Você que me lê, me ajuda a nascer.
quinta-feira, dezembro 30, 2010
Elza.
deve ser por que a gente vive muito juntinho
Algumas pessoas dizem que o certo não é mais favela, é comunidade. Mas, como diz Chris Rock no seu último show de comédia sobre quando os brancos podem dizer nigga nos EUA, aqui, eu faço uma paráfrase e digo que, não ricos não podem dizer favela. Eu arriscaria dizer que mesmo comunidade não tem encaixe. Mas Elza pode.
Gostei das imagens do documentário, que já valem a pena. Ah, e tem outra coisa. Vendo Paulinho da Viola (eu sempre me reapaixono por ele) eu fico pensando que quero casar com um moço mais pra Paulinho da Viola que pra Nei Lopes, se é que vocês me entendem. Como Paulinho da Viola consegue ter essa cara de moço sério e confiável desde que ele era novinho nem me perguntem. Depois conheci pelo documentário o violonista de Elza, João de Aquino, que me fez lembrar um ex-namorado carioca (eu sempre amei os cariocas, minha gente, confesso); João de Aquino na verdade, absolveu o moço: todo aquele jeitinho carioca dele era tudo que eu mais amava no moço e que depois foi tudo me fez odiá-lo, simples assim. Mas com João eu fui feliz, só lembrei da marra que eu gostava.
terça-feira, dezembro 28, 2010
Infância.
Dance with me,
domingo, dezembro 26, 2010
Propaganda do governo.
nós não nascemos em berço esplêndido
Contrariando o que diz o hino nacional. E depois, e mais. Linda. Não sei se me arrependo depois de um tempo de ter escrito isso, que achei linda, que me emocionei, que me arrepiei com a moça negra com um diploma na mão. É uma propaganda governamental que foi no talo, o pessoal que faz é pessoal retado. Ainda dá pra acreditar que dá pra fazer televisão, propaganda, de um jeito bonito, sem pensar só na grana, só na fama.
Que só se vê na Bahia, como a gente diz por aqui.
Uma professora minha que gosto muito fala que muita gente acha os/as baianos/as etnocêntricos/as. Mas nem é. É pura modéstia.
sábado, dezembro 25, 2010
Folhas.
Por medo de avião.
quinta-feira, dezembro 23, 2010
Delete.
Tendo passado o dia quase inteiro com duas moças que aprendi a amar, tenho que confessar: internet, só se for pra incrementar essa coisa do ao vivo, da conversa, do papo, da troca, do carinho, do olhar, do sorriso, dos gritos na avenida, conversando com o motorista, cobrador, da cerveja. Se não, prefiro nada mais.
Ainda vejo hoje uma propaganda que tem uma televisão que você fica conectado ao msn e vendo as coisas, filmes, jogo. Isso é aberração. Eu sou velha mesmo. Velha também por que adorei o que me disse uma amiga, quando falei pra ela comprar outro laptop quando o dela quebrou. Ela disse como o mundo tá, ninguém conserta mais nada, todo mundo quer coisa nova, que não tem graça nem história.
segunda-feira, dezembro 20, 2010
Parágrafos.
Ele me disse que Kiriku era legal também por que fazem as crianças perceberem que a nudez não está só relacionada ao sexo, são modos de viver, modos de ser no mundo. E isso é bom para crianças. Eu gosto quando novas pessoas falam novas coisas sobre velhas coisas. Ele me disse várias coisas, mas o que mais me disse não se pode escrever, quando passava horas me olhando e em silêncio. Não sei, mas estou bem. Incrivelmente feliz, confiante. Ele dizia isso, que eu parecia ter tanta confiança e isso exalava de mim, do meu corpo, e fazia as pessoas me desejarem também. Que eu olhava o mundo com espanto e determinação. Isso tudo meio embolado, com um dicionário na mão e um afago na outra.
A música entra pelos meus poros, minha vida. A primeira coisa que eu faço quando acordo antes de lavar o rosto é ligar o som. Passo o dia pensando no que vou ouvir. E todos os meus exnamorados me apresentaram cantores e cantoras que hoje fazem parte de mim, eu não lembro deles quando ouço essas músicas, eu fico feliz por ter conhecido. Chico, Tim Maia, Paulinho da Viola, Destiny Child, Beyoncé Knowles, Mariah Carey, tem de tudo, eu realmente acho que música é uma coisa que me orienta. Algumas músicas são memoráveis e me lembram coisas, lugares, cheiros, pessoas, sensações, livros, tempos, filmes, desejos. Com todo mundo é assim? Não, eu tive um namorado que não ouvia música. Quase nunca. E quando eu estava ouvindo, ele quase sempre se incomodava, muito. Ou com o barulho, ou com a música. Abaixava o som com a desculpa de que queria conversar. Mas eu queria ouvir música às vezes, não conversar. Minha irmã perguntou como eu trabalho ouvindo música. Mas era só um relatório que eu estava escrevendo, e ela disse que eu era crânio. Não acho. A música serve também nessas horas. Mas há horas em que é preciso calar. Gosto, na verdade, de som. Quando não há música, há o som do ventilador, das teclas do computador, o barulho da geladeira ou o trem lá fora. Mas há sempre som. O silêncio? Dos olhos dele.
Queria saber como é não ser eu. Às vezes, queria me ler não sendo eu. Só para ver a sensação. Se eu iria me achar interessante, bacaninha.
Tem uma frase de Milton Santos que eu adoro, que eu sempre lembro. No documentário que fizeram com ele, podemos ouvi-lo vociferando:
a classe média não quer direitos, quer privilégios
Com direito a bater na mesa e tudo. Mas tem outras coisas dele que eu gosto. Eu lembro que quando li o livro dele sobre globalização, aquele Por uma outra globalização, eu pirei. Por que eu nunca vi ninguém escrever ciência com tanta poesia. Ele deu um nó na minha cabeça e nunca mais eu consegui reler o livro. Por que é bom demais. Ainda não me sinto preparada para isso – reler é coisa mais difícil que ler, presta atenção no que eu digo. E olha, o moço era de Sertão de Macaúbas. Eu sempre achei que cidadezinhas formam mais e melhores cientistas, de tudo que é jeito e lugar. Vai vendo Drummond, André Rebouças e companhia limitada.
Lendo bel hooks essa semana e pirando também. Não sei nem o que dizer, tudo que ela escreveu e que me marca tanto, tanto. Não sei como ela faz isso, essa bruxaria. Esse feitiço. Senti-me melhor, senti-me atordoada. Essa coisa da concentração, do estudo, da intelectualidade, da mulher negra. Lendo o que ela escreve eu me sinto alguém que precisa ser pega pela mão, fazer caminhar. Mas me sinto acompanhada também. Eu realmente entendi muitas coisas que aconteceram comigo até hoje depois que li bel hooks. E é um entendimento que passa pelo corpo, pelo modo como eu ando na rua, falo com as pessoas, é um entender-me organicamente no mundo, descobrir espaços, flutuações, desesperos, dores, fracassos, impossibilidades, palavras, medos, silêncios. A letra escrita em itálico não dá conta de apreender a sensação desconfortável que isso provoca, mas esse detalhe sensível talvez consiga dizer alguma coisa sobre como isso mexe comigo. Algumas pessoas conseguem usar o itálico bem melhor que eu. Mas tudo bem, elas são escritoras. Ou sou eu a leitora mais boba do mundo, que vê no detalhe da letra mais uma história para contar? Divagações.
Queria poder escrever bonito, para representar bem o bem que ela me faz. E também o bem de Lizz Wright, Toni Morrison, Eni Leite, Elizandra Souza, Thais Silva, Floetic, Meggy, mainha, Erykah Badhu. Mas não é fácil. Traduzir essa sensação de cócegas no coração que eu sinto com elas é empreendimento para toda uma vida. Ou talvez, vá saber, não para essa vida.
sexta-feira, dezembro 17, 2010
quinta-feira, dezembro 16, 2010
Exu.
ela é de nanã?
também, fia, também
Ele me mandou ir lá.
Não posso dizer que não.
Por que ele sabe mais de mim do que eu quero contar.
Eu vou, então.
Saluba.
Dona da lama do fundo dos rios, a lama que moldou todos os homens. Mãe de Oxumarê e Omulu É o Orixá feminino mais velho do panteão, pelo que é altamente respeitada. Veste-se de branco e azul. Suas contas são de louça branca com riscos azuis. Traz na mão o Ibiri, seu cetro. Protege os enfermos desenganados e é patrona dos professores. Seu dia é a segunda-feira, e sua saudação é Saluba! Nanã proprietária de um cajado. A avó dos ORIXÁS também chamada de Nanã Buruku. É um VODUM da lama, dos pântanos. Tem também relações com a morte. Em certos mitos é considerada a esposa de OXALÁ e ainda mãe de OMOLU e OXUMARÉ, orixás procedentes da mesma região que ela (DAOMÉ). Dizem os mitos que antes de criar o homem do barro, Oxalá tentou criá-lo de ar, de fogo, de água, pedra e madeira, mas em todos os casos havia dificuldades. O homem de ar esvanecia; não adquiria forma. O de fogo, consumia-se, o de pedra era inflexível e assim por diante. Foi então que Nanã se ofereceu a Oxalá, para que com ela criasse os homens, impondo, contudo, a condição de que quando estes morressem fossem devolvidos a ela. Sendo o barro, Nana está sempre no principio de tudo, relacionada ao aspecto da formação das questões humanas , de um indivíduo e sua essência. Ela é relacionada também , freqüentemente, aos abismos, tomando então o caráter do inconsciente, dos atavismos humanos. Nanã tanto pode trazer riquezas como miséria. Está relacionada, ainda, ao uso das cerâmicas, momento em que o homem começa a desenvolver cultura. Seja como for, Nanã é o princípio do ser humano físico. E assim é considerada a mais velha das iabás (orixás femininos).
Dizem os mitos que nunca foi bonita. Sempre ranzinza, instável, sua aparência afastava os homens, que dela tinham medo. Nanã, teve dois filhos com Oxalá: Obaluaê e Oxumarê (a terra e o arco-íris) e uma filha, Ewá, que teria nascido de uma relação entre Nanã e Oxóssi, ou ainda, entre Nanã e Orunmilá, conforme o mito. Conforme os mitos de Obaluaê e Oxumarê, ela os gerou defeituosos, por ter quebrado uma interdição e mantido relações sexuais com Oxalá, marido de Iemanjá. Abandonou a ambos, que foram criados por outros orixás, e acabou sozinha quando Ewá, para fugir de um casamento que sua mãe lhe impingia, fugiu de casa para morar no horizonte entre o céu e o mar. Alguns mitos dizem que ela é também a mãe de Iansã, os ventos, e que foi expulsa de casa para não matar sua mãe, a lama, ressecando-a. Nanã sempre esteve em demanda com Ogum, que amava muito sua mãe Iemanjá, tomando partido desta na disputa que se estabeleceu entre elas pelo amor de Oxalá. Ogum muitas vezes tentou se apoderar dos territórios lamacentos de Nanã sem, no entanto, conseguir. Como diversão, Ogum gostava de provocar a orixá, que exigia de Oxalá que este fosse castigado, sem nunca ter conseguido, pois Ogum tinha fama de justo. Tantas vezes Ogum irritou Nanã que ela não recebe nenhuma oferenda feita ou cortada com objetos de metal e mesmo o sacrifício de animais feito em sua homenagem deve ser feito com faca de madeira ou coberta por um pano.
Lenda: Nanã era rainha de um povo e tinha poder sobre os mortos. Para roubar esse poder, Oxalá casou com ela, mas não ligava para a mulher. Então, Nanã fez um feitiço para ter um filho. Tudo aconteceu como ela queria mas, por causa do feitiço, o filho (Omolu ) nasceu todo deformado; horrorizada, Nanã jogou-o no mar para que morresse. Como castigo pela crueldade, quando Nanã engravidou de novo, Orunmilá disse que o filho seria lindo mas se afastaria dela para correr mundo. E nasceu Oxumaré, que durante 6 meses vive no céu como o arco-íris, e nos outros 6 é uma cobra que se arrasta no chão.
Na aldeia chefiada por Nanã, quando alguém cometia um crime, era amarrado a uma árvore e então Nanã chamava os Éguns para assustá-lo. Ambicionando esse poder, Oxalá foi visitar Nanã e deu-lhe uma poção que fez com que ela se apaixonasse por ele. Nanã dividiu o reino com ele, mas proibiu sua entrada no Jardim dos Éguns. Mas Oxalá espionou-a e aprendeu o ritual de invocação dos mortos. Depois, disfarçando-se de mulher com as roupas de Nanã, foi ao jardim e ordenou aos Éguns que obedecessem "ao homem que vivia com ela "( ele mesmo). Quando Nanã descobriu o golpe, quis reagir mas, como estava apaixonada, acabou aceitando deixar o poder com o marido.
Certa vez, os Orixás se reuniram e começaram a discutir qual deles seria o mais importante. A maioria apontava Ogum, considerando que ele é o Orixá do ferro, que deu à humanidade o conhecimento sobre o preparo e uso das armas de guerra, dos instrumentos para agricultura, caça e pesca, e das facas para uso doméstico e ritual. Somente Nanã discordou e, para provar que Ogum não é tão importante assim, torceu com as próprias mãos os animais destinados ao sacrifício em seu ritual. É por isso que os sacrifícios para Nanã não podem ser feitos com instrumentos de metal.
Mais aqui.
terça-feira, dezembro 14, 2010
Dor pungente,
Mas ainda não cansei.
Saudade Mata a Gente.
Meu amor foi comigo morar
E nas redes nas noites de frio
Meu bem me abraçava pra me agasalhar
Mas agora, meu Deus, vou-me embora (ela canta, Mas agora meu bem foi-se embora)
Vou-me embora e não sei se vou voltar (foi-se embora e não sei se vai voltar)
A saudade nas noites de frio
Em meu peito vazio virá se aninhar
A saudade mata a gente, morena.
A saudade é dor pungente, morena.
A saudade mata a gente.
Ói, veja aqui, ói.
segunda-feira, dezembro 13, 2010
Colo.
Ou então ouvir coisas como
gosto dos seus olhos
você me faz bem
é sempre bom estar com você
Para esquecer de minhas rabugentices.
No caminho do bem.
(...)
Eu gosto de você.
Mesmo agora, ainda parece de mentira.
Não quero dinheiro, eu só quero amar.
domingo, dezembro 12, 2010
Akhenaton e Nefertiti.
Tomare.
Akhenaton e Nefertiti
Cozinha.
Amiga.
Nossas definições de paixão não são as mesmas, literalmente.
Mas acho que ela sabe mais de mim do que eu, às vezes. Por que é ela quem ouve tudo.
Carmim.
sábado, dezembro 11, 2010
Mensagem.
Isso no tempo do minuto.
Eu confesso,
I'm Confessin'
Lizz Wright
Tell me do you love me too?
I'm confessing that I need you
Honest I do
I need you every moment
But your lips deny they're true
Will your answer really change things
Making me blue
Saying can we still be friends
If you go, you know you'll grieve me
All in life, on you depends
Dreamin' dreams of you in vain
I'm confessing that I love you
Over and over again
Tell me do you love me too?
I'm confessing that I need you
Honest I do
Oh oh oh
Honest I do
Oh oh oh
I really do
sexta-feira, dezembro 10, 2010
Por ela.
Ela fala pra eu acordar e ir comprar pão e me diz que a padaria é logo ali.
Ela é preta como eu e sabe que eu não iria se a padaria fosse na outra quadra. Então ela fala de um jeito como se fosse ali.
Depois que eu volto eu sei que ela me enganou.
Ela tá rindo na cozinha quando eu xingo lá do portão. Ela ri e tudo nela ri, da minha cara e da andada que eu dei acreditando nela.
Falta,
Talvez eu não possa.
Talvez eu não queira.
Mas eu estou bem, se querem mesmo saber.
Descobertas.
Acontecem tantas coisas entre tomar um ônibus em Osasco e chegar no Grajaú e eu duvido que eu possa ficar melhor do que eu estou agora. A minha vida sempre foi andarilha, cigana. E isso tá em mim, no meu corpo, no jeito que eu amo, em como eu deixo me amarem.
Fico pensando sobre mim, no que invento, no que sou e no que deixo conhecerem. No que escondo. Penso muito sobre mim e descubro, quando acontece algo fora do script, que eu não saberia até acontecer, que eu nunca sei todas as respostas.
Alguém pode dizer que todo mundo sabe dessas coisas, mas escrever, pensar, escrever de novo, conversar, mandar email para amigos, conversar, pensar, tudo isso me faz melhor, eu acho assim. Tem gente que me acha racional demais, outras bobona. Eu acho tudo isso de mim e acho mais, acho que tem coisa que ninguém sabe, nem eu.
As crianças falam a língua dos anjos, e outras pessoas falam outras línguas. A gente tem que exercitar a convivência nesses entendimentos, a gente tem que estar junto, grudado, suado, na lida, para aprender e desaprender, para viver e não ter controle, para controlar e depois se arrepender, para errar, para acertar, para viver, e só isso, que já é tudo, que já é muito, enfim.
quinta-feira, dezembro 09, 2010
Passado.
Linda.
quarta-feira, dezembro 08, 2010
Todos os dias, na frente do espelho.
SuperWoman, por Alicia Keys.
I'm a Superwoman.
Limites.
Carinho.
Amizades.
terça-feira, dezembro 07, 2010
Floresta Azul.
Amor racional.
domingo, dezembro 05, 2010
If was a bird, Floetic.
Dor e delicia.
sexta-feira, dezembro 03, 2010
quarta-feira, dezembro 01, 2010
Engraçado.
Chorona.
terça-feira, novembro 30, 2010
Tem.
sábado, novembro 27, 2010
Eles.
quinta-feira, novembro 25, 2010
Bendengó.
domingo, novembro 21, 2010
Coisa de nego.
sexta-feira, novembro 19, 2010
Verdade.
quinta-feira, novembro 18, 2010
quarta-feira, novembro 17, 2010
Eu queria...
terça-feira, novembro 16, 2010
Permissão Negada.
Eu preferia encher de palavras tua loucura e também te deixar viver serenamente dentro da tua alma (e corpo) escura, mas me parece que querer abraçar o mundo com as pernas é mesmo impossível. A gente se acostumou a “ou um ou outro”, e não tudo junto, e quando a vida nos dá a impressão de que é possível mais de um, a gente se assusta e vai embora.
Eu mesma já fui embora muitas vezes. Essa é só mais uma.
Mas a agonia no coração não vai embora junto comigo. Ela quer saltar pra fora e gritar mais coisas, mais coisas do que já gritou, quer sacudir o mundo com todo mundo dentro pra acordar, ou só pra fazer barulho, sei lá. Só sei que ela não vai embora e eu engano o tempo.
Respiro fundo e espero o tempo passar. Só ele mesmo, vai me aturar.
domingo, novembro 14, 2010
Confessando 30 coisas.
24.
25.
26.
27.
28.
29.
30. Eu sinceramente não lembrei de nada para postar. Então, se tiverem uma pergunta específica, pode mandar bala.
sábado, novembro 13, 2010
Vazio.
Brasil 2011: Estado festejará Ano Internacional dos Afrodescendentes distribuindo livro racista nas escolas
Texto de Eliane Cavalleiro, presidenta da ABPN.
A sociedade competitiva e os preconceitos geram uma violência que deve ser combatida pela escola. Ensinar a viver juntos é fundamental, conhecendo antes a si mesmo para depois conhecer e respeitar o outro na sua diversidade. A melhor maneira de resolver os conflitos é proporcionar formas de buscar projetos e objetivos em comum, através da cooperação, pois assim ao invés de confrontar forças opostas, soma-se a diversidade para fortalecer as construções coletivas (Jacques Delors, UNESCO, MEC, Cortez Editora, São Paulo, 1999).
De acordo com Delors, a transmissão de conhecimento sobre a diversidade humana, bem como a tomada de consciência das semelhanças e da interdependência entre todos os seres humanos do planeta constituem fundamentos da educação. Entretanto, às vésperas do Ano Internacional dos Afrodescendentes, o Ministério da Educação do Brasil rejeita consideração do Conselho Nacional de Educação, que atento às Leis que regem a Educação Nacional, pondera sobre a distribuição do livro de literatura infantil Caçadas de Pedrinho[1], de Monteiro Lobato, que, originalmente publicado no ano de 1933, difunde visão estereotipada sobre o negro e o universo africano, apresentando personagens negras subservientes, pouco inteligentes, até mesmo aludindo a animais como o macaco e o urubu quando se referem à personagem negra, como no trecho: trechos da obra dizem: "Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou, que nem uma macaca de carvão".
Os movimentos sociais negros há tempos reivindicam ação substantiva por parte do Estado brasileiro em políticas públicas para a educação das relações étnico-raciais. Os movimentos sociais brancos e a elite, por sua vez, recusam toda e qualquer medida que visa combater o racismo e seus derivados na sociedade brasileira. Por sua vez, identificam-se setores progressistas da sociedade que lutam pelos direitos humanos, direitos das mulheres, gays e indígenas, mas que infelizmente se calam diante da luta antirracista.
Na questão em debate, de maneira previsível, debocham da pesquisadora e professora universitária e conselheira do CNE Nilma Lino Gomes, responsável maior pelo parecer, que possui formação intelectual que não fica atrás de nossa elite branca, uma vez que possui doutorado pela Universidade de São Paulo e Pós-Doutorado na Universidade de Coimbra, sob orientação de um dos maiores nomes da intelectualidade atual, a saber, Boaventura de Sousa Santos é. Mesmo com esse histórico intelectual, ela tem sido vista pelos racistas de plantão como incompetente e racista ao inverso. Isso somente reforça a obsessão pela continuidade da estrutura racista em nossa sociedade. Sobre o autor, Monteiro Lobato, nascido no século XIX, eugenista convicto, diz-se apenas ser uma referencia clássica. Certamente uma clássica escolha da elite nacional, que do alto de sua arrogância e prepotência acredita que seus eleitos sejam intocáveis e não passíveis de qualquer crítica e consideração.
O MEC tem o dever de combater qualquer tipo de situação discriminatória para qualquer grupo racial. Assim, o que deve ganhar nossa atenção nessa contenda é o fato de que mesmo o edital do PNBE/2010, estabelecido pelo MEC/FNDE, ter traçado como objetivo a “Observância de princípios éticos necessários à construção da cidadania e ao convívio social republicano” e ter estabelecido, conforme anexo III do referido edital, que “Serão excluídas as obras que: 1.3.1. veicularem estereótipos e preconceitos de condição social, regional, étnico- racial, de gênero, de orientação sexual, de idade”, temos um ministro que defende a distribuição irrestrita do livro por compreendê-lo como adequado para a educação de crianças em pleno processo de socialização.
Considerando que os doutos e doutas que administram o MEC leram Jaques Delors, Paulo Freire, Edgar Morin e tantos outros que adoram citar, não se pode alegar ingenuidade por parte da equipe diretiva do MEC, que aceitou parecer favorável à compra e à distribuição desse livro nas escolas públicas, cujo conteúdo fere o próprio edital por eles instituído. O que deve tomar o centro dessa discussão é o fato de o MEC anunciar uma política que vai ao encontro do disposto nas leis e também das reivindicações dos movimentos negros organizados, em nível nacional e internacional, mas na prática permitir o descumprimento de seu edital.
Ao ferir o edital, o próprio MEC abre precedente para que que as editoras, cujas obras tenham sido excluídas por veicularem estereótipos, reivindiquem também a distribuição dos livros excluídos. Por que somente Lobato com estereótipo racial? Que tal o MEC também distribuir literatura sexista? Que tal textos com manifestaçõesanti-semitas? Será que assim a sociedade se incomodaria?
Mas, por enquanto, mais uma vez magistralmente setores conservadores e/ou tranquilos com as consequências da discriminação racial nesta sociedade buscam inverter a discussão, de modo a que o maior problema passe a ser o tal “o racismo ao revés e a radicalidade dos movimentos negros”, e joga-se para debaixo do tapete o que deveria ser o centro da análise: o esfacelamento dos objetivos de combater a disseminação de estereótipos e preconceitos na política do PNBE, MEC.
Em 2010, além de não percebermos o fortalecimento da política, tampouco a retomada das publicações e uma consistente e sistemática formação de professores, flagramos o MEC permitindo a participação de livro cujo conteúdo veicula estereótipos e preconceitos contra o negro e o universo africano, constituindo assim flagrante inobservância das normas estabelecidas.
O atual presidente Lula, em seu começo de mandato, evidenciou, no campo da educação, a importância do combate ao racismo, promulgando a Lei 10.639/03, que, como já mencionado, alterou a LDB, tornando obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileiras na Educação Básica. Tal alteração contou com a pronta atenção do CNE, que, sob responsabilidade da conselheira Petronilha Beatriz Goncalves e Silva, elaborou as Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensino das Relações Étnico-Raciais e de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (CNE/CP 3/2004), cuja homologação foi assinada pelo então ministro da Educação, Tarso Genro. Contudo, embora conte com 83% de aprovação por parte da população e tenha ao longo de seu mandato visitado várias vezes o continente africano e discursado eloquentemente sobre a necessidade de reconhecimento do valor dos afrodescendentes na formação de nosso Estado Nacional, ele encerra seu mandato permitindo um declínio acentuado na elaboração e na implementação de políticas anti-racistas no campo da educação.
Se em 2003 podíamos reconhecer, ainda que timidamente, o fato de o combate ao racismo fazer parte da agenda política brasileira; em 2010, devemos denunciar o descompromisso com essa luta. Descompromisso que pode ser percebido pela redução acentuada do orçamento para a educação das relações raciais, pelo enxugamento da equipe de trabalho da Coordenação Geral de Diversidade e Inclusão Educacional/SECAD/MEC, responsável pela implementação das ações de diversidade étnico-racial. Ainda vale ressaltar que houve a retirada do portal de diversidade da rede do MEC; a interrupção de publicações sobre o tema para a formação de profissionais da educação, pelo frágil apoio que das secretarias de educação para o cumprimento do proposto no parecer CNE/CP 3/2004. Essas constituem algumas referências negativas, entre várias outras apontadas pelos estudos sobre o tema.
Nós negros, cidadãs e cidadãos, que trabalhamos duramente longos anos para a eleição do presidente Lula esperávamos mais. Esperávamos mais tanto do presidente quanto da sua equipe executiva que administra a educação brasileira. Esperávamos minimamente que ao longo desses anos a equipe tivesse compreendido o alcance e o impacto do racismo em nossa sociedade. Esperávamos que eles, respeitando os princípios de justiça social, independentemente dos grupos no poder, emitissem manifestações veementes pelo combate ao racismo na educação. Pelo visto as promessas de parcerias e acolhimento das nossas considerações eram falsas.
O que temos como resposta, para além do silêncio de toda Secretaria de Educação, Alfabetização e Diversidade, é o posicionamento por parte do ministro, que não vê racismo na obra, colocando-se favorável à sua distribuição irrestrita, que, em companhia de outros elementos no cotidiano escolar, sabemos, contribuirá para a formação de novos indivíduos racistas, como já se fez no passado. Sem dúvida, o discurso do ministro mostra-se engajado com sua própria raça, classe e gênero. O mais irônico é saber que em pleno século XXI o Brasil será visto como um país que avança na economia e retrocede nos direitos humanos da população negra.
Muitos admiram Monteiro Lobato. Eu admiro Luiz Gama que se valeu das páginas da imprensa em defesa da liberdade dos escravizados e disse, sintetizando nossa ainda atual resistência cotidiana: “Em verdade vos digo aqui, afrontando a lei, que todo o escravo que assassina o seu senhor, pratica um ato de legítima defesa”. O conhecimento é a arma que dispomos para lutar pela defesa de nossa história, nossa existência, bem como do futuro de nossos filhos e filhas. Essa é uma luta desigual, portanto desonesta. Mas ainda que muitos queiram nosso silêncio, seguiremos lutando e denunciando essa forma perversa de racismo que perdura na sociedade brasileira.
[1] Tal obra foi selecionada pelo Programa Nacional Biblioteca na Escola/2010, que objetiva a “seleção de obras de apoio pedagógico destinadas a subsidiar teórica e metodologicamente os docentes no desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem nos respectivos campos disciplinares, áreas do conhecimento e etapas/modalidades da educação básica” (Brasil. Edital PNBE 2010. Brasília: MEC/FNDE, 2010).
[2] Agência Brasil. Pesquisadora aponta retrocesso na política de combate ao racismo nas escolas. Disponível em: http://verdesmares.globo.com/v3/canais/noticias.asp?codigo=216721&modulo=450. Acessado em: novembro de 2010.