Você que me lê, me ajuda a nascer.

domingo, fevereiro 28, 2010

Palavras, apenas.

Fico muito tempo sem escrever e ultimamente tenho postado muita coisa sobre a questão racial. É que o assunto me incomoda. Como me incomoda crianças na rua, pessoas que se tornam impossíveis de dialogar, desrespeito aos idosos, falta de amor.
Mas um amor amado, sem ser caridade, sem sem benevolência ou para conquistar pedaço de céu, aquele amor que não quer nada, só quer ser e encontra espaço e vai.
Fico muito tempo sem escrever por que a fonte seca. Fim e começo de ano eu tenho poucas inspirações, as crianças estão longe de mim. Mas agora elas vão chegando tímidas e nas suas ansiedades vão me mostrando um mundo, nas suas calmarias, outras margens. Paragens.
É nessa hora que fico menos irritada e consigo acreditar nas pessoas, um pouquinho. Depois descubro que nos escaninhos da vida tem muita gente bonita e ontem eu entendi que deve ser por elas também que eu não desengonço, não desafino, não erro o passo.
Como aquele moço que não me odiou por que eu estava apaixonada por outro quando ele viajou quase dois mil quilômetros me ver. E ontem me disse eu gosto de tu.
Como aquela moça que sabe o que dizer e tem sorriso que mostra alma e que eu encontrava vez por outra aos sábados.
Como aquela senhora que me faz sentir em Salvador em plena Selva de Pedra.
É que estou ficando velha. Gosto de dizer isso. Aliás, eu digo isso desde os vinte anos. Gosto da imagem da velhice chegando, é uma mulher sábia. Com as dores e as alegrias de ficar velha. Como Nanã, por exemplo. Essa coisa de juventude como um ideal a ser perseguido. Picasso disse que leva-se muito tempo para ser jovem. Eu acredito nisso. Nanã pra mim é coisa mais linda que existe no mundo. Dentro do mundo, no fundo do mundo.
Nessa velhice, tem a coisa que querer parar para consertar o que errou. Mas agora eu também não quero mais ter responsável por tudo, pelos erros e acertos de outras pessoas. Eu quero só ficar no meu canto.
Agora dei um sorriso gostoso. E fui feliz.

sábado, fevereiro 27, 2010

Dejavú.

Olhei pro lado e pensei que estava em Salvador. Fechei os olhos e vi que era de mentira.
Mas era quase ali.
Aconchego. Sorriso.
Paz, então.

terça-feira, fevereiro 23, 2010

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

Desesperança.

Quando você volta do trabalho para casa num dia em que você fica depois do horário, o ônibus quebra e você tem que andar dois quarteirões debaixo duma garoa, a última coisa que você quer é ser assediada por um imbecil que para o táxi e fica te chamando para uma carona.
Eu não quero isso nunca. Me sinto impotente diante das desigualdades, tenho vontade de gritar socorro bem alto mas tenho medo, medo de quê, medo não entendo porquê, mas tenho medos. Depois choro, por não ter conseguido dizer-lhe o quão sacripanta ele era.

Banca de revista.

Do nada senti saudades da banca de revista da Belmira Marin.
Do moço da banca, do ponto de ônibus.
Ainda sou mortal.

sexta-feira, fevereiro 19, 2010

Abridor de latas.

Toda vez que abro uma lata na frente de mais alguém entendo como é estranha essa coisa da diferença. Sou canhota e as pessoas (destras) nunca perceberam que o abridor é feito para pessoas destras. Nem eu na verdade entendia isso, e me mordia para abrir sem entender que eu não era tão ruim assim, era o abridor que não tinha sido feito pra mim.
Mas eu dou um jeito. Abro de algum jeito. É incômodo, mas continuo.
Ou abro só a metade da lata e deixo o resto sem abrir, por que o abridor não acerta, não fica justinho na mão.
Fiquei pensando nisso dia desses por que é assim com a diferença, o preconceito.
As pessoas não conseguem entender às vezes que as coisas são de outro jeito para outras pessoas, e aquelas que não conseguem usar o abridor de lata nem se tocam que o abridor não foi feito pra elas.
Quase chorei quando comprei pela primeira vez uma manga no supermercado essa semana. A manga vem com adesivo. Tá cada vez mais difícil fazer com que as crianças acreditem que existe algo além de prédios, concreto e desamor.

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Apartheid.

Uma vez eu falei em segregação racial e todo mundo se assustou.

Aviso.

Só para quem se interessa: Jair Rodrigues no Bar Brahma custa cinquentinha. Demônios da Garoa custa sessentinha. Estranho como é mais caro ouvir Demônios da Garoa - que por sinal recebeu Guiness por recorde de ser o grupo de samba há mais tempo junto (por que será, né?) -, um conjunto formados por "sambistas" brancos do que ouvir Jair Rodrigues, que deveria ser considerado lenda viva. Ou você acha que alguém iria ao Japão e acharia legal ver um grupo de argentinas vestidas de gueixas? No Brasil, é natural. E não é esquizofrenia cultural. Ih, até rimou. E olha que nem vou falar do bar, para não ficar chata.

terça-feira, fevereiro 16, 2010

O nojo.

Eu tento ficar quietinha no meu canto. Mas a verdade é que cada ano que passa eu odeio mais e mais o Carnaval. De Salvador, mais ainda. É violento, até demais. É sexista, é homofóbico. É partidário. É preconceituoso. É racista. Me dá vergonha dessas coisas que o mercado produz. E que fazem de Salvador essa cidade nojenta no Carnaval. Mas não só Salvador. É o interesse comercial acima de tudo, do lazer, da diversão. É Carnaval pra gringo ver e não pra gente brincar. Não tem mais graça. É um alerta para quem não é de Salvador e não gosta de desigualdade social: o Carnaval é o tempo mais nojento do mundo para se conhecer Salvador. Na verdade, toda a época de férias. Há uma ostentação da cidade como destino turístico, conforto, diversidade cultural. Pessoas amáveis. Exaltação da beleza da mulher negra como se ela fosse bicho exótico - e se a gente reclama, se ofendem e dizem "ainda acha que a gente tá achando exótica, pior era antes quando a gente via vocês como coisa sem alma..." Mas Salvador não é isso. Tem o nojo de pessoas como Márcio Vítor, Ivete Sangalo e Caetano Veloso. Tem criança de monte trabalhando e pedindo no farol. Tem família que teve sua casa saqueada pelo governo no Centro e fica por ali tentando sobreviver passando droga - pra turista -, realizando favores sexuais, não por que querem viver perigosamente como a filha de um magnata, mas por que simplesmente precisam comer. Comer sabe, necessidade básica de um ser humano. E de bicho também.

domingo, fevereiro 14, 2010

União estável.

Pode parecer piada
Mas acordar e ver a pia da cozinha sem louça
vazia
Pra mim é poesia.
Só desmorona e me deixa entediada
Quando na hora do café
ele não me dá bola
E ao invés de tomar suco
Abre uma garrafa de coca-cola.
Casamento.

sábado, fevereiro 13, 2010

Tony Kgoroge, meu novo amor.

Shadows.

Eu prometo a mim mesma que não vou ficar falando de cinema aqui. Não sou crítica de cinema, não ganho pra isso, mas não aguento. Vi um filme massa hoje. Eu tinha visto Febre da Selva, de Spike Lee e já tinha curtido. Fiquei imaginando o contrário - mulher negra e homem branco. John Cassavetes fez esse filme. Não do modo como eu tinha pensado, mas nem por isso menos bom. Aliás, ótimo filme de 1959. Não deixem de ver.
E vejam também Duas Senhoras.

terça-feira, fevereiro 09, 2010

Black power hair.

"Bate-cabelo" é grande arma da cantora VIVIAN WHITEMAN DA REPORTAGEM LOCAL Mais brilhantes do que os cristais e os paetês, mais sensuais do que os bodies de couro, mais selvagens do que as estampas de onça, mais abusados do que o mais escandaloso dos microvestidos, ou seja, mais importantes do que todos os looks assinados pelo estilista Thierry Mugler. Está nos cabelos a grande chave para decifrar a alquimia visual de Beyoncé. Para o show de SP, a diva-furacão mandou enrolar as madeixas, que ficaram mais vivas e hipnóticas. Vestindo o famoso body cravejado de cristais com que abre os shows da turnê "I am...", Beyoncé chicoteia o ar -a cabeleira acompanha a vibração e os movimentos frenéticos da coreografia. O dourado da roupa e da iluminação se reflete nos fios, que ganham vida própria. É o único momento do show que pode ser fotografado. De tão sexies e atrevidos, os cabelos precisam ser cobertos por um véu quando Beyoncé canta sua versão de "Ave Maria". Quando ela aparece de capa e collant brancos, resplandecente feito uma Iemanjá pop à frente do mar projetado no telão, são os cabelos que imitam o balanço das ondas. Em outra projeção, a musa interpreta um robô triste, de corpo metalizado, coisificado e, é claro, sem nenhum fiozinho na cabeça. Mas, na sequência, o robô entra numa transa de mutação com uma onça e Beyoncé reaparece, em carne, osso e top metálico, toda estampada de bicho e com o cabelão eriçado- uma força da natureza. Os cabelos da bonitona, dizem, não são totalmente naturais: parte deles seria feita de apliques de extensão. Mas, de qualquer maneira, a força da cabeleira vem das raízes, que estão lá firmes, crespas e fortes. Para fazer frente a uma juba tão poderosa que causaria inveja ao próprio Sansão, só mesmo as curvas perigosas que Deus e uma dura rotina de malhação deram à moça. Haja Deréon (grife de roupas da mãe de Beyoncé) para tão generoso derrière. Nesta turnê especificamente, Thierry Mugler resolveu bem a equação do corpo escultural da cantora num figurino luxuoso, cheio de brilho e sempre em harmonia com o conjunto da apresentação. Figurino de primeira, curvas explosivas e um "bate-cabelo" pra ninguém botar defeito. Madonna, com todo o respeito que merece, já ficou um passo atrás. E aí, Lady Gaga, vai encarar?
texto publicado no jornal Folha de São Paulo, 08.02.2010.

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Biblioteca.

Você pode não acreditar, mas todas as minhas amigas negras e amigos também que estudam nas universidades públicas e particulares desse país já foram confundidos com os funcionários das bibliotecas de suas respectivas faculdades. A história mais trágica de todas estas foi quando uma funcionária da biblioteca onde ela era usuária perguntou para uma delas quando ela havia sido contratada, achando que ela era a mais nova funcionária. Se isso não é racismo, eu não sei mais o que é. A simples ideia de que uma pessoa negra não pode fazer outra coisa além de servir parece incomodar demais. Eu vejo isso também quando vejo que a moça que fica na recepção é branca e a menina que limpa a sala é negra. Como se a moça da recepção precisasse saber muito mais coisas sobre a vida que a menina que limpa a sala. Se isso não é racismo, eu não sei mais o que é. Como eu falo com minhas amigas e amigos, a pergunta entre nós quando nos encontramos não é "você já sofreu discriminação racial?", mas sim "qual foi a última?" Quer saber qual foi a última pra mim? Chegando no trabalho, uma mocinha me perguntou se eu tava indo lá pra vaga de faxineira. Se isso não é racismo, eu não sei mais o que é.

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

Me deixa.

... que hoje eu tou de bobeira.

terça-feira, fevereiro 02, 2010

Documentário.

Eu vou estar na Olido, dia 08 de fevereiro. Mas claro.

Leia o livro.

Um dos cedês mais legais do mundo me manda ler o livro.
Universo em Desencanto.
Acho que vou visitar uma reunião Racional qualquer dia desses. Fica aqui perto de casa, dá pra ir a pé.
Na música Tim diz pra mim
leia e vai saber o que é encanto
Vou ler então. Quem saiba eu acorde num mundo onde as pessoas acreditem mais nas crianças e na educação.