Não é a primeira vez esse ano que ouço histórias de mulheres bem-sucedidas que se envolvem em relacionamentos doentios, graves, agressivos. Como se aquilo servisse pra colocar um freio no seu sucesso, para lhe dizer que ela continua sendo apenas uma mulher. Apenas.
Explico então: mulher bem-sucedida? Aquela que tem um bom emprego, uma estabilidade, estuda, viaja, fala duas línguas, conhece gente, sai pra dançar, essas coisas. Aí arruma um cara que tem sérios problemas de comportamento, é arredio, desesperançoso, ou desempregado, daqueles sonhadores que imaginam que o melhor emprego vai cair do céu qualquer dia desses... e elas continuam ali, fiéis, pagando a conta do restaurante fino, calando quando descobre que ele a traiu com a ex-namorada, essas coisas.
E por quê? A troco de quê? Eu também me pergunto, e fico imaginando que esse troço é antes de tudo, uma forma de manter o bom andamento das coisas. Você finge que manda, amor, e eu finjo que acredito. Como aquelas coisas que a gente ouve em banheiro de mulher, que é a gente que manda, mas eles não podem saber, ou então que a gente sabe que eles têm que gostar mais da gente que a gente deles. Bobagem, mas repetida várias vezes pega gosto e vira uma verdade universal.
Por que procurar sarna pra se coçar? A gente precisa de alguém pra pôr rédeas, pra nos trazer à "realidade" que é, sou mulher, eu posso ser muito boa nisso e naquilo, mas sim, eu preciso de um homem me falando que eu não consigo, ou que sou materialista demais, ou que tenha crises de depressão e me pergunte todos os dias o que estou fazendo com um cara como ele, pra me trazer de volta, pra que eu não acabe acreditando que sou suficiente. Eu me basto?
Sim, nós mulheres, nos bastamos. Podemos nos virar sozinhas. Temos filhos feitos com inseminação artificial, ou com o carinha que nos fez apaixonar por alguns meses, sem que ele nem mesmo saiba, se esse for o desejo. Difícil ser homem hoje em dia, ser descartável. Substituível. A única arma masculina reside justamente no modo como nós, mulheres percebemos a realidade, e se ele detém os modos para manobrá-la, feito. É sabido por aí que nós damos muito mais valor às conexões intrincadas de relacionamentos, ao cuidado com o outro, à atenção e desvelo, apego e sentimento que as relações podem comportar, então... então... não, não estou aqui dizendo que nada disso é de modo racional e consciente. Apenas defendo que sim, é verdade que mulheres e homens sentem a realidade de modo diferente, e é isso que define de que modo as relações, sejam elas doentias ou não, caminham...
Que jogo, que partida. Essa teia das relações humanas é mesmo um negócio fascinante...
Mas também fica chato falar disso em blog. Depois de tudo isso, lembrei-me de uma velha frase que minha avó sempre diz:
"Antes só, minha filha, do que malacompanhado."