Você que me lê, me ajuda a nascer.

segunda-feira, outubro 29, 2007

Leminsky e eu.

Pro dia terminar bem.

Eu ia escrever ontem, mas me reservei o direito de ontem só ficar lembrando de tudo que foi bom e que aconteceu só comigo nesse fim de semana. Por que ninguém mais se divertiu tanto quanto eu, ninguém mais sorriu mais do que eu, ninguém mais sabe o que é sentir-se especial do que eu. Ah, eu sou esnobe. Mas com um vestidinho lilás curto e sapatinho boneca, eu sou mais eu. Você também seria, se tivesse as minhas pernas. E o sorriso dele. Teve até anel, que só cabe no meu dedo, depois de tanto peregrinar em dedos alheios, não lhe cabia, e eu não coube aqui de felicidade, acordar e tomar café com alguém que te promete pegar o lixo depois que você varre o quarto é mais do que bom, é fantasia na realidade. E de novo não é pra sempre, mesmo que eu quisesse. E eu queria. Ou quero? Sei não, mas quer saber? Você que me lê já sabe, eu nem te ligo. Vou aproveitar o dia, carpediando por aí. Pra vê-lo de novo, sorrindo todo o sorriso do mundo. Pra que ele acredite que sim, eu sou a mulher mais feliz do mundo, e queira dormir de novo no meu abraço, só por que foi bom e tudo bem assim. Eu gosto. E é só por hoje.

quarta-feira, outubro 24, 2007

Boca do sapo.

Quanto mais o tempo passa, mais eu não acredito. Continuo viva. Sem mais nada, só coragem e luta. Nem mandiga eu tenho tempo de fazer. Como diz um provérbio de Tzangara, povoado africano: Saudade de um tempo? Tenho saudade de haver tempo. Do nada eu fico me lembrando. Do nada eu choro. Mas continuo viva, agora viva duas vezes e mais do que nunca cheia de forças, por que preciso, não que eu só queira, eu preciso continuar, tenho vários sentidos pulsando e só um por viver, por isso vale todo o sacrifício do mundo, o sacrifício vira prazer para ver um só sorriso despontar, brilha tudo e aquece coração.

terça-feira, outubro 23, 2007

Sobre meu irmão.

Muita gente já sabe que o meu irmãozinho de 20 anos morreu. É, assim, do nada, foi embora. Pá-pum, e eu chorando, chorando. Segurei a mão de mainha, não queria que ela chorasse, mas não teve jeito, a gente chorou junto. Disse pra ela que não ia mais voltar, ela não deixou, filha dela não faz isso, filha dela termina o que começou. Então voltei, querendo ficar, querendo sumir, querendo me esconder. Na semana em que fiquei lá, perto de todas as coisas dele, dormindo na cama que era dele, descobri o quanto éramos parecidos, ele com as anotações do que iria fazer e das suas economias, assim como eu sou obssessiva com poupança, com contas e dívidas. Ele, assim como eu, tinha mais livros, revistas, cd's e dvd's do que roupa. Remexendo nas coisas dele, encontrei minhas cartas, as cartas que eu sempre mandava, sem resposta, mas que eu sabia que ele guardava todas, todos os recortes que eu mandava, sobre algum cd' novo, sobre algum jogo de videogame, pra saber se ele queria, suspirei para não chorar, foi bem na hora que mainha veio me perguntar se eu queria almoço, as coisas dele ainda como ele tinha deixado antes de ir de vez, era um menino tão calado que não enchia o saco nem pra ouvir música, se queria escutar metal nas alturas, punha um fone no ouvido e ninguém no mundo sabia o que ele estava fazendo ali quieto, no canto dele. Diferente de mim, não queria muito da vida. Não cobrava roupa de etiqueta, tênis de grife, viagem no Natal. E sem querer me fazendo ver o quanto eu corria e fugia, me fazia perceber que no final das contas, a gente chegava junto, no mesmo horário, pra ver o sol se pôr, a pressa não iria me fazer mais feliz nem mais sábia, no seu jeito tranquilo era mais feliz e sossegado do que muita gente, não tinha contas a prestar nem a pagar. Foi e deixou um buraco enorme na minha vida, por mais calado e tímido que fosse, estava aqui e eu sabia que ele existia, não fazer mal pra ninguém é melhor do que fazer, e amá-lo era um exercício de desapego, pra aprender que amor é coisa que se dá sem esperar nada em troca, não é prometer uma bicicleta nova se ele passasse de ano, ele nunca caía nessa. Numa das poucas fotos que temos juntos, estamos num carro, ele vai guiando e eu louca no banco do carona sorrindo pra câmera, ele lá olhando pra frente me conduzindo, ele tinha 20 anos e parecia ter nele toda a paz do mundo, como se já tivesse encontrado o que me faltava assim tão novo, assim tão na dele. Choro hoje mas feliz lembro de todas as vezes em que disse te amo, em que tentei em vão abraçá-lo, ele era enorme e não cabia no meu abraço, fugia de vergonha e sempre me falava pára com isso, pára. Acordei noite passada ouvindo sua voz por que só ele era tão durão e me chamava por um diminutivo tão doce, e eu penso que eu não vou conseguir mais viver um só segundo tendo a certeza de que não vou mais ouvir aquela voz me chamando, mas então durmo mais um pouco e acordo tendo a certeza de que sou mais feliz do que muita gente, por que o conheci, e por vinte anos tive o enorme prazer de tê-lo perto. Coisa que muita gente nesse mundão não vai mais poder ter. E da última vez que o vi, pedi pra dormir com ele na cama de casal que ele tinha roubado da minha mãe, ele meio sem jeito não queria, até que minha mãe pediu e ele deixou, eu toda boba no meio da noite mudava de posição só pra ver que ele tava ali do lado, dormindo junto comigo, sono pesado. E quando eu cheguei lá dessa vez, fui dormir na cama dele, no lugar que era dele, com o cheiro dele, mas foi tão estranho: o abraço que eu sempre pedia quando eu chegava e quando ia embora, e que ele sempre sem jeito me dava, naquele dia eu senti aquele abraço, mas um abraço com todos os jeitos, eu me senti dormindo no colo dele, me vi dormindo no colo dele, que também dormia, flutuando junto comigo, castelo de sonhos. Não vai ser fácil deixar de chorar, vai ser impossível esquecer.

quinta-feira, outubro 04, 2007

quarta-feira, outubro 03, 2007

La vache: description La Vache Est Un Animal Qui A Environ Quatre Pattes Qui Descendent Jusqu' À terre. Só eu tenho um livros de poesias sobre todos os bichos do mundo em francês. Aha. Mas sabe o que é? A Prefeitura de São Paulo divulga que vai melhorar as linhas de transporte da zona sul, retirando os ônibus dos bairros e realocando-os nos terminais. Isso é bom? Não é, a gente fica com opção de ou ir para o terminal ou ir para o terminal. Como quando daquela vez que falei que as crianças tinham que aprender a ler para tomar o ônibus certo, piada velha, no que uma me respondeu, cara mais lisa: Pra quê, aqui só passa Terminal Varginha Durmam com um barulho desse. E dizem que é por que tem assalto demais nas linhas desses bairros. E é assim que se resolve, confinando as pessoas, retirando delas o direito de ir e vir (sim, resolve, como disse da outra vez, matemos os nossos irmãos nas perifas e saiamos do centro, não entenderam que eles querem revitalizar o centro e isso significa nada de pobre circulando por lá?) Tá vendo por que eu tenho livro com poesia de bicho traduzido pro francês? Senão eu piro. Pouca realidade é bobagem.

terça-feira, outubro 02, 2007

nunca te respondi, pois achei que não devia. Nosso encontro foi curioso e divertido. Gostei mesmo. Seu jeito extrovertido e sincero é encantor. Entretanto, existem coisas encantadoras que perdem sua luz após uma noite de sono. Não que você seja uma pessoa desinteressante (em todos os sentidos), ao contrário, porém, creio que não possuímos pontos em comum que façam que marquemos um outro encontro. Desculpe a franqueza, mas não temos nada há ver um com o outro. Não é frieza paulista, é só uma constatação importante. Espero que você seja feliz! Creia em mim, existem paulistas que são legais. Abraço. Tirem as conclusões que quiserem, foi só o que ele disse. _____________________________________________________________________________________ Ah, fessôra, minha mãe vai me mudar de escola Por quê? Por que aqui nessa outra dá leite Num escreve bilhete pra minha mãe não Por quê? Ela me bate de mangueira Meu padrasto num gosta da minha mãe Por quê? Por que ele bate nela, na frente da gente Eu não li, eu não assisti, eu sou a nêga drama, eu vivo a nêga dramaa, diria o Brown. Depois não querem que que eu chore, chore de soluçar, escondendo o rosto na toalha, depois de uma ducha, imaginando o que estará acontecendo na casa dessas crianças, na hora que eu chego em casa, almoço, leio livros e vejo filmes.

segunda-feira, outubro 01, 2007

Sólidão, que nada.

Ouvindo músicas que funcionam como campainhas de memória. Meu corpo tem memória também, ele responde a tudo isso de um jeito estranho e inconveniente. Se por um lado me sinto só e desesperançada (quando será que terei um homem para chamar de meu?), por um outro lado afasto qualquer possibilidade de felicidade a dois. Quando é perfeito demais, caso desse caso bem do acaso que me apareceu começo de ano, eu nem te ligo. A gente simplesmente não brigava. Fizemos caminhada, líamos livros, comentávamos filmes, dormíamos e acordávamos sem sentir chateação, parecia meu, parecia tão simples estar ali, mas eu nem tchun pra ele, passou. E mais um outro, agora que me lembro assim, também era tão-tão suave, que começo a pensar que só quero algum amor que me deixe sem graça, sem chão, amor ameno é morno e é maldade passar o resto da vida zen de tudo do lado de alguém. Mas chegou um outro, esse todo bagunçado, e desse eu gosto, meu coração suspira. Por que ele me desconcerta, fala coisas que eu não quero ouvir, me cutuca. Sou eu a menina mais estranha do mundo? Que nada, sou comum demais, por isso me protejo do que conheço. Sei que vou me esborrachar, quero só tomar cuidado pra não doer o bumbum. Algum cuidado é sempre bom.