 30, 2010

Boa intenção.

Sou chorona. Quando a moça do outro lado da linha disse pra mim
eu entendo sua boa intenção, mas não adianta, não posso cancelar
Meus olhos marejaram. Às vezes é assim, a nossa boa intenção não adianta nada. Depois chorei mais, pensando no quanto de coisa que eu faço e dá errado, do quanto a vida me escapa. Do quanto o controle que eu desejo nem de longe eu vou conseguir, por que a vida não tem receita. Eu quero que tudo aconteça como eu quero, sem doenças no meio, sem cara emburrada, os dias perfeitos, os finais felizes, complexo dos contos de fada. Eu quero e quero e fico mal, zangada, de cara feia quando não consigo controlar. Quando me foge.
Pior ainda quando eu descubro que para cada coisa que eu faço, existem modos diferentes de fazer, então eu fiz daquele jeito e aquele jeito não é natural, ele foi inventado, construído. E eu, que queria ser naturalmente legal, bonita, inteligente, feliz, competente, prudente, percebo que isso tudo é uma grande mentira.
Não tenho o controle de nada. Vivo me apaixonando, tendo raivas, sendo injusta, fico insatisfeita. Finjo para mim, o que é sempre pior, que tá tudo bem e tá tudo no script. Mas é uma grande mentira.
Aliás, mentira é uma das palavras que mais escrevo nesse blog. Não sei se é verdade.

quarta-feira, maio 26, 2010

Falando errado.

A mocinha de quatro anos toda empertigada virou pra mim e disse
por que você fala errado? não é gosihsta, é gosssssta
Disse pra ela que não era errado, era o jeito que eu aprendi a falar. Ela repetia, tá errado, tá errado, enfática. Me ensinou a dizer, gossssta, pediu para repetir depois dela, uma verdadeira aula de paulistês.
Eu não ensinei. Mas deixei com que ela se sentisse à vontade para falar o que pensa. É a mesma moça que me pergunta, empertigadinha de novo:
quando a gente vai isquevê?
Me deu vontade de empertigar e responder
quando você aprender a falar
A palavra escrita, numa sociedade onde só o que está escrito é que vale, é um imperativo às crianças que precisam ainda aprender a falar, dialogar, dizer o que pensa, o que sente, onde dói. Quando uma criança me diz
achei isso bonito
não gostei dessa história que você contou
ele está me provocando
professora, pede para ela não me irritar
você me machucou
não gosto quando você falta
Fico boba e tenho vontade de sair dando parabéns. Esse é um cuidado e um compromisso que devemos ter com a oralidade.

Namorinho.

Ele me tirou pra dançar. E eu apontei a moça bonita que assim como ele tinha quatro anos e estava esperando sua vez. Era a hora da saída da escola e ele me disse
não, professora, a mãe dela pode ver
Fez uma cara de sabe-como-é, como se tirar moça bonita pra dançar, mesmo com quatro anos, fosse uma encrenca braba.

Garoto Internacional.

Ele nasceu no Japão. Tem quatro anos. Pergunto para ele então, quando vem com uma camiseta escrita em japonês
É do Japão?
Ele me responde
sim, minha mãe comprou
Quando o vi com um casaco bonitão, mas sem nenhum desenho ou legenda, mandei a pergunta de novo, só pra me enturmar
É do Japão?
E ele
Não, professora, é do Paraguai mesmo

Cinema.

Um Beijo Roubado.

sábado, maio 22, 2010

quarta-feira, maio 19, 2010

Banho.

Não posso esquecer:
Manjericão
Água de cheiro
Acúcar
Por que eu estou vestida com as armas de Jorge.

Candidato a Presidente.

Por que ser professora, professor, não é tão fácil quanto aparece - abstraiam as câmeras e máquinas, coisa que ele já está acostumado.
Veja o candidato a Presidência José Serra aqui.

terça-feira, maio 18, 2010

Fechado a muitas chaves.

Aqui ele diz tudo.
Se você não consegue abrir, é por que ele não diz pra você.
Pra tu não ficar de bico - como ele, como eu - Angelique Kidjo de lambuja.

segunda-feira, maio 17, 2010

... guardado pra te dar...

Eu te amo.

Negras Barbies - 30 anos.

Veja a divulgação do evento.
Sendo no Shopping Pátio Higienópolis - que seria uma galeria, fosse em outro bairro - você se depara com as crueldades da vida - pessoas na rua disputando espaço para exercer a mendicância enquanto jovens passeiam com seus cachorrinhos bem asseados que devem ter na história de sua vida duas viagens à Europa -, então não sei se a exposição vale tanto a pena.
Vale e não vale. As Barbies lá expostas ou são "exóticas" ou são brancas pintadas de negras - quase todos os cabelos são lisos, mesmo das bonecas mais pretinhas. Uma jovem de uns 25 anos olhando as bonecas exclamou
no meu tempo não tinha isso
Na verdade, até tinha. São 30 anos de Barbie Negra, mas elas não chegaram até nós. Se nos Estados Unidos, elas só foram inventadas em 1980, anos depois dos movimentos pelos direitos civis, imagine se iriam chegar no Brasil assim, sem sangue, suor e lágrimas já em oitenta.
Uma grande perda para nós, enfim, pois, mesmo sendo magérrimas, algumas delas se assemelham muito mais à nós - principalmente as confeccionadas nesta década - do que as White Barbies (ou Barbies, como a norma da branquitude prefere chamar as bonecas "universais").
O texto para falar da Barbie Yemanjá também merece nota zero ("Os africanos vieram para o Brasil como escravos"), por que essa mentira não dá mais pra ser contada. Mas, enfim, talvez seja a primeira vez, por ir muito pouco ao shopping, vai saber, é que vi tanta criança negra num shopping como este num sábado à tarde, e elas não eram parentes do segurança nem do zelador.
Saiba mais coisas aqui.

Chloe.

Veja aqui o filme.
Não leiam as sinopses, nem veja o nome em português, vá direto no filme.

sexta-feira, maio 14, 2010

Corcovado.

Tom Jobim canta aqui assim:

Um cantinho e um violão Este amor, uma canção Pra fazer feliz a quem se ama

Muita calma pra pensar E ter tempo pra sonhar

Da janela vê-se o Corcovado O Redentor que lindo

Quero a vida sempre assim com você perto de mim Até o apagar da velha chama

E eu que era triste Descrente deste mundo Ao encontrar você eu conheci O que é felicidade, meu amor

O que é felicidade, o que é felicidade.

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Ele me cantou assim, eu acredito. Acreditei. Estou desesperançada, mas acreditei. Pelo menos nas duzentas vezes em que ouvi a música hoje. Talvez seja só a dor de cabeça e amanhã passa, amanhã vai ser tudo mentira. De novo. Mas preciso ir dormir com a ideia fixa de que ele também vê sentido na vida, no amor e na felicidade, meu amor.

Lembro que foi pela foto que entrou na minha cabeça a coisa toda. Uma foto com poucas referências, uma criança, os pés, uma rua de paralelepípedos, confiei na foto e no fotógrafo. Era coisa de conversa jogada fora, era papo cabeça no final da noite, depois viraram desabafos matinais, meio do dia, meio-dia de conversa, músicas de amor, palavras de incerteza, sorrisos, vozes.

E coisas assim. Você nem quer mais nada, mas ele existe e sorri, do outro lado, onde tem vida e alga marinha.

Só que tudo isso é uma grande loucura.

segunda-feira, maio 10, 2010

Mais um.

sexta-feira, 07 de maio de 2010
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice Belas Artes fechará se ficar sem patrocínio

Sócio do cinema em SP diz que baixará portas se não conseguir apoio até julho André Sturm conta que já procurou 20 empresas desde o final do contrato com o banco para ajudar a equilibrar as contas da sala DA REPORTAGEM LOCAL

Sem patrocínio, um cinema independente, ou seja, que não seja nem Cinemark nem UCI nem Severiano Ribeiro, consegue se manter? "Acho bem difícil. Não vou dizer que é impossível porque pode haver situações específicas, como se, por exemplo, eu não pagasse aluguel. Mas, no caso do Belas Artes, é impossível", responde André Sturm, um dos sócios da casa, cujo contrato de patrocínio do banco HSBC não foi renovado neste ano após parceria de seis anos. "Se a gente não tiver um patrocínio até julho, fecho o cinema até o final do ano", avisa. A Folha pediu que Sturm detalhasse a conta que, por artes e manhas da economia, simplesmente não fecha, mesmo que o cinema vá bem. Ele não divulga de quanto era o patrocínio do banco nem de quanto precisaria. Mas observa, em primeiro lugar, que 80% dos ingressos são meia-entrada, ou seja, o valor que entra em caixa é baixo. A matemática parece mais favorável aos cinemas multiplex, que, segundo Sturm, têm a maior parte do lucro das vendas da bombonière e da publicidade que passa na tela. "Se a gente cobrar R$ 15 pela pipoca, ninguém compra", desabafa. Há ainda detalhes estruturais. As salas multiplex costumam ter uma cabine única de projeção, com um ou dois projecionistas. Já cinemas independentes como o Belas Artes precisam de mais. "Eu tenho de ter sete [projecionistas]. Eles têm uma só entrada para todas as salas. No Belas Artes, eu preciso de seis porteiros, um para cada sala", diz. "Tenho aluguel alto, IPTU alto. Não é que o cinema vai mal. Ao contrário. Está sempre movimentado." Remanescente dos tempos em que os cinemas ficavam na rua, e não nos shoppings, o Belas Artes foi escolhido neste ano pelo Guia da Folha como o detentor da melhor programação de São Paulo. O público varia de 20 mil a 25 mil pessoas por mês e tem mais de 30 funcionários fixos. Alguns filmes chegam a ter 38 mil espectadores. "Tango de Rachevski", que estreou exclusivamente lá, fez 20 mil espectadores; "Medos Privados em Lugares Públicos" está há quase três anos em cartaz. Sturm diz já ter procurado pelo menos 20 empresas para conseguir novo patrocínio. "Algumas mostram interesse, outras não. O Belas Artes é um ativo valioso. O HSBC teve ganhos, muita gente chamava o cinema de HSBC." (ANA PAULA SOUSA E FERNANDA EZABELLA)

domingo, maio 09, 2010

se me deixar chegar perto, vai ser pior que chiclete em dia quente Disse isso e foi embora. Só isso.

Meu Oxalufã.

Nanã era considerada grande justiceira.
Qualquer problema que ocorresse, todos a procuravam para ser a
juíza das causas.
Mas sua imparcialidade era duvidosa.
Os homens temiam a justiça de Nanã, pois se dizia que Nanã só
castigava os homens e premiava as mulheres.
Nanã tinha um jardim com um quarto para eguns que eram
comandados por ela.
Se alguma mulher reclamava do marido, Nanã mandava prendê-lo.
Batia na parede chamando eguns. Os eguns assustavam e puniam
o marido.
Só depois Nanã o libertava.
Ogun foi reclamar com Ifá sobre o que ocorria.
Segundo Exu, conhecido como bisbilhoteiro, Nanã queria dizimar os
homens.
Os orixás reunidos resolveram dar um amor para Nanã, para que ela
se acalmasse e os deixassem em paz.
Os orixás enviaram Oxalufã nessa missão.
(PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. Companhia das Letras, 2001 p.198)

quinta-feira, maio 06, 2010

Hurricane Season ou sobre o racismo no cinema.

Eu fico me perguntando por que um filme como Hurricane Season não passa nos cinemas no Brasil. Filme bem-feito, com trilha sonora original, mas que foi direto para as locadoras. Assim como Mãos Talentosas, O Grande Debate, Prova de Fogo e... deixa pra lá. Tantos outros. Será por que no Brasil há um sério problemas com os filmes americanos feitos apenas por negros, para os negros e que contem história de negros? Será que é por que a indústria do cinema também é racista e no Brasil, a falsa ideia de democracia racial poderia ser abalada, se as pessoas compreendessem que sim, os negros existem, tem uma história - umas histórias - e precisam ser contadas?
Só de raiva, posto ele aqui pra você.

Biscoitinho da sorte.

Acertadamente, abri o pacotinho do biscoito que dizia
não seja uma panela de barro tentando soar como um trovão
Toma, podia dormir sem essa, papuda.

segunda-feira, maio 03, 2010

sábado, maio 01, 2010

Cheiro.

Esse é só pra dizer que eu adoro o cheiro dele.
Do cabelo dele.
Do jeito como ele dorme encolhido.
De como acorda falando sobre a segunda guerra mundial e as relações entre Brasil e China.
E depois conversa com a cachorra como se só ela o entendesse - o que em parte é verdade.
De como diz pra mim grão de bico é bom, como é o nome do peixe que faz bem pro coração?
Acho que tem dias que a gente se apaixona.
Na adolescência parece que é eterno. Aí você fica jovem e descobre que pode ser melhor, todo dia.

Pelas tabelas.

Lendo as últimas coisas que escrevi, e lendo as coisas do meio e as do começo, vejo o quanto mudou o meu jeito de escrever tudo. Se antes eu me mostrava mais, no meio eu inventava, agora, mais pro fim dos escritos, eu me escondo. Pouco falo de mim, pouco falo do que me acontece.
Escrevo mais sobre o que me aflige. O que não deixa de ser eu toda também. Por que eu também sou aflição. Sabe, eu achava que namorar não fazia tão bem assim. A gente aprende muita coisa e cria coragem para outras. Como lutar mais ainda contra o machismo.
Para não dizer que escondo tudo tudo, vou assumir que ando apaixonada pelo Bakhtin. Ele é russo e nada nada nada ocidental. Adoro.

Erikah Badu.

Quem ouviu o cd novo e ainda não é feliz, acho que posso dizer que não tem vai ter mais jeito, pelo menos não em 2010.
Vou te dar uma canja e te dar ele de presente aqui.