Mas um amor amado, sem ser caridade, sem sem benevolência ou para conquistar pedaço de céu, aquele amor que não quer nada, só quer ser e encontra espaço e vai.
Fico muito tempo sem escrever por que a fonte seca. Fim e começo de ano eu tenho poucas inspirações, as crianças estão longe de mim. Mas agora elas vão chegando tímidas e nas suas ansiedades vão me mostrando um mundo, nas suas calmarias, outras margens. Paragens.
É nessa hora que fico menos irritada e consigo acreditar nas pessoas, um pouquinho. Depois descubro que nos escaninhos da vida tem muita gente bonita e ontem eu entendi que deve ser por elas também que eu não desengonço, não desafino, não erro o passo.
Como aquele moço que não me odiou por que eu estava apaixonada por outro quando ele viajou quase dois mil quilômetros me ver. E ontem me disse eu gosto de tu.
Como aquela moça que sabe o que dizer e tem sorriso que mostra alma e que eu encontrava vez por outra aos sábados.
Como aquela senhora que me faz sentir em Salvador em plena Selva de Pedra.
É que estou ficando velha. Gosto de dizer isso. Aliás, eu digo isso desde os vinte anos. Gosto da imagem da velhice chegando, é uma mulher sábia. Com as dores e as alegrias de ficar velha. Como Nanã, por exemplo. Essa coisa de juventude como um ideal a ser perseguido. Picasso disse que leva-se muito tempo para ser jovem. Eu acredito nisso. Nanã pra mim é coisa mais linda que existe no mundo. Dentro do mundo, no fundo do mundo.
Nessa velhice, tem a coisa que querer parar para consertar o que errou. Mas agora eu também não quero mais ter responsável por tudo, pelos erros e acertos de outras pessoas. Eu quero só ficar no meu canto.
Agora dei um sorriso gostoso. E fui feliz.